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Haja bobagem e submissão!

Concordo plenamente com o professor Pasquale Cipro Neto.

E essa submissão a coisas que vêm de fora é verificada diariamente em Minas Gerais, onde alguns setores da imprensa adora se postar como “colonizados” por tudo que vem do Rio de Janeiro e São Paulo; no futebol, na política, na cultura e por aí vai.

Principalmente nós, mineiros, conterrâneos de Guimarães Rosa, deveríamos seguir ao pé da letra o exemplo dele, de abusar da criatividade e licenças poéticas, mantendo a nossa cultura.

Sem fechar os olhos para o mundo, mas preservando as coisas boas que temos.

Vejam que texto interessante publicado na coluna do professor na Folha de S. Paulo:

* “Paralímpico? Haja bobagem e submissão!”

O meu querido amigo, vizinho, filho e irmão Márcio Ribeiro me pergunta, com o seu falar italianado e com influência do linguajar da Casa Verde, bairro paulistano em que passou boa parte da vida: “Ma que história é essa de ‘paralímpico’? Emburreci, emburrecemos todos?”. E não foi só o Márcio. Vários leitores escreveram diretamente para o jornal ou para mim para pedir explicações.

Não, meu caro Márcio, não emburreceste. Nem tu nem os leitores que se manifestaram. E, é bom que se diga logo, a Folha não embarcou nessa canoa furadésima, furadissíssima.

Parece que o Comitê Paralímpico Brasileiro adotou a forma “paralímpico” para se aproximar da grafia do nome do comitê internacional (“paralympic”). Por sinal, o de Portugal também emprega essa aberração –o deles se chama “Comité Paralímpico de Portugal” (com acento agudo mesmo em “comité”).

É bom lembrar que o “par(a)-” da legítima forma portuguesa “paraolímpico” vem do grego, em que, de acordo com o “Houaiss”, tem o sentido de “junto; ao lado de; ao longo de; para além de”. Na nossa língua, ainda de acordo com o “Houaiss”, esse prefixo ocorre com o sentido de “proximidade” (“paratireoide”, “parágrafo”), de “oposição” (“paradoxo”), de “para além de” (“parapsicologia”), de “distúrbio” (“paraplegia”, “paralexia”) ou de “semelhança” (“parastêmone”). Os jogos são paraolímpicos porque são disputados à semelhança dos olímpicos.

Talvez seja desnecessário lembrar que esse “par(a)-” nada tem que ver com o “para” de “paraquedas” ou “para-raios”, que é do verbo “parar” (não esqueçamos que o infame “Des/Acordo Ortográfico” eliminou o acento agudo da forma verbal “para”).

Pois bem. A formação de “paraolímpico” é semelhante à de termos como “gastroenterologista”, “gastroenterite”, “hidroelétrico/a”, “socioeconômico”, das quais existem formas variantes, em que se suprime a vogal/fonema final do primeiro elemento (mas nunca a vogal/fonema inicial do segundo elemento): “gastrenterologia”, “gastrenterite”, “hidrelétrico/a”, “socieconômico”. O uso não registra preferência por um determinado tipo de processo: se tomarmos a dupla “hidroelétrico/hidrelétrico”, por exemplo, veremos que a mais usada sem dúvida é a segunda; se tomarmos “socioeconômico/socieconômico”, veremos que a vitória é da primeira.

O fato é que em português poderíamos perfeitamente ter também a forma “parolímpico”, mas nunca “paralímpico”, que, pelo jeito, não passa de macaquice, explicitação do invencível complexo de vira-lata (como dizia o grande Nélson Rodrigues). Pelo que sei, em inglês… Bem, dane-se o inglês. Danem-se os Estados Unidos, a Inglaterra e a língua inglesa.

Alta fonte de uma das nossas mais importantes emissoras de rádio me disse que o Comitê Paralímpico Brasileiro fez pressão para que a emissora adotasse a bobagem, digo, a forma americanoide, anglicoide ou seja lá o que for. A farsa é tão grande que, em algumas emissoras de rádio e de TV, os repórteres (que seguem ordens superiores) se esforçam para pronunciar a aberração, mas os atletas paraolímpicos logo se encarregam de pôr as coisas nos devidos lugares, já que, quando entrevistados, dão de ombros para a bobagem recém-pronunciada pelo entrevistador e dizem “paraolímpico”, “paraolimpíada/s”.

Eu gostaria também de trocar duas palavras sobre “brasuca/brazuca” e sobre o barulho causado pelo “porque” da presidente Dilma, mas o espaço acabou. Trato disso na semana que vem.

É isso.

* http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pasquale/1149224-paralimpico-haja-bobagem-e-submissao.shtml


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Comentários:
22
  • ivan junior disse:

    Discussão vazia e inocua.

  • Frederico Dantas disse:

    Também acho que deviam rejeitar, principalmente se houver palavra equivalente em português.

  • Alisson Sol disse:

    Outro dado, Caro Frederico: meus amigos brasileiros, proporcionalmente, utilizam duas vezes mais Facebook e Twitter do que meus amigos americanos. Deviam rejeitar era estes “estrangeirismos”…

  • Frederico Dantas disse:

    Alisson.

