João Chiabi Duarte é uma das pessoas que mais conhecem de futebol que conheço, e um grandes cruzeirense, tradicionalíssimo, cujas opiniões são muito respeitadas, especialmente no mundo azul. Ninguém melhor que ele para expressar o sentimento dos torcedores da Raposa neste momento. Reproduzo aqui a coluna dele no site www.debatezeiros.com :
“… Creio que o momento de trocar o treinador acontece quando os jogadores deixam de acreditar nas ideias do técnico, quando ele perde o vestiário, combinando isto tudo com futebol fraco e sem resultados. A opinião do Pedro Lourenço (Supermercados BH) após o jogo foi muito enfática. Expressou a tristeza de todos os cruzeirenses após a partida de hoje …”
* Mundo Azul,
☻Hoje foi triste:Cruzeiro1 x 2América-MG – O Cruzeiro vinha de vários jogos e resultados ruins em sequência: empate com o Confiança, derrota para a Chapecoense e empate com gosto de eliminação frente ao CRB. Não tinha desculpa de campo ruim, não tinha desculpa dos atos do adversário fora de campo, mas, fez contra o América-MG uma partida de dar calo nas vistas e deixar a nós seus torcedores muito preocupados. A razão é muito simples, o time INVOLUIU, conseguiu piorar o que já era ruim. Pode parecer implicância, mas, desde a volta de Henrique o Cruzeiro não conseguiu fazer um resultado de vitória sequer. Mas, a meu ver a culpa não é só dele, mas, passa pelas escolhas de Ederson Moreira.
Pela escalação inicial, Enderson Moreira armou o time num 4-3-3 típico, com linha de 4 zagueiros, 2 volantes e um meia centralizado, 2 pontas à moda antiga e um centroavante. Mas, encontrou imensas dificuldades de superar o time do América, armado num 4-4-2 muito inteligente na hora de ocupar os espaços, que explorou com competência os pontos fracos do Cruzeiro e fez um 1º tempo primoroso, fazendo 2 x 0 sem sofrimento e impondo ao time celeste uma das mais melancólicas jornadas.
O Cruzeiro colocava os 3 da frente para tentar marcar a saída de bola, porém, a marcação era mal feita de forma que raramente o América tinha que recorrer aos famosos chutões. Saia jogando sem dificuldades com Messias, Eduardo Bauermann ou João Paulo. E quando a bola caia nos pés de Juninho, Alê ou até mesmo de Zé Ricardo (o verdadeiro center-alf moderno, que se aproxima, triangula, passa bem e também combate o adversário fazendo os desarmes sem se recorrer às faltas), os passes procuravam Toscano, Matheusinho ou Rodolfo que faziam as jogadas de infiltração inteligentes e abusavam da rapidez, explorando as costas dos volantes e especialmente de Giovanni.
Enderson Moreira para tentar compactar o time, trazia os volantes e zagueiros para bem perto da área. Como consequência disso, Régis e também os homens de frente acabavam recuando ficando numa região híbrida do campo sendo todas as iniciativas de ataque desarmadas pela defesa do América, com inteligência. Vez por outra Aírton saia, driblava, um, dois ou três, mas, o quarto vinha e fazia o desarme, porque os outros não se aproximavam dele para serem opções. Cáceres prudente e corretamente guardou mais posição, porque do lado dele se deslocava Matheusinho que é o mais virtuoso atacante americano. O América literalmente destroçou o meio-campo do Cruzeiro, onde Ariel Cabral se desdobrava tirando as bolas de qualquer jeito.
Num destes lances de córner, a bola foi devolvida para a área e Léo e Giovanni subiram com Eduardo Bauermann, a bola sobrou para Rodolfo que pôs na área e Eduardo Bauermann chapou a bola para vencer a Fábio e abrir o placar.
Se a coisa estava ruim antes deste 1º gol, senti que o controle emocional do time foi para o espaço com a vantagem a favor do América, o Cruzeiro passou a errar passes demais, numa destas ocasiões, o erro foi de Ariel Cabral na saída de bola. Juninho retomou e de cara deixou Rodolfo livre nas costas de Giovanni. Ele cruzou para Matheusinho no 2º pau, ele chutou a 1ª vez e Cáceres evitou o gol, mas, o próprio Matheusinho pegou o rebote e não chegou ninguém no socorro, o garoto americano não vacilou e fez o 2º gol.
O Cruzeiro estava literalmente dominado. E, para nossa sorte, fomos para os vestiários com uma diferença de 2 gols, porque a vitória poderia ter sido mais dilatada se o América não errasse alguns passes de preparação. Se fosse jogo com torcida a vaia teria sido violenta, porque a rigor o Cruzeiro não fez nada. Nem com a bola rolando e menos ainda com as jogadas de bola parada.
