Acima, jogadores do Galo carregam Telê Santana na comemoração do título estadual de 1988: zagueiro João Pedro, João Leite, goleiro Rômulo e o meia atacante Marquinhos. Abaixo, Marcos Goto ao lado de Diego Hypolito na final do soloimagem: RicardoBufolin/CBG
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O São Paulo quer que a Prefeitura da capital paulista batize a avenida Morumbi como Telê Santana. Uma justa homenagem, a alguém cujos bons exemplos continuam fazendo escola. Marcos Goto, o técnico do ginasta Diego Hypolito, com quem o atleta divide os méritos da medalha de prata, é rigoroso e “chato” em seus métodos de trabalho, como o Telê: disciplina, repetição, repetição, repetição, concentração e imunidade às críticas externas ao ambiente de trabalho.
Telê era assim. Tive o prazer de vê-lo comandar o Atlético em 1987/1988. Nunca os repórteres que cobriam o Galo chegaram tão cedo e saíam tão tarde da Vila Olímpica, para não perder nada. Ele madrugava, chegava antes de todo mundo e era um dos últimos a ir embora. Passava pela rouparia, departamento médico, conversava com funcionários, com os repórteres que já estavam lá antes do treino, acompanhava o trabalho físico dos jogadores e depois entrava em ação com a bola rolando.
O recém promovido ao profissional Sérgio Araújo era de uma velocidade impressionante, mas errava muitos passes e chegava à linha de fundo e cruzava atrás do gol. Telê parava o treino e o fazia repetir os passes e cruzamentos, até acertar a maioria. Terminado o coletivo, sol a pino das 11h30, ele chamava o jogador e iniciava uma nova série de repetições, até que ele acertasse, no mínimo, sete em dez cruzamentos.
Fez a mesma coisa com o lateral Carlão, de uma força e fôlego impressionantes, mas ruim de cruzamentos. E deu certo, também. Na decisão de campeonato mineiro de 1988 o Cruzeiro tinha um time bem melhor e era favorito. Mas Sérgio Araújo deu um passe pro Carlão, que cruzou na cabeça do centroavante Jason, e deu Galo, 1 a 0. Resultado das repetições do Telê!
São incontáveis os exemplos. E o zagueiro Júnior Baiano? Tido como indisciplinado e porradeiro no Flamengo, foi contratado pelo São Paulo a pedido do Telê, e se tornou um dos melhores do país, titular na Copa do Mundo da França em 1998.
Por essas e outras o saudoso Telê continua vivo na memória e nos bons exemplos do futebol brasileiro, e toda homenagem a ele é justa.
Reveja o lance do gol do título do Galo, com narração do também saudoso Fernando Sasso:
E aqui, reportagem do Uol sobre o Marcos Goto, técnico do Diego Hypolito:
* “Linha dura e alheio a críticas. O homem que pôs Diego e Zanetti no pódio”
Fábio Aleixo e Guilherme Costa – Do UOL, no Rio de Janeiro
Disciplina quase de militar, trabalho duro e até veto à Rede Globo para participação no “Domingão do Faustão”. Foi com esta receita que o técnico Marcos Goto conseguiu fazer de Diego Hypolito medalhista de prata do solo nos Jogos Olímpicos em pouco mais de dois meses de trabalho. Uma receita que já tinha se provado acertada com Arthur Zanetti, campeão olímpico em Londres e que nesta segunda-feira buscará o bi nas argolas.
Goto, de 48 anos e 1,54 m de altura, é um treinador obcecado pelo trabalho e que não tem medo de bater de frente com ninguém. Blindar seus atletas para que possam se focar nos treinos é sempre sua prioridade. E não se importa com qualquer tipo de crítica que possa surgir. Nesta reta final para a Olimpíada do Rio, inclusive, fez os atletas se retirarem das redes sociais para não se deixarem influenciar por elementos exteriores.
Treinar para esquecer o resto
Sem medir palavras, Goto, sempre autêntico, diz dar de costas para críticas que possam surgir ao seu jeito de trabalhar e à proteção excessiva aos atletas.
“Pode criticar à vontade. O resultado está aí. O único jeito de se dedicar aos treinos e conseguir o êxito era blindar, e isso foi bem feito. Está aí o resultado da blindagem”, afirmou Goto.
Para fazer Diego esquecer as quedas nas Olimpíadas de 2008 e 2012, o treinador fez o ginasta treinar de forma excessiva. Para ele, o melhor jeito de evitar erros é por meio de repetição e dedicação integral do início ao fim de cada atividade.
“O único modo para deixar estes erros paras trás, era treinar mais, fazer muitas repetições, e foi o que conversei com ele. O Diego seguiu tudo à risca. Eu dizia que ele tinha de suportar a intensidade. Ele saía morto do ginásio. Mas todas estas mudanças ajudaram no resultado”, afirmou Goto.
A disciplina é tida como mantra em seu cotidiano. “Minha escola, é a escola da vida. De conquistar as coias pela luta. Sou o treinador que prega pela disciplina. Sem disciplina não se chega a lugar nenhum”, prega o dono de duas medalhas olímpicas e que ainda poderá aumentar ainda mais a coleção.
Orgulhoso com o desempenho de Diego, Goto afirmou agora o ginasta estará liberado para extravasar na comemoração. Liberdade que não teve desde que começaram a trabalhar juntos em meados de junho.
“Agora ele está liberado para comemorar como quiser”.
“Só tenho a agradecer ao Marcos Goto que acreditou em mim quando ninguém acreditava, quando achavam que eu não devia fazer parte da equipe e ele disse que sim. Ele me ajudou muito nesta reta final”, reconheceu o mais novo medalhista olímpico do Brasil.
http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/redacao/2016/08/15/linha-dura-e-alheio-a-criticas-o-homem-que-pos-diego-e-zanetti-no-podio.htm
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E para quem não se recorda daquele time do Galo em 1988:
João Leite, Carlão, Flávio Marcos, João Pedro, Lourenço e Eder Lopes; Sérgio Araújo, Renato Morungaba, Jason, Wander Luiz e Marquinhos. Em meio aos jogadores, ao fundo, repórteres Afonso Alberto (boné branco), Paulo Rodrigues e Orlando Augusto.
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