Respeito com o dinheiro público: estádio Nacional, o principal da Copa América, não recebeu nem pintura nova para a disputa. Gastos governamentais foram mínimos para receber a Copa.
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Hoje foi uma segunda-feira diferente no Chile. Até os movimentadíssimos quarteirões fechados, “Paseos” Huérfanos, Ahumada, Estado, Puente, e a frenética “Plaza de Armas” estavam vazios, sem comércio, sem bancos, sem casas de câmbio e nem as centenas de artistas de rua. Apenas alguns gatos pingados ambulantes, desanimados, já que não tinham a quem vender. Nas rádios e TVs o assunto era um só: a chance histórica de a seleção chilena chegar à final e conquistar o primeiro título de sua história. O jogo contra o Peru era dissecado, em todos os aspectos possíveis, táticos, técnicos, históricos e até as questões sociais e geopolíticas envolvendo os dois países, no “Clássico do Pacífico”. Mas um país evoluído como Chile parar totalmente por causa de um jogo de futebol? Pensei. Incomodado com tanto paradeiro e curioso, parei a minha caminhada diária e perguntei a um guarda, perto do Palácio La Moneda, o motivo, no que tive a resposta: “feriado nacional de São Pedro e São Paulo, os padroeiros dos pescadores chilenos”. Ah bom! É como se fosse o dia de Nossa Senhora Aparecida no Brasil.
O Chile é um país quase 100% católico e a quantidade de igrejas é um indicativo visível tanto em Santiago quanto no interior. As tradições são respeitadas e seguidas à risca. Isso reflete na programação das rádios e TVs. Não há programas de outras doutrinas religiosas. Um dos poucos lugares do mundo onde não vi nenhum templo da Igreja Universal do Reino de Deus. Pelo menos até agora.
Este catolicismo influi no pensamento e comportamento do mundo do futebol chileno. A atitude do zagueiro Jara contra o uruguaio Cavani, em princípio dividiu opiniões da torcida. Muita gente levou na gozação, outros diziam que foi errado, mas “faz parte” do futebol, mas ninguém execrou o zagueiro. Porém, com a nova informação de que ele disse no ouvido do Cavani que o pai do uruguaio “apodreceria 20 anos na cadeia”, por ter causado o acidente em que morreu um motociclista em Montevidéu no dia anterior, mudou o quadro.
O assunto virou tema de acalorados debates na mídia, com a condenação do zagueiro por quase 100% dos debatedores e entrevistados. Esta postura do Jara foi considerada um desvio de formação imperdoável, pois “com os sentimentos familiares não se mexe”. Ainda mais nas circunstâncias vividas pelo Cavani, que resolveu jogar para cumprir com o seu dever profissional e porque o próprio pai, preso, queria que ele jogasse. O clube Alemão, Mainz05 dono do Jara, também não gostou do que ele fez e quer negociá-lo.
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