Temos algumas pessoas que adoram dizer que o time não tem PADRÃO DE JOGO. Mas, na minha opinião tem, só que é muito ruim e as peças escolhidas para a execução são equivocadas. O Cruzeiro realmente está intragável. Difícil de assistir.
Com o jogo à feição do América, com a vantagem no placar Lisca Doido, que de maluco não tem nada, trouxe o time um pouco para trás e deu a bola para o Cruzeiro na etapa final. De cara as entradas dos garotos Mateus Pereira (Giovanni), Jadsom (Ariel Cabral) e Maurício (Régis) deram uma melhorada na dinâmica do jogo cruzeirense. Mas, Henrique que não tinha feito nada de positivo na etapa inicial ficara em campo, saindo Ariel Cabral que pelo menos se esforçava. Henrique gosta da bola nos pés, mas, está visivelmente fora de ritmo, fora de sintonia e continuou errando muitos passes. Não lhe faltou esforço, mas, ele começou a partida e até sua saída correu errado em campo. Enderson sacou Henrique (Felipe Machado) e depois Marcelo Moreno (Thiago). O Cruzeiro diminuiu numa fantástica cobrança de falta de Arthur Kaike, mas, não foi o suficiente para conseguir o empate. Afinal de contas, o América soube controlar a partida nos minutos finais e o Cruzeiro não teve chances concretas de gol. E o jogo acabou com vitória merecida do América.
♣ OPINIÃO DO COLUNISTA: Enderson Moreira treinou o Cruzeiro em 3 partidas pelo Campeonato Mineiro, 1 pela Copa do Brasil e 6 pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Penso que se ele continuar será preciso mudar a forma de encarar o elenco e a competição. A Série B é uma competição que exige muita entrega, velocidade, marcação apertada e que muitas vezes exporá o time a situações adversas, coisas extra-campo que não deveriam mais existir, mas, estão aí. Chega de vestibular no Cruzeiro. É hora de colocar em campo os jogadores que estiverem tendo melhor rendimento. Isto tem que ser parte do nosso cotidiano. Hoje Régis pelo menos tentou alguma coisa, mas, o Cruzeiro se posicionou mal e correu errado. Cito alguns fatos:
- Marcelo Moreno está voltando demais para participar do jogo, acaba não estando na área na hora que os colegas o procuram para a finalização.
- O Cruzeiro está compactando atrás da linha de meio-campo, talvez em função dos nossos volantes lentos. Vejam como a situação mudou com Felipe Machado e Jadsom, o América praticamente não chegou no fim do jogo.
- Maior reconhecimento às figuras de Ariel Cabral e Henrique, mas, o Cruzeiro não pode entrar em campo com ambos nos sistemas 4-2-3-1 ou 4-3-3, não tem como manter 2 volantes com o perfil lento em campo. O time fica fraco defensivamente e tem uma transição muito lenta, sendo presa fácil para qualquer sistema de marcação decente.
- Depois de ver João Lucas, Patrick Brey, Giovanni e Rafael Santos afirmo sem medo de errar que o Mateus Pereira é o melhor que temos pra escalar neste momento.
- Se o Cruzeiro precisa fazer caixa não vai ser com os medalhões em campo que vamos valorizar os nossos atletas. Desta forma os 4 garotos que já despontaram precisam estar no time… Cacá, Jadsom, Maurício e Thiago, junto com o Mateus Pereira serão 5 da base.
- O Cruzeiro escalando volantes mais ágeis poderá fazer a marcação mais adiantada sufocando ao adversário, recuperando as bolas no campo deles, sobrando oxigênio para a tomada de decisão… Este negócio de compactar atrás da linha de meio-campo e fazer gol como o do Wellington no campeonato mineiro não acontece todo dia e é raro na série B, exceto nos finais dos jogos.
- Arthur Caike será um jogador de muita valia para o Cruzeiro nas bolas paradas. O Cruzeiro deveria concentrar seus treinamentos nos lances de bola parada ofensiva, porque tem sido raro o time fazer gols em lances de corners ou faltas com bolas alçadas na área (este ano lembro do gol da virada de Léo).
Creio que o momento de trocar o treinador acontece quando os jogadores deixam de acreditar nas ideias do técnico, quando ele perde o vestiário, combinando isto tudo com futebol fraco e sem resultados. A opinião do Pedro Lourenço (Supermercados BH) após o jogo foi muito enfática. Expressou a tristeza de todos os cruzeirenses após a partida de hoje. (mais…)