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América colabora na recuperação do Rio Doce, arrasado pela Samarco/Vale/BHP

De acordo com a revista IstoéDinheiro, “Uma empresa suja de lama – Negligência, descaso e ambição.” emendando com a pergunta: “Como a mineradora Samarco colocou o aumento da produção acima da segurança e acabou responsável pelo maior desastre dos últimos anos”.

Algum dos dirigentes dessas empresas já deveria estar preso, mas enquanto isso pessoas físicas e jurídicas de Minas Gerais vão se somando aos esforços para ajudar às famílias, comunidades e o meio-ambiente, arrasados pela irresponsabilidade de uns poucos.

O América está nesse mutirão solidário e enviou a seguinte nota à imprensa:

* “Clube e parceiros prestam solidariedade aos atingidos pelo rompimento da barragem e oferecem ajuda financeira para contribuir com a recuperação ambiental.

A tragédia ocorrida recentemente em Bento Rodrigues no município de Mariana (MG) sensibilizou toda a nação brasileira. Essa catástrofe afetou drasticamente a vida de milhares de pessoas que vivem na região ao longo de todo o Rio Doce. Um impacto sócio ambiental de proporções imensuráveis que necessitará de muitos recursos humanos e financeiros para serem corrigidos. Aliado a tudo isso, o fator tempo x condições climáticas poderá agravar ainda mais a situação. Nesse sentido, o América Futebol Clube e seus parceiros vêm, através desta nota, prestar solidariedade para com toda a população atingida pelo rompimento da barragem de Fundão e oferecer, em nome de todos os seus torcedores, uma ajuda financeira com o objetivo de contribuir para com a recuperação ambiental do Rio Doce. Essa ajuda financeira será entregue ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce/CBH-Doce, órgão oficial do Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (composto pela União, Estados, Municípios e sociedade civil) que possui a responsabilidade de conduzir o processo de recuperação do Rio Doce através de ações do Plano Diretor da Bacia.”

Manchete do jornal O Tempo de hoje:

Danos ambientais em Mariana já ocorriam há quatro anos 

ISTO

Desde 2011, Samarco recebe multas por prejudicar recursos naturais, mas com valores mínimos

Capa do Estado de Minas, de hoje:

EM

A reportagem principal da revista IstoéDinheiro desta semana:

*“Uma empresa suja de lama”

Poucos minutos depois das 15h30 da tarde de quinta-feira 5, mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeito de mineração (basicamente óxido de ferro e areia) soterrou a comunidade de Bento Rodrigues, subdistrito da cidade de Mariana, a primeira capital de Minas Gerais e uma das cidades históricas. Segundo o IBGE, aproximadamente 500 moradores de 120 casas foram atingidos por uma enxurrada de lama capaz de encher 20 mil piscinas olímpicas com o rompimento das barragens do Fundão e Santarém, duas das quatro estruturas que represavam os materiais descartados no processo de produção da mineradora Samarco.

Criada em 1977, a empresa é controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP, duas das maiores e mais importantes companhias globais de mineração. Até o fechamento desta reportagem, na quinta-feira 12, seis pessoas morreram, 19 continuavam desaparecidas e a lama havia avançado mais de 250 quilômetros e atingido cerca de 10 cidades, inclusive no Espírito Santo, nesta que é considerada uma das maiores tragédias do País, pela devastação que provocou na sociedade e no meio-ambiente: 637 pessoas, de 185 famílias, precisaram ser alojadas em hotéis e mais de 500 quilômetros de água doce atingida pelos dejetos, matando milhares de animais, principalmente aquáticos, por asfixia.

As causas do acidente ainda estão sob investigação, mas engenheiros especialistas em barragem, mineração e solo ouvidos pela DINHEIRO colocaram sob suspeição as obras para elevar a capacidade da barragem do Fundão. Em 2011, a Samarco deu início a expansão de suas unidades industriais, que possibilitaria o aumento da produção de 22,25 para 30,5 milhões de toneladas. Com um custo de R$ 6,5 bilhões, o projeto foi dado como concluído no ano passado, ficando apenas atividades consideradas secundárias, como algumas obras civis, para 2015.

As novas unidades começaram a funcionar e permitiram um aumento de 15,3% na produção de 2013 para 2014, o que evitou que a Samarco registrasse redução de sua receita, mesmo com a queda no preço do minério de ferro no mercado internacional – aumento de R$ 7,2 bilhões para R$ 7,6 bilhões. Mas, quanto mais a empresa produzia, mais rejeitos pressionavam a barragem, que passava por obras registradas como complementares pela empresa. Um abalo sísmico de 2,55 na escala Richter próximo às barragens foi considerado de baixo impacto, mas pode ter sido decisivo para mexer numa estrutura sobrecarregada e provocar o acidente.

“O movimento sísmico num solo estável pode mexer com uma barragem daquela altura”, diz José Mendo de Souza, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração e sócio da J.Mendo Consultoria. “Mas é importante aguardar as simulações dos técnicos, que vão demorar alguns meses, para chegar a uma conclusão sobre impacto dramático.” Neste momento, não é possível afirmar se houve erro de cálculo de engenharia ou se a Samarco conhecia os riscos do aumento de carga sobre a barragem. Para uma empresa tida como benchmark do setor, seria muita irresponsabilidade a confirmação dessas hipóteses.