    O comitê adota o nome que bem entender. Mas a língua não funciona assim.

    Quanto ao professor Pasquale, acho que você não sabe a bobagem que falou.

    E quanto ao acordo ortográfico, os únicos a adotá-lo até agora somos nós, os brasileiros. E pelo andar da carruagem, continuaremos a ser.

    A língua muda, mas não por decreto.

  • Alisson Sol disse:

    Caro Frederico Dantas.

    Talvez em “Minas Geraes” não tenha chegado a notícia, mas o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) adotou o temo paralímpico para alinhar-se com os outros países de língua Portuguesa (link). O Comitê deve ter o direito, pelo menos de ser dono de seu próprio nome, não é mesmo. Agora, o Prof. Pasquale, se é contra o acordo ortográfico, talvez por preguiça de aprender coisas novas, não tem o direito de ficar dizendo que acordo é ruim. O acordo tem objetivos claros de incentivar a comunicação entre os países de língua Portuguesa, que são muitos. A maior parte do acordo, por sinal, adapta a grafia e pronúncia de outros países ao que é utilizado no Brasil, por ter a maior população.

    Como Professor de Português, o Sr. Pasquale devia ser o primeiro a promover o acordo ortográfico e a evolucão da língua, visto que a mesma existe para permitir a comunicação entre as pessoas. Mas ele parece ser daqueles que são contra a evolução. É como o pessoal que aprendeu que a capital do Brasil é a cidade do Rio de Janeiro, e continua até hoje pensando assim. Tem gente contra Brasília, contra o Mato Grosso do Sul, contra Tocantins, contra o acordo ortográfico, contra a Internet, contra a partida de futebol (ou seria “football”?!) valer 3 pontos), …Felizmente, o tempo passa, e tais pessoas morrem.

  • Alisson Sol disse:

    Caro Federico Dantas.

    Talvez em “Minas Geraes” não tenha chegado a notícia, mas o CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro) adotou o temo paralímpico para alinhar-se com os outros países de língua Portuguesa (link). O Comitê deve ter o direito, pelo menos de ser dono de seu próprio nome, não é mesmo. Agora, o Prof. Pasquale, se é contra o acordo ortográfico, talvez por preguiça de aprender coisas novas, não tem o direito de ficar dizendo que acordo é ruim. O acordo tem objetivos claros de incentivar a comunicação entre os países de língua Portuguesa, que são muitos. A maior parte do acordo, por sinal, adapta a grafia e pronúncia de outros países ao que é utilizado no Brasil, por ter a maior população.

    Como Professor de Português, o Sr. Pasquale devia ser o primeiro a promover o acordo ortográfico e a evolucão da língua, visto que a mesma existe para permitir a comunicação entre as pessoas. Mas ele parece ser daqueles que são contra a evolução. É como o pessoal que aprendeu que a capital do Brasil é a cidade do Rio de Janeiro, e continua até hoje pensando assim. Tem gente contra Brasília, contra o Mato Grosso do Sul, contra Tocantins, contra o acordo ortográfico, contra a Internet, contra a partida de futebol (ou seria “football”?!) valer 3 pontos), …Felizmente, o tempo passa, e tais pessoas morrem.

  • Frederico Dantas disse:

    Alisson.

    Você viu xenofobia neste texto??? Nem xenofobia muito menos bobagem. A língua é viva, sofre mutações ao longo dos tempos e sua forma culta vai sendo alterada, sim, pela forma falada, inclusive com estrangeirismos.

    Só que este paralímpico nunca, repito, nunca foi falado nem escrito no Brasil. Muda-se uma língua assim? Só porque uma emissora de televisão quer e pronto? Daqui a muitos anos, se esse termo idiota persistir, teremos que nos render a ele. Por enquanto, o que é o certo o continua sendo.

  • Martens disse:

    Alisson Sol

    Depois de tanta critica aos seus “posts ” neste tema acho que vc esta certissimo.
    VALEU

  • Crys Mello disse:

    “aberração” rsrsrs

  • Crys Mello disse:

    “Paralímpico” soava esquisito mesmo… E viva a língua portuguesa, brasileira, angolana, timorense…

  • bessas13 disse:

    A CBF é como a monarquia portuguesa, ou seja, não é uma entidade brasileira mas uma máfia carioca! Falta um JK na CBF.

  • paulo roberto disse:

    Acho que ao invés de ficar jogando a responsabilidade em cima dos outros, o presidente do cruzeiro deveria cobrar postura do senhor valdir barbosa e demais diretores pelo que eles fizeram, o valdir barbosa está querendo ser outro eurico miranda, a atitude deles inflamaram o torcedor que atirou todo tipo de objeto em campo. A diretoria tem que ser responsabilizada.

  • @cabrito2606 disse:

    Não concordo e nem discordo, muito pelo contrário, eu “DISCONCORDO”.

    os mesmos atletas paralímpico ou paraolímpicos estarão renegados com suas medalhas de OURO (de tolo) tão logo os jogos sejam encerrados.

