Até o Bom dia Brasil se rendeu ao gol do Atlético contra o Grêmio e o mostrou nas manchetes do telejornal nesta segunda-feira de manhã.
Não era para menos. Mas não é por nada não: quem assistiu jogos do Democrata de Sete Lagoas na terceira divisão mineira em 2010, viu o Bernard fazer jogadas semelhantes e gols inacreditáveis; até de cabeça, mesmo sendo o mais baixinho do time.
E pensar que ele não era aproveitado nem como reserva do junior do Galo, porque, assim como em quase todos os grandes clubes do Brasil, os dirigentes querem jogadores altos. Os treinadores, na maioria dos casos, fazem o jogo dos chefes e entram nessa. São cúmplices de uma idiotice que arrebenta com o futebol brasileiro. Os baixinhos têm que jogar muito e se desdobrarem muito mais para conseguirem oportunidades reais.
O Atlético apostava no Wendell, grandão, que impressionava pelo físico, e pela preguiça dentro de campo. E em um outro, que agora nem me lembro o nome, que assim como o Wendell, não sei por onde anda.
Bernard é quase do tamanho do D’Alessandro, Montillo e tantos outros baixinhos que fazem sucesso mundo afora. Nem citarei Messi, porque senão, já já aparece nego dizendo que estou querendo compará-los.
Nada a ver.
O que quero destacar é que Atlético, Cruzeiro e os demais grandes clubes brasileiros que gastam fortunas comprando jogadores, deixam escapar talentos que poderiam ser muito úteis e resolver problemas do time profissional.
Bernard está no Galo hoje porque jogou demais no Democrata de Sete Lagoas, onde era titular e pode mostrar o seu futebol. Como muita gente viu, eu inclusive, isso foi repassado aos companheiros de imprensa de Belo Horizonte e de tanto falarmos, o presidente Alexandre Kalil “mandou olhar” para conferir se o rapaz tinha algum potencial mesmo.
Dorival Junior foi “instado” a aproveitá-lo, sem muito boa vontade. Tanto que o escalava como lateral direito.
Cuca foi quem realmente viu que ele tinha grande potencial e que, bem trabalhado, poderia até ser titular.
Passou a escalá-lo na posição original dele e o resultado está começando a aparecer.
Atlético e Cruzeiro precisam rever a política deles com esses “olheiros” vesgos e caolhos, e essa política de querer jogadores beirando dois metros de altura.
Gastam fortunas buscando “revelações” no país inteiro, com olheiros que ganham dinheiro para descobrir potencialidades, mas que muitas vezes não enxergam bem o futebol ou levam alguma vantagem para indicar pernas de pau apadrinhados de algum podero$o.
Sempre houve e continua havendo ótimos jogadores em Minas, no interior e na capital, que entretanto, não têm mais o espaço que tinham até os anos 1980 nas categorias de base dos grandes clubes.
O América revela mais na sua base, porque aposta mais em jogadores de Belo Horizonte e interior do estado. E essa aposta se deve ao fator financeiro, pois custa caro pagar “olheiros” país afora; buscar estes jogadores com os seus pais; hospedá-los e sustentá-los aqui e demais despesas decorrentes.
Dos anos 1980 para cá Atlético e Cruzeiro foram deixando a simplicidade de lado, acreditando numa teoria equivocada que “os bons estão lá fora”, entre jogadores, treinadores e até dirigentes da base.
Chegaram ao absurdo máximo de importarem dirigentes e técnicos para suas bases. Até da Bahia, veio um dirigente, que foi mandado de volta por acusação de práticas abomináveis e criminosas.
Que os exemplos do América e do Bernard sirvam para alguma coisa.
O Democrata Jacaré de 2010, no qual o Bernard (segundo da esquerda para a direita, em frente ao goleiro) foi o artilheiro da terceirona mineira de 2010.
Fotos do Rogério Borges
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