Agora, toda vez que algum time vai jogar no Serra Dourada, em Goiânia, boa parte da imprensa fala em umidade relativa do ar, dimensões do gramado, calor e outros fatores extra bola. Tudo em nome do “futebol comercial” (salve comentarista José Luiz Gontijo!) embalado por papagaios de microfones e notebooks nas mãos que saem repetindo frases prontas e filosofias de botequim saídas das cabeças de pseudos intelectuais do esporte. Isso, somado à falta de criatividade quanto o que perguntar a treinadores e atletas. A mesma síndrome que toma conta da imprensa quando algum clube brasileiro vai jogar na altitude, por mais baixa e menos problemática que seja, como Bogotá, por exemplo. Se o time vai mal e perde, técnico, jogador e dirigente põem culpa na “altitude” e a reportaiada e comentaristas, em grande parte, aceita cordeiramente e sai repicando pelas rádios, jornais, Tvs e mídia eletrônica. Como diz outro mestre do bom jornalismo, o Rogério Perez, “cruz credo!”, ou “menos gente, menos!”.
É o que chamo de inversão de valores. Normalmente estes argumentos extra-campo e extra-bola são desculpas esfarrapadas para justificar deficiências de um elenco, erros táticos, escalações mal pensadas para começar a partida e outros fatores concretos, isolados ou tudo junto.
O Fluminense mudou de treinador de novo: dispensou Enderson Moreira e contratou o Eduardo Batista, que estava para cair no Sport Recife. Interessante é que, quando emendou uma série de vitórias no comando do rubro-negro pernambucano ele se tornou o querido da mídia e dos dirigentes do Sport que falavam de “planejamento”, “estratégias competitivas”, “trabalho de longo prazo”, e bla, bla, bla! Parecia que estávamos diante do surgimento de um novo José Mourinho ou de um “Sir Alex Fergunson” tupiniquim. Mas bastou uma sequência sem vitórias e resultados negativos para que o castelo do novo projeto de “profexô” ruísse e todas as carruagens dele e as que o cercavam virassem abóbora.
Atlético e Cruzeiro têm vivido situações que se encaixam nestes contextos. O Galo entrou em baixa a partir daquela péssima atuação contra o péssimo Goiás no Serra Dourada. Mas ao invés de reconhecer que havia algo errado com o time preferiu recorrer aos argumentos climáticos como justificativa. Na sequência perdeu pontos preciosos para outros times semelhantes ao Goiás, como Chapecoense, fora, e Atlético-PR, no Independência, que estão fazendo muita falta agora. São pontos que manteriam o equilíbrio nessa fórmula corrida de disputa, em que um time precisa ter gordura para ser queimada em jogos onde a perda é considerada normal, contra adversários da prateleira de cima, como um Santos na Vila Belmiro, Cruzeiro em qualquer estádio, Grêmio em Porto Alegre e por aí vai.
O Cruzeiro está no terceiro treinador na temporada, quando não deveria ter demitido o vitorioso e competente Marcelo Oliveira, que comete erros como qualquer profissional, mas o conjunto da obra supera longe as eventuais mancadas. Quem errou mesmo foi a diretoria que desmanchou o time, contratou muito mal e se deixou levar pela pressão de parte da imprensa, a “comercial”, como bem define o José Luiz Gontijo.
O resto, é “perfumaria”, como diz o Tostão.
* E minha homenagem nesta sexta-feira aos amigos e mestres Rogério Perez e José Luiz Gontijo, autênticos, com quem tive o prazer e a honra de trabalhar e que hoje ocupam prestigiados espaços próprios nas mídias digitais.
Perez
José Luiz Gontijo (direita) ao lado do saudoso Osvaldo Faria, não sei se em Roma, Madri ou onde, em uma cobertura internacional.
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