Mas é impossível não dizer que a companhia foi negligente. Em 2013, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)se mostrou contrário à renovação da licença ambiental para a operação da mina de Germano e da barragem de Santarém, por riscos de erosão e processos corrosivos. A recomendação era de monitoramento geotécnico e estrutural dos diques da barragem. Desde então, esses locais estão operando sem autorização (Fundão estava com a documentação em ordem). Mesmo com esse parecer, nenhuma era considerada de alto risco.

No Brasil, das 14.966 barragens catalogadas, apenas 24 receberam essa classificação do Departamento de Produção Mineral. E nenhuma estava ligada à Samarco. “Nenhuma barragem se rompe por acaso, isso não é uma fatalidade”, afirmou o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, do MPMG. O Ibama, o órgão de proteção ambiental, confirmou a multa de R$ 250 milhões pela catástrofe ambiental. É um valor pequeno se comparado às indenizações pagas por empresas que causaram problemas semelhantes em outros países. A British Petroleum concordou em ressarcir em US$ 18,7 bilhões os EUA e cinco estados mexicanos pelos danos causados com o vazamento de petróleo no Golfo do México.

Além dessa indenização, a BP calcula ter gastado US$ 44 bilhões com a tragédia. A Samarco dificilmente desembolsará um volume de dinheiro parecido. A prefeitura de Mariana estima em cerca de R$ 100 milhões o gasto para a reconstrução das casas. A apólice de seguro é calculada em R$ 1 bilhão. A ACE é a seguradora-líder nos danos à propriedade da Samarco e a Allianz, pela responsabilidade civil, que vai indenizar o prejuízo aos terceiros. Quando o processo de avaliação estiver concluído, esse deverá ser o maior seguro pago no País.

Até agora, a apólice de US$ 500 milhões da caldeira da CSN que explodiu, em 2006, em Volta Redonda, era o mais alto valor já pago por um acidente. “Em casos como o da Samarco, de grande apelo popular, fica chato para o mercado segurador negar uma cobertura”, diz um especialista em avaliar grandes obras. Procurada, a Samarco afirmou que só se pronunciaria por comunicados. Na quarta-feira 11, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, e o CEO da BHP, Andrew Mackenzie, visitaram a região atingida, ao lado do presidente da Samarco, Ricardo Vescovi.

No final, buscaram minimizar o impacto sobre a marca de suas empresas, mas não conseguiram esclarecer a causa do rompimento da barragem. A imagem das empresas foi danificada: as ações da Vale caíram cerca de 7% do dia do acidente até quinta. Décima maior exportadora do País e responsável por 20% da produção global de pelota de minério de ferro (utilizada para o ganho de produtividade na siderurgia), a interrupção da produção da Samarco provocará um aumento de preços no mercado internacional. Para suas controladoras, o impacto é menor: menos de 4% da produção total da Vale e cerca de 6% da BHP. Mesmo depois da limpeza, a lama continuará impregnada por muito tempo.

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20151113/uma-empresa-suja-lama/317189


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Comentários:
4
  • Carlos Santana disse:

    Fico aqui pensando em tanta falta de zelo com a vida humana e no jogo de interesse que envolve empresários,justiça,governos e mídia, penso que se fosse um acidente de uma empresa federal nesse momento já saberíamos se houve propina,os erros técnicos,comparações com acidentes mundialmente famosos e o custo de cada vida, já teríamos procuradores e juízes se pronunciando e a maior emissora de tv do país teria montado uma operação maior que a que montou em paris, os seus analistas já teriam dado definição de culpados e teríamos uma pressão enorme contra a presidente da república, mas como envolve políticos de uma outra “ideologia” e empresários que geram lucros para a mídia tratam do assunto com muitas reservas, onde estão as panelas?

  • Thiago disse:

    Ainda não entendi porque ministério público não responsabilizou criminalmente todos os envolvidos:
    – as empresas que foram diretamente responsáveis
    – os fiscais do ibama, secretário de meio ambiente, prefeito, governo estadual, ministro do meio ambiente e governo federal. ( por crime de responsabilidade )
    Antes que os petistas abram a boca pra defecar, incluiria o antigo governador por responsabilidade também nessa tragédia. Principalmente os políticos que não se preocupam com o meio ambiente, mas gostam de arrecadar com multas, e taxas, que envolvem o setor. Nenhuma ação emergencial foi feita pelo governador nem pelo ministério do meio ambiente, e em nome da arrecadação o estado e o município se acovardaram frente a esses grupos mineradores. Duvido que não houve propina para fazer vista grossa nas fiscalizações.
    E ai MP quando vcs vão tomar providências sérias e botar na cadeia todo esse pessoal.

    • Felisberto disse:

      Thiago, desde 2012 o MP de Minas Gerais investiga a venda, isso mesmo, venda de licenças para mineração:
      http://www.hojeemdia.com.br/noticias/adriano-magalh-es-vira-reu-por-prevaricac-o-1.286059

      O mais interessante (e que vai passando despercebido) é encontraram mercúrio na lama. Porém o mercúrio só usado para a extração de ouro. Detalhe, a Samarco nunca pagou impostos sobre um grama de ouro retirado da região.

      Vai ver é porque ali, na região de Mariana, não tem ouro, né ?!?

    • Jorge disse:

      Simples Thiago as mineradoras são fonte inesgotavel,para financiar
      as campanhas eleitorais,não sou eu pobre mortal que digo a imprensa
      muito acontra gosto noticiou os nomes de deputados da comissão
      de fiscalização que receberam verbas para eleições e eles não querem
      perder a boquinha(ona) fiscalizar quem financia suas canpanhas eles não
      são malucos