O jornal Hoje em Dia fez uma bela homenagem ao Jornal Binômio e aos seus fundadores José Maria Rabelo e Euro Arantes.
Este jornal revolucionou a comunicação em Minas e é uma referência obrigatória nas escolas de jornalismo, assim como o carioca Pasquim, teve importância história em determinado período da história do Brasil.
Tenho o privilégio de ser amigo do Zé Maria e de seus filhos e me junto àqueles que o homenageiam sempre.
Um dos melhores livros que já li, “Diáspora”, é de autoria dele.
Veja a reportagem do Hoje em Dia, publicada ontem:
* “Célebre “Binômio” completaria 60 anos nesta sexta-feira”
O informativo sem papas na língua foi dirigido por José Maria Rabêlo e Euro Arantes
Rabêlo está trabalhando com a digitalização da coleção impressa do tabloide
Há exatos 60 anos, um informativo sem papas na língua e com muito senso crítico e humorístico passa a circular pelas ruas da mais que tradicional Belo Horizonte: o Binômio, tabloide dirigido por José Maria Rabêlo e Euro Arantes. O jornal começa como brincadeira e chega a ser o informativo com maior tiragem de Minas Gerais.
Rabêlo (na foto desta página), hoje com 84 anos, vive em Belo Horizonte e diz que está trabalhando com a digitalização da coleção impressa do Binômio para disponibilizar na internet.
“Eu andava pela Rua da Bahia, que na época era o centro de tudo, só para ver as pessoas lendo o jornal. Era uma gargalhada só. E ninguém sabia que eu era um dos responsáveis por aquilo”, confessa.
Considerado espécie de “avô” do também extinto Pasquim, o Binômio dá voz a conhecidos nomes do jornalismo e da crônica brasileira da época, casos de Ziraldo, Afonso Romano de Sant’Anna e Wander Piroli.
O nome é inspirado no governador Juscelino Kubitschek, que adotara como lema a frase “Binômio Energia e Transporte”, exaustivamente divulgada nos meios de comunicação. Rabêlo e Arantes lançam seu próprio binômio, “Sombra e Água Fresca”, expressão destacada logo abaixo da marca do jornal. “O binômio do governo tinha aquela propaganda toda. Então, a palavra adquiriu autonomia e virou nome do jornal”.
O objetivo da publicação logo se revela: mostrar o lado promíscuo das relações de poder. Do primeiro número, destaca-se: “Temos 99% de independência e um por cento de ligações suspeitas. O oposto de nossos ilustres confrades, que têm um por cento de independência e noventa e nove por cento de ligações mais suspeitas que o mordomo de filme policial americano”.
O jornal toma corpo, aumenta a redação e investe nas grandes reportagens. “A reportagem é a chave do jornalismo”, defende Rabêlo. Em uma dessas, aborda o comércio de retirantes nordestinos, vendidos como escravos em Minas Gerais. A reportagem, de 1959, assinada por Roberto Drummond e Antônio Cocenza, “repercutiu em publicações do mundo todo, como as revistas Time e Paris Match”.
A redação do Binômio acaba pagando preço bem alto pela coragem e irreverência: é completamente destruída. O general-de-brigada João Punaro Bley tem a história da carreira militar registrada nas páginas do informativo. A manchete: “Afinal, quem é esse general Funaro Bley? – Democrata hoje, fascista ontem”.
Bley vai à redação para intimidar Rabêlo. O general o pega pelo pescoço mas leva um soco no olho. Pouco depois, 200 homens a mando do militar cercam o quarteirão e destroem o jornal.
O Binômio resiste por alguns meses, até 29 de março de 1964. Rabêlo acaba exilado, juntamente com a esposa Teresa e os sete filhos, e só volta ao Brasil com a Anistia, em 1979. “Nossa chegada foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida. Viemos em cortejo desde o Aeroporto da Pampulha. O Dídimo ( Paiva, jornalista, sindicalista) me devolveu a carteira de jornalista que tinha ficado para trás. Nós chorávamos”.
Rabêlo diz que faria tudo igual. “Se voltasse no tempo, faria da mesma forma, não saberia fazer de outra maneira”, declara o jornalista, que ainda este ano deve lançar um livro-reportagem sobre a história de Belo Horizonte.
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