Mais importante que os bons jogos que assisti nos estádios da Polônia e Ucrânia nessa Eurocopa, foram as observações e comparações que pude fazer do que foi realizado por esses países, em termos de estrutura, em relação ao que o Brasil está fazendo, visando 2014.
Depois de ir de via terrestre, de Varsóvia a Kiev, quase mil quilômetros, parando em cidades sedes, como Gdansk, Poznan, Wroclav e Lviv para assistir jogos, e na cidade mais turística da Polônia, Cracóvia, cheguei à conclusão, que sinceramente eu não imaginava antes de ir: ainda temos de “comer muito chão”, para chegar perto deles, em todos os aspectos.
E vivi um bom exemplo hoje ao seguir para Ouro Preto, a cidade turística mais famosa de Minas e do Brasil, para participar do seminário “Esporte na Idade Mídia”, da UFOP, que tratou exatamente do assunto Copa do Mundo. Às vésperas da Copa das Confederações, as rodovias até lá estão piores do que anos atrás, já que têm movimento maior de veículos e as mineradoras aumentaram a sua atividade na região.
Diferentemente de qualquer cidade do interior da Polônia ou Ucrânia, falar pelo telefone celular não é tão fácil em Ouro Preto, assim como em Belo Horizonte ou qualquer capital do Brasil. As ligações costumam não se completar e caem com facilidade. Internet; mais complicado ainda.
São itens básicos de infraestrutura, que poderiam ficar para todos nós, como o tal “legado” da Copa, que as autoridades tanto falavam quando trouxeram a Copa para o país.
Nem daria mais tempo de construir rodovias decentes até 2014. Para 2013, nem pensar. E da forma que a Anatel se relaciona com as operadoras de telefonia, nossas comunicações continuarão precárias durante os grandes eventos que vêm aí.
Chegando em Belo Horizonte, pela BR-040, pouco depois da Ceasa, vi uma novidade: instalaram uma placa em idiomas diferentes dando “boas vindas” à capital do estado.
Ótima intenção, mas 500 metros adiante o cartão postal não pode ser pior: mato, lixo, entulho de material de construção, carcaças de veículos e placas de sinalização aos pedaços, onde não se consegue ler coisa alguma.
A entrada da cidade para quem chega pela BR-381 é mais feia ainda. Claro, que até o início da Copa das Confederações esse tipo de detalhe deverá ser acertado, mas fica a pergunta: é preciso receber um evento internacional para cuidar de uma coisa tão simples, barata e de efeito tão positivo?
A propaganda oficial, estadual e federal, tem exaltado muito os estádios, que ficarão excelentes e etecetera e tal. Ora, e daí? Com os que já tínhamos, já daria para fazer uma Copa melhor que a da África do Sul neste aspecto. Metade do que estão gastando com estádios poderia ter sido investida em obras que beneficiariam a toda a população. Nem entrarei no absurdo dos elefantes brancos que estão sendo erguidos, em Natal, Manaus e Cuiabá.
As frustrações que tenho são grandes e aumentaram depois que fui de metrô e ônibus para os estádios da Eurocopa, e lembro-me que nem o tão sonhado metrô de Belo Horizonte nós conseguimos com essa Copa de 2014.
Sei que estou “chorando o leite derramado”, mas entendo que 2014 deixará um legado fundamental sim: a discussão permanente das questões políticas e sociais do país, pois com esse papo de futebol, a população brasileira está sendo levada no bico por muita gente que está ganhando fortunas injusta e ilicitamente.
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