Publico na íntegra e-mail que recebi do Márcio Amorim que sempre trás bons temas para discussões, com argumentos fortes.
Dessa vez é sobre a polêmica em torno da partilha de ingressos no clássico Atlético x América, e como raramente acontece, vou discordar dele.
Márcio ataca a postura do presidente do Atlético, Alexandre Kalil e acusa a imprensa de conivência com os atos do comandante alvinegro.
De minha parte, considero a situação muito simples: choque de interesses entre os dois clubes, onde prevalece o que usa as leis e regulamentos do futebol a seu favor, neste caso, como mandante.
O América fez isso ano passado, para dar troco no próprio Atlético, mesmo tendo torcida menor.
O Coelho paga por querer medir forças com os seus maiores rivais em Belo Horizonte, quando deveria fazer acordos com eles que lhes beneficiasse e fortalecesse seu time.
Muitas vezes o bom senso é deixado de lado dando lugar a uma rivalidade que está ficando cada vez mais no passado. Só os muito saudosistas ainda tratam este clássico como o “das multidões”, quando os dois clubes tinham as maiores torcidas do estado.
Recentemente a BWA se precipitou ao anunciar que aumentaria a capacidade do Independência para 40 mil pessoas e os americanos quase foram às ruas para protestar. Dirigentes e torcedores ficaram fulos e disseram que iriam às últimas conseqüências para impedir.
Santa bobagem! Mais público só reforçaria os cofres do Coelho, dono da casa, que ganharia mais força para montar melhores times e voltar ao topo do futebol brasileiro.
Aí, fica desse jeito, contratando Eutrópios e brigando para não ser rebaixado no Campeonato Mineiro.
Sou um defensor da maioria das causas do América, mas essa radicalização inútil contra Atlético e Cruzeiro considero ridícula.
Kalil defende os interesses do Atlético e sabe usar a força da sua torcida.
Quando a lei está ao seu lado, como neste caso, de mandante, aí é que não tem conversa mesmo.
No clássico contra o Cruzeiro ele teve que se contentar, mesmo bufando, em jogar no Mineirão e ainda ver a renda toda indo para os cofres azuis.
O Cruzeiro era o mandante, tinha o regulamento a seu favor.
O América usou desse direito ano passado. No próximo clássico contra o Atlético, como mandante, neste ou em outro campeonato, que faça o mesmo, e não haverá nada de anormal também.
Não vejo nenhuma conivência da imprensa neste caso.
Há um outro fator que preciso citar: o poder de barganha e a força de cada um. Entendo perfeitamente a revolta do Márcio, mas é a lei natural das coisas. Carrego comigo a mesma revolta em relação ao que o governo de Minas fez com o nosso Democrata de Sete Lagoas: usou a Arena do Jacaré como quis; fez uma reforma com sérios defeitos até hoje, que nunca serão sanados; usou enquanto precisou e sem pagar nada em troca. Quando o então presidente Felisberto Gregório tentou reivindicar algum direito compensatório, o governador Antônio Anastasia ameaçou desapropriar o estádio e encerrou a conversa.
Deu como “colher de chá” 800 vagas de estacionamento nos jogos realizados lá, cuja arrecadação nem chegou aos cofres do Democrata, porque foi bloqueada pela Justiça do Trabalho.
A imprensa também não deu uma nota sequer sobre o assunto. Atlético, Cruzeiro e América deram de ombros, pois, cada um com os seus problemas, e eles já tinham revolvido os deles.
O América, então, foi o que mais se beneficiou: além do estádio Zero Km, ganhou mais de R$ 100 mil mensais ou 5% de toda a arrecadação lá, limpinhos!
Hoje a Arena do Jacaré está lá, feito uma puta consumida pelo tempo, usada e deixada de lado, semi-abandonada pela ADEMG; que aliás, é outra, tratada como uma velha meretriz pelo governo, sendo morta devagar e sem alarde.
E vida que segue!
O Jacaré que se vire, como está se virando!
Um clube que, também, já foi um dos mais fortes do estado, duas vezes vice-campeão mineiro, perdendo os títulos justamente para Atlético e América, os mais fortes da época e segundo os mais velhos, com a ajuda dos árbitros da FMF.
O Democrata fará 100 anos de existência em 2014.
Confira a opinião do Márcio:
* “Caro Chico!
Estava tentando lembrar-me de quais foram os últimos jogos do América a que não assisti. Vieram a minha mente apenas dois: América X São Paulo, ainda na Série A, na Arena do Jacaré – por causa de coincidir com aniversário da minha esposa – e América X Atlético, no mesmo local, pelo último mineiro ali disputado.
Este último, por causa de uma palhaçada do deus do raio e do trovão, Alexandre Kalil, que disponibilizou 500 ingressos para a torcida do América, naquela parte mais baixa e atrás do gol, que você bem conhece e sabe que não dá para ver nada dali.
Parece que vou deixar de assistir a outro por decisão do mesmo deus. Querer me obrigar a ver o jogo de domingo, onde ele quer e não onde eu quero, acho que é um abuso que deveria ter o repúdio de toda a imprensa, porque não acontece só comigo.
Estas palhaçadas “reais” , que não acontecem em outros estados, só diminuem o futebol mineiro aos olhos do resto do país. É uma mentalidade mesquinha, provinciana e ridícula, por simples prazer de tentar exibir uma imagem de poder e grandeza, mal sabendo que é de gente muito pequena.
Acho que a torcida do América, bem como a de qualquer outro time, merece respeito e este cidadão parece não ter esta palavra no repertório da sua educação. Pena que esta imprensa seja conivente com todas as decisões dele, (até agora só repassou a notícia e não houve um único comentário a respeito) , talvez porque o espírito assumido de atleticana se sobreponha ao dever juramentado de ser imparcial.
Lamentável!
Gostaria mesmo de pagar um local mais caro, até para ficar longe de confusão, porém ele decidiu que não posso. Decidiu que a torcida do América só poderá ocupar o chiqueiro, que é o lugar que ele disponibilizou.
Tenho de ficar onde ele resolveu que eu ficaria e a imprensa bate palmas com o seu silêncio. Uma pena!
Abs.”
Márcio Amorim
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