Brasil e Itália perfilados no gramado do Estádio Azteca, na Cidade do México, na final de 1970
A carência por futebol, principalmente de alta qualidade, tem feito com que as reprises de partidas históricas obtenham ótimos índices de audiência. E todos nós temos lembranças daquele jogo específico e do momento que vivíamos em nossa vida pessoal e ou profissional, e o que ocorria no mundo naqueles tempos. Os 50 anos da conquista da Copa do Mundo pelo Brasil sobre a Itália, ontem, mexeu com o imaginário geral.
Eu tinha oito anos de idade e me lembro do tanto de gente na casa do meu pai, em frente à recém-comprada TV Philips, modelo parecido com este dessa foto. Foi comprada na Casa Hércules, em Pedro Leopoldo. Fui lá com meu querido e hoje saudosíssimo pai, Vicente. Morávamos no Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuíria do do Centro-Oeste – IPEACO, hoje EMBRAPA, entre Prudente de Morais e Sete Lagoas, na Estação Experimental, conhecida como “Campo de Algodão”.
Muitos anos depois, mais precisamente em 1993, tive a honra de trabalhar e conviver diariamente com um dos grandes nomes daquela seleção de 1970, Tostão, que se tornara companheiro de bancada no Minas Esporte, na TV Bandeirantes. Trabalhamos juntos também, na mesma época, na Rádio Alvorada FM. De vez em quando, o até hoje diretor da Alvorada, Francisco Bessa, nos “intimava” para uns “chás com torradas”, num dos ótimos bares da Av. Raja Gabaglia, no alto da Afonso Pena ou na Savassi, perto da casa do Tostão. Ele contava histórias geniais, muitas delas publicadas no primeiro livro que escreveu, em 1997, “Lembranças, Opiniões, Reflexões Sobre Futebol”.
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O jornalista Fernando Rocha escreveu na coluna dele, no Diário do Aço, de Ipatinga, lembranças interessantes daquele anos de 1970, e ele, também criança, assistindo esta seleção fantástica na Copa do México em 1970. Confira:
* “Meio século”
O Brasil comemorou no último domingo, o cinquentenário do tricampeonato mundial, conquistado em 1970 pela nossa seleção no México.
Quem por obra e graça de Deus teve o privilégio de existir naquela época, – no meu caso tinha 10 anos de idade -, viveu um momento muito especial, ao relembrar os momentos da conquista épica do time, que possuía uma constelação de craques, a começar pelo “Rei” Pelé, seguido por Tostão, Jairzinho, Gerson, Rivelino, o capitão Carlos Alberto, alguns reservas de luxo como Paulo Cesar Caju, além de alguns medianos e outros menos votados.
Como escreveu em sua coluna de domingo na “Folha” o ex-craque Tostão, a seleção de 70 “foi um grande time, mas não era perfeito. A perfeição só existe em nossa imaginação”.
Concordo com o Tostão, sobretudo pelas deficiências na parte defensiva, mas aquele time conseguiu alcançar um equilíbrio tático de tal forma, que permitiu aflorar as qualidades individuais de seus inúmeros craques, fundamental para chegarmos ao título .
Por isso, nada mais justo do que lembrar e enaltecer este feito conquistado há 50 anos, no México, sobretudo para melhorar a nossa auto-estima, pelo momento terrível que atravessamos com mais de 50 mil mortes registradas por Covid-19.
Mais um passo
Mais um passo importante foi dado pela CBF no sentido de retornar o futebol no país, apesar da disseminação do vírus da Covid-19 ser cada vez maior no país.
A entidade conseguiu sinal verde do Ministério da Saúde para o seu “guia médico” ou protocolo de medidas, a serem adotadas por federações e clubes, visando inicialmente o retorno dos jogos nos estaduais, para depois ser aplicado nas competições nacionais.
Mas, como não tem poder de tomar decisões que impactam diretamente na estratégia de combate ao vírus nos estados e municípios, o governo federal deu aval ao protocolo, condicionando a marcação de datas e prazos à liberação por parte de prefeitos e governadores.
O protocolo é uma cópia, com algumas adaptações à nossa realidade, do que já está sendo feito nos países da Europa onde o esporte já voltou a ser praticado, mas não diz nada sobre quem vai bancar os custos dos clubes pequenos, que não dispõem de recursos financeiros para a sua implementação.
Admildo Chirol, Zagallo e Antônio do Passo, no banco da seleção. Foto: https://trivela.com.br/os-50-anos-da-copa-de-70-o-carinho-mutuo-entre-zagallo-e-didi-amigos-que-se-enfrentariam-no-brasil-x-peru/
· Rever a Seleção de 70 e os lances mágicos de Pelé, Tostão, Jaizinho, Gerson, Rivelino e cia, nos levou de volta no tempo até a minha cidade natal, Tarumirim, que como todo o país de norte a sul, enfeitou ruas, praças, nas cores verde e amarelo da bandeira nacional para torcer pela nossa Seleção. Após os jogos haviam grandes carreatas e muitos foguetes para comemorar as vitórias.
· Meu velho pai comprara uma TV preto e branco, marca “Colorado RQ”, especialmente para assistir a Copa de 70, que foi a primeira a ser transmitida “ao vivo” para todo o Brasil. Foi também a primeira Copa do Mundo com transmissão colorida, mas os aparelhos eram muito caros e por isso raros. Na minha cidade apenas uma residência era dotada de uma TV à côres, cujo proprietário no dia da grande final contra a Itália, cedeu aos apelos e colocou o aparelho na varanda, permitindo que centenas de pessoas assistissem a conquista épica da nossa Seleção, ao vivo e à cores, uma grande novidade, mesmo com muitos chuviscos.
· Como não existia banco ou lotérica na cidade, telefone, internet eram coisas impensáveis, todo início de mês meu pai pegava um ônibus pela manhã e se deslocava cerca de 90Km até Caratinga, para pagar o carnê de prestação na loja onde havia comprado a TV. Almoçava na casa da minha irmã, que lá reside até hoje, e retornava a Tarumirim no mesmo ônibus que o havia levado, chegando no início da noite em casa, cansado mas feliz, pois se tinha algo que fazia questão era pagar suas contas em dia.
· Vamos ficar por aqui, com as boas lembranças da conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970, época sombria no panorama político do nosso país, anos de chumbo, ditadura militar, repressão, censura, enfim, experiências vividas e sofridas na pele, por milhares de brasileiros, que não desejamos que volte nunca mais. “A democracia não pretende fazer santos, mas criar justiça”. Paulo Freire.
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