Guimarães Rosa foi quem melhor retratou o tanto que é bom ser mineiro e o tanto que Minas Gerais é “bom demais da conta”.
Neste momento estou em Ouro Preto, outro paraíso da minha vida. Mais tarde, uma chegada em Mariana. No último fim de semana de julho eu estava em Conceição do Mato Dentro. Num dos próximos, Diamantina, onde não vou há uns meses. Difícil saber qual o melhor destino mineiro. São tantos, cada um com suas características peculiares! Termina amanhã o famoso festival gastronômico em Tiradentes. Nunca fui, mas ainda vou. Não dessa vez.
Já pensou se eu fosse enumerar as atrações imperdíveis de Minas? Não caberia nem na internet!
Voltando a Guimarães Rosa, somos conterrâneos. Sim, pois quando ele nasceu, Cordisburgo era um distrito de Sete Lagoas. Mas não é bom tocar nem de leve nesse assunto, porque senão o meu saudoso amigo Francisco Timóteo Pereira, ex-Secretário de Cultura da minha cidade, roseano e cordisburguense apaixonado, vai se revirar no túmulo ou reviver para brigar comigo.
Grande Timóteo! A cultura mineira deve mais homenagens a esse saudoso professor, que foi embora bastante antes da hora.
Convivo com Ouro Preto desde 1986, quando o Maurílio Vaz de Melo (Sabiá) veio estudar na Escola de Engenharia de Minas da UFOP. Passei a ser um “detento agregado”, da República Penitenciária, onde ele morava, e era conhecido pelo codinome “Alan-Bik”. Cachaceiro dos bons, hoje é presidente da Câmara de Vereadores de Cachoeira da Prata (a 35 km de Sete Lagoas). Certamente será prefeito lá futuramente.
Cheguei ontem, fui direito à Penitenciária rever aquele casarão espetacular e conhecer os “detentos” e “bichos”, novos e antigos. Detento é morador, bicho é calouro quer está pleiteando morar lá, na “batalha”, como manda o jargão deles. Daqui dois anos a República vai comemorar 35 anos de existência. Vim na festa dos 30, inesquecível.
Ontem, quando pegava estrada, liguei pro “Lesma”, ou melhor, Dr. Frederico Nastrini, hoje engenheiro da Ferrovia Centro Atlântica, quase contemporâneo de Penitenciária com o Alan-Bik, para combinarmos de estar aqui nos 35. Ele estava dentro de um avião em Confins, embarcando para um fim de semana com a patroa em Fortaleza.
Na Penitenciária, revi o “Tio Ted”, Mordaz e Magrão, da nova fornada de detentos, e quase engenheiros (na Peni, só são aceitos estudantes de engenharia), e conheci outros como o “Cráudio” e o Bicho, que ainda não tem condinome.
De lá, fui ao Acaso 85, um dos bares mais diferentes que já vi, tradicional em Ouro Preto. Excelente, cuja proprietária é a Maria Rigueira, gente da melhor qualidade, sobrinha do saudoso Mário Rigueira, ex-diretor do América e também jornalista e radialista.
A noite era criança, e como ninguém pode vir a Ouro Preto sem tomar umas no Antônio do Barroco, passei lá. Na Rua Direita, quase na Praça Tiradentes, onde conheci o Zé Raimundo, cliente e amigo do Antônio, gente boa, funcionário da UFOP.
O problema do Barroco é que é difícil sair de lá rápido, e só depois das três da matina fui curtir a Pousada do Arcanjo, na entrada da cidade, quase dois quilômetros de caminhada, com um frio da melhor qualidade, mas sem neblina, o que permitiu belas fotos dessa terra, onde eu acho que já vivi em outra existência. Possivelmente devo ter sido um crítico e opositor à dona Maria I, que ficou doida de pedra, Rainha de Portugal, que arrebentou com Tiradentes e demais Inconfidentes!
