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O treinador que ficou 27 anos no mesmo clube tem muito o que ensinar

Vale a pena ler a entrevista que Alex Fergunson, que comandou o Manchester United por 27 anos, concedeu à Folha de S. Paulo:

* ‘Treinador de futebol é como um banqueiro’, diz Alex Ferguson

Um dos maiores nomes do futebol inglês afirma que os técnicos precisam
aprender a administrar milhões que não pertencem a eles

Alex Sabino, colaboração para folha, em Glasgow

Duas mil pessoas pagaram 35 libras esterlinas (cerca de R$ 210) para
ouvir um técnico de futebol aposentado falar. Por mais de uma hora, o
público esteve hipnotizado por Sir Alex Ferguson – o “Sir” se deve ao
título de nobreza que recebeu após conquistar a Liga dos Campeões em
1999.

Tem sido o mesmo em todas as cidades do Reino Unido em que passou para
divulgar o livro “Leading”, escrito por ele em parceria com Michael
Moritz, presidente da Sequoia Capital, uma das maiores empresas de
capital de risco do planeta.

“Com o passar dos anos, eu estudei francês, aprendi sobre vinhos,
comecei a tocar piano. Mas no fundo, eu só sei falar sobre futebol”,
disse Ferguson àFolha após o evento em Glasgow, na Escócia, na última
segunda (28).

“Leading” foi pensado como uma obra sobre liderança, com histórias que
podem ser usadas no mundo empresarial. Mas acabou se tornado um livro
sobre futebol. O veterano que comandou o Manchester United por 27 anos só sabe bater
nessa tecla. “Leading” é, de certo modo, um guia de auto-ajuda para
técnicos.

Veja trechos da entrevista:
O TÉCNICO DE HOJE

Embora não tenha sido o criador da figura do manager, foi ele quem
levou mais a sério ser o responsável por todos os departamentos de
futebol de um clube e seu modelo foi copiado por outros clubes
britânicos.

“Treinador de futebol é como um banqueiro. O tempo todo administra
milhões que não são dele e precisa tomar decisões em cima disso.
Observação sempre foi uma parte fundamental do meu trabalho. Não
consigo acreditar que hoje em dia o técnico ainda dê treinos. Se ele
está no meio do campo, comandando o treinamento, deixa de ver coisas
que perceberia observando de fora. É para isso que há o assistente.”

MUDANÇAS NO FUTEBOL

Crítico de jogadores de cabelos compridos, que usam brinco e
correntes, ele reconhece que teve de se adaptar em outros aspectos.
Não gosta de tatuagens, mas teve de aceitá-las, principalmente depois
que Eric Cantona, a quem tratava como filho, lançou a moda em Old
Trafford.

“Nos últimos dez anos, os jogadores estão mais frágeis fisicamente e
mentalmente. O técnico precisa perceber as mudanças e administrar as
pessoas. É imprescindível saber observar. Hoje mais do que nunca,
precisa ter um nível alto de teimosia.”

RELAÇÃO COM ATLETAS

Ele admite que nunca tratou todos os atletas da mesma forma e afirma
que isso era uma forma eficiente de administrar o elenco.

“Não é que o técnico precisa entender apenas o jogador. Ele precisa
entender a pessoa e como elas são diferentes.

Cantona, por exemplo, era diferente dos outros. Eu o tratava de modo
distinto porque ele precisava daquilo e me respondia àquele tratamento
em campo. O mesmo vale para Cristiano Ronaldo. Ele não é igual aos
demais. Sempre soube que precisava ser o melhor de todos e trabalhou
incansavelmente por isso”.

Mesmo seis anos após ter vendido o português para o Real Madrid, Sir
Alex continua fã. “Ele reúne tudo o que você quer em um jogador de
futebol. Talento, disciplina, vontade de trabalhar.”

CAMARADAGEM

Ferguson tem orgulho não apenas dos times vencedores e dos títulos,
mas do ambiente que criou entre os funcionários do clube. Ao longo da
carreira, também manteve boa relação com os colegas de comissão
técnica.