    Os vencedores são eles e suas famílias, que superaram todas as adversidades, inclusive a indiferença da mídia e dos empresariado que hoje, feitos abutres, bicam os vencedores, tomando-lhes os louros, dizendo ser do Brasil.

    Os verdadeiros “jogos” são os disputados nos poderes políticos, onde sobra bosta para todo lado.

    É a latrina!

    @cabrito2606

  • Márcio Luiz disse:

    Engraçado. Ontem mesmo eu havia comentado com um colega de trabalho sobre essa estranha grafia dos jogos PARAOLÍMPICOS.

    Mas num país em que o termo “Lava a jato” vira “Carwash” (quando não escrevem “lava jato”, né, ou seja, lava aviões a jato); que estacionamento virou “Park”, que liquidação virou “Sale” e desconto de 50% virou “50% off”, não é de assustar tamanha submissão.

    Acrescentando, num país em que famosos jornalistas/radialistas/apresentadores (aqui em BH tem um monte) não sabem diferenciar “vem AO encontro” de “vem DE encontro”; que não sabem que não existe a palavra PREvilégio e sim PRIvilégio, etc, essa coisa criada aí é mais que normal; infelizmente.

  • Clayton Batista Coelho ( "Claytinho - Só Boleiro do Nova Vista/BH" ) disse:

    Caro Chico,

    Quem continua até então surpreendendo e enfrentando peixe graúdo, é o Romário !

    http://blogdojuca.uol.com.br/2012/09/romario-chuta-o-balde/

    Vc viu o que ele falou sobre a CBF e o COB ?? Bom, se essas entidades citadas não se manifestarem, aí é que vai ficar comprovado que o Romário falou a verdade.

    Abraços

  • Frederico Dantas disse:

    Quanto ao paralímpico, engrosso o coro (côro era melhor): bobagem.
    Espertos foram os portugueses, que simplesmente ignoraram este acordo ortográfico ridículo.

  • Frederico Dantas disse:

    Pasquale, como sempre, dando à língua portuguesa o destaque e o respeito que ela bem merece.
    Infelizmente, a internet, que poderia ser um caminho para a propagação das boas práticas do uso da língua, sobretudo em sua forma escrita, tornou-se campo fértil para o exato oposto.
    Pessoas escrevem de modo ininteligível e reclamam constrangimento quando corrigidas.
    Expressar-se bem, por mais que muitos remem em sentido contrário, continua sendo fundamental.

  • Alisson Sol disse:

    Que coisa: um professor de Português falando uma bobagem xenófoba e pregando ignorância e retrocesso. E isto poucos anos após o Português passar por uma “reforma ortográfica”!

    Então vamos todos voltar aos anos 50, pois mudar a grafia e sonoridade das palavra é errado. Olha que eu, por formação, sou talvez o mais retrógrado e conservador entre as pessoas que conheço. Agora, querer “parar o mundo porque o dicionário diz que isto está errado é absurdo”. Se “paralímpico” está errado, então também estão errados Internet, software, mouse, driver, modem, e todos os outros “anglicanismos”. Aliás, “anglicanismo” também é errado! Como vivi em Cambridge-UK, em “East Anglia”, eu sei que as pessoas da verdadeira “Anglia” nada tem a ver com este absurdo da adoção de palavras estrangeiras em português. Favor inventarem outra palavra para isto!

    Sinceramente: eu tenho visto uma nova geração escrever no estilo “texting” (outro “anglicanismo”!). É um tal de LOL, THX, ROFL, C9, etc. Talvez hoje seja errado, mas em alguns anos quem não souber escrever assim estará simplesmente excluído da conversa.

    Se vamos voltar ao passado, melhor desligar esta tal “Internet”, desconectar o “modem”, e vamos falar ao telephone (grafia de original antes de 1911, link). Ora pois pois…

  • nelson roberto barbosa junior disse:

    É verdade! De repente, passei a ouvir “paralímpico pra cá, paralímpiadas pra lá, etc”, principalmente na Vênus Prateada. Achei que tinha pirado o cabeção…jurei em silêncio que teria que estudar mais esse maldito acordo ortográfico, que mais confusão trouxe.
    Eis que surge o grande professor Pasquale, coloca o pingos nos “is” e aponta a aberração diagnosticando: “… não passa de macaquice.” rsss.
    Ótimo tópico Chico! abs

  • tom vital disse:

    Chico,parabéns,por nos presentear com a bela crônica do Pasquale Cipro Neto…Eu também não concordo é com esse negócio,de chamar estádio de futebol de arena.Arena para mim,é onde os gladiadores romanos,se digladiavam…

  • André Corrêa disse:

    Eu também estava me perguntando sobre isso, Chico: por que Paralimpíada, se a vida toda eu ouvi Paraolimpíada?

    É mesmo muita submissão. O Prof. Pasquale deveria aparecer mais por aí. Faz falta.

  • bruno lima disse:

    chico o que aconteceu com o ateneu de montes claros e o estadio eles joao rebelo

    – contagem