Essa história dos Inconfidentes é muito interessante e todo mineiro deveria conhecer ao pé da letra. A maioria de nós não sabe, porém, graças a Minas Gerais, a Inglaterra impulsionou a revolução industrial, e Portugal se sustentou durante, pelo menos uns 200 anos. E vivas eternos a Napoleão Bonaparte, porque graças a ele, Dom João VI veio para lo Brasil em 1808 e o Brasil tornou-se uma nação. Não fosse isso, estaríamos literalmente fudidos, porque Portugal só queria sobreviver às nossas custas, como fez com as colônias africanas. Com a vinda da Corte, tudo mudou, e os portugas foram obrigados a construírem um lugar decente para se viver.
Claro que isso nos custa caro até hoje. A corrupção endêmica, por exemplo, é eterna. Ouvi na CBN anteontem, que o Tomé de Souza, foi o maior ladrão de nossa história. Por volta 1550 ele superfaturou tanto as obras na construção de Salvador-BA, que quebrou a coroa portuguesa. O golpe foi tão violento, que Portugal, até então o dono dos mares, das grandes navegações e descobertas, nunca mais foi o mesmo, e virou o pária europeu, que só saiu da lama com a entrada na Comunidade Européia, agora, nos tempos atuais, tipo 1995. Foi Arnaldo Jabor quem falou!
Me parece um grande sujeito esse Jabor. Passei a admirá-lo mais depois que li o livro do Valter Clark, “O campeão de audiência”, que outro livro que todo brasileiro deveria ler. Especialmente para conhecer a história da imprensa do nosso país. Rede Globo, nem se fala!
Esta manhã fui ao Museu Inconfidência, onde estive há tantos anos que nem lembrava mais de nada. Das melhores coisas do gênero no Brasil. Com placa de reforma do governo Lula, 2006, teve impulsos, fundamentais das duas maiores lideranças que o nosso país republicano teve, por tudo que vi, convivi e li: Getúlio e JK. O primeiro trouxe os despojos dos líderes da Inconfidência, em 1942, e deu reconhecido da nação que eles merecem. O segundo, além de tudo que fez pelo nosso patrimônio histórico, adquiriu para o Museu, o relógio de Tiradentes, do dia em que ele foi preso. Estava até então, na mão de particulares que o arremataram originalmente num leilão logo após o enforcamento do danado, no Rio de Janeiro.
Do Museu da Inconfidência, a minha amiga Michele, que não tem nada a ver com a minha ex-mulher, quis visitar umas igrejas, com as obras de Aleijadinho e Ataíde.
Aproveitei e fui conhecer o “Bené da Flauta”, bar/restaurante que me foi recomendado pelo amigo Marco Antônio Falcone, que, pelo fato de ter apenas três anos, eu não conhecia. Tenho do privilégio de dizer, que conheço muitos dos bares e butecos dessas terras que amo de paixão, das cidades coloniais de Minas Gerais.
Bené da Flauta foi um artista ouropretano que tocava e fabricava instrumentos, como flauta e violão. Anti-dinheirista viveu como tal, contemporâneo de Sinhá Olímpia, outra doida do bem viver que a história de Minas registra, tema do carnaval da Mangueira, não sei de que ano.
Telefonei pro Marco Antônio Falcone, grande amigo dos tempos de Colégio Roma, da Rua Gonçalves Dias em BH, hoje produtor da melhor cerveja do Brasil, a Falke Bier. Disse a ele: “perguntar o que estou bebendo, é chover no molhado, mas me diga aonde estou?” Diante da dica “top de linha nacional”, ele respondeu: “Bené da Flauta”.
Sacanagem!
O lugar é brincadeira! Coisa rara no Brasil. Só vindo. Aliás, de onde estou escrevendo, desde às 13h45.
Fui recebido pelo Djalma, nota dez, depois pelo César, que me apresentou à cachaça “Caçador”, e depois pelo Jorge, gente boa demais da conta. Aí vieram o Luciano, e agora o Níveo, grandes figuras.
Neste momento, conheci a Yara, dona, junto com o marido Philipe, que apesar do “PH”, é nacional;
Tchau procês, porque a noite vai começar e eu estou aqui escrevendo feito um besta quadrada”
Inté!