“O técnico precisa escutar a comissão técnica, mesmo que não faça tudo
o que dizem. Na final da Copa da Inglaterra de 1996, estava com
problemas para escalar o time. Chamei (Peter) Schmeichel, (Steve)
Bruce e (Eric) Cantona. Disse que estava pensando em jogar com três
zagueiros. Bruce respondeu que não se sentiria confortável com aquilo.
‘Por que você não escala Keane na frente dos zagueiros?’, sugeriu
Cantona. Keane foi o melhor em campo sem tocar na bola.”

VIDA APÓS O FUTEBOL

Dois anos após ter se aposentado, continua sendo uma das figuras mais
influentes do futebol. Foi chamado pela Uefa para organizar cursos
para técnicos e aconselha ex-colegas em dificuldades.

Recebe convites para palestras, dá aulas como convidado na
Universidade de Harvard, nos EUA, administra ao lado do filho Jason um
escritório para cuidar da própria imagem e trabalha como embaixador do
Manchester United. Sua renda gira na casa de R$ 1,2 milhão por mês.

“Eu ando de bicicleta todas as manhãs com Cathy (mulher de Ferguson),
depois passo algumas horas no escritório. Temos alguns negócios na
Ásia e são tantas cartas que preciso assinar para serem enviadas que
terminam com ‘do seu amigo’, ‘um grande abraço’ que acho que posso ser
presidente da China. Estou sempre ocupado”.

7 A 1, UM ACIDENTE

Mesmo fora oficialmente do futebol, ele continua marcando presença em
jogos relevantes na Europa. Acompanhou a Copa do Mundo pela TV e diz
que já imaginava o título da Alemanha. Mas não o 7 a 1 sobre o Brasil
na semifinal.

“Os alemães criaram uma escola, uma identidade de jogo, o que todas as
seleções deveriam buscar e um dia foi a marca do Brasil”.

“Se me pergunta sobre o Brasil, acho que a preocupação deveria ser com
isso, não com a derrota. Aquilo foi um acidente, um grande acidente.”

E SE CONTINUASSE?

A decisão da aposentadoria em 2013 pegou jogadores e imprensa de
surpresa. Agora está confortável para confirmar que largou a profissão
por causa da mulher.

“Eu poderia ter continuado como técnico. Estava bem de saúde, ainda
tinha fome de vencer. Cathy aguentou minha obsessão com o futebol por
50 anos. Foi ela quem me disse que era uma decisão idiota quando quis
abandonar tudo em 2002”.

“Mas em 2013 foi diferente porque tinha perdido a irmã, que era a sua
melhor amiga e estava se sentindo muito sozinha. Então, quando disse,
no Natal de 2012, que havia decidido me aposentar, ela não disse nada.
Mas sabia que tinha ficado feliz.”


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Comentários:
5
  • carlos alberto tavares disse:

    Entrevista muito interessante.
    Seria importante que alguma entidade o convidasse para palestras no Brasil para dirigentes e técnicos do futebol.
    Abraços

  • Silvio torres disse:

    I’m sorry, Sir Fergusson, but..no Brasil as coisas aida são bem diferentes do primeiro mundo. Mano tá aí pra provar que por aqui treinador tem que treinar o time.

  • @cabrito2606 disse:

    O Levir Culpi tem a capacidade gerencial para ser o comandante técnico do Galo, por mais uns 05 anos.

    • audisio disse:

      Um técnico que não gosta de reforços…Só precisa contratar o Cuca para montar suas equipes vencedoras.

      • Edson Dias disse:

        Audísio, eu concordo com você até certo ponto, meu caro.

        Eu fiquei louco quando o Levir disse que o time não precisava de reforços, e então o time não contratou ninguém. Mas o fato, cara, é que não temos grana. Pra poder segurar Carioca e Douglas Santos, foi necessário fazer uma engenharia financeira e contar com uma sorte imensa de emprestar o Maicossuel por 2 mi de euros, mais do que 50% do valor pelo qual ele foi comprado.

        Nesse cenário, não dá pra contratar mesmo, cara. Fosse eu o presidente, é provável que faria umas duas loucuras pra trazer o caneco pra nossa sede. Mas pra manter o clube saneado, é foda fazer isso.