Foto: Pedro Souza/Atlético
Ao contrário de um jogador de futebol, cujo corpo e rendimento são comprometidos com o passar dos anos, um treinador tende a se tornar melhor, já que adquire experiência, aprende com os erros alheios e principalmente com os próprios.
Cuca tem enorme crédito com o Atlético, onde acertou muito mais do que errou. Por outro lado a gratidão dele ao Galo e a Minas é gigante. Ao levar o clube à conquista da Libertadores, ele acabou com a sacana fama de “perdedor”, imposta a ele por boa parte da imprensa nacional. Gratidão recíproca, em via de mão dupla.
Tem tudo para voltar a fazer um grande trabalho na Cidade do Galo. Um elenco muito bom, em que faltam jogadores de qualidade em poucas posições e um momento diferente vivido pelo Atlético. O clube constrói estádio próprio, se prepara para entrar numa nova era. Para isso, a diretoria sabe que precisa investir, tem que montar grandes times, visando títulos, aproveitar o embalo da casa nova, turbinar o marketing.
Cuca sabe que precisa reforçar a zaga, que tem apenas Júnior Alonso, jogando em alto rendimento. Igor Rabelo é muito fraco; Réver tem 36 anos de idade. Precisa de lateral direito. Guga é fraco, Mariano foi uma contratação errada, não dá mais. A rigor, a defesa do Atlético tem o Alonso e o Arana, aliás, único jogador mineiro na lista da seleção do Brasileiro 2020. Não é à toa que foi uma das mais vazadas do campeonato. Por causa dessa fragilidade toda o Galo deixou escapar o título por três pontos.
Arrumando a defesa, com o grupo que tem e mais um ou outro “pontual”, Cuca tem em mãos, ótimo material humano para brigar por grandes conquistas. Taticamente ele é um dos melhores treinadores do país.
Dentre as críticas que ouço e leio a ele, dizem que ele é adepto de “chutões” para frente, no afã de encontrar um atacante em condições de fazer gol. Nada a ver. Até os anos 1980, meados dos 1990, quando o futebol brasileiro tinha grandes “lançadores”, isso era comum. Passes de longa distância, que teve em Didi “folha seca”, Gérson o “Canhotinha”, Rivelino, Zenon (Guarani de Campinas, Atlético…), Pita (Santos), Neto, Cerezo, Nelinho e Éder como ícones, eram comuns.
Especialmente estes três últimos, que tive o prazer e honra de ver de perto, em treinos e jogos, já que eu era repórter setorista do Galo.
Da lateral direita, Nelinho punha a bola na cabeça, peito ou pé de colegas na extrema esquerda do campo ou dentro da área adversária. Da esquerda para a direita o Éder fazia a mesma coisa, com uma facilidade assustadora, que nos fazia pensar que aquilo era normal.
Estes passes e lançamentos geniais seriam chamados de “chutões” atualmente. Ora, ora, o que falta hoje é jogador que saiba fazer isso. Não se trata só de “querer” fazer. Tem que ter talento e muito treino. Nossos melhores jogadores vão jogar no exterior cada vez mais precocemente, ficando as sobras e os foguetes molhados.
Em 2013, Cuca tinha Rever para fazer estes lançamentos com competência e encontrar um Bernard ou um Jô na extrema esquerda ou miolo das zagas adversárias e as coisas aconteciam. E muita gente boa da imprensa dizia que eram “chutões”, levando muitos torcedores de boa fé a acreditar nessa inverdade e injustiça.
A esperança é grande. Cuca tinha uma retaguarda de rara competência, como Alexandre Kalil e Eduardo Maluf. Era o nome preferido agora do presidente Sérgio Coelho, que certamente fará de tudo para dar a ele este devido suporte fora de campo.