Alguns comentaristas aqui do blog escreveram que o Liverpool “tirou o pé” na final contra o Flamengo, mais preocupado com a reta final do campeonato inglês. Têm boa dose de razão, mas isso não tira o brilho do Flamengo, que foi pra cima e não se intimidou.
O Liverpool dessa vez valorizou mais essa disputa do que a de 1981, quando foi apenas “cumprir” tabela naquela final contra o mesmo Flamengo e tomou de 3 a 1. O resultado gerou consequências que os ingleses não previam, por isso, dessa vez, tratou essa final com mais seriedade. Em 1981 jogadores e comissão técnica viajaram para a final em ritmo de férias, tomando todas. Muitos chegaram bêbados para o jogo, conforme relataram alguns que entraram em campo. A Folha de S. Paulo publicou no dia 11 de dezembro, reportagem muito interessante sobre aquela final:
* “Derrotado pelo Flamengo, Liverpool chegou bêbado ao Mundial de 1981”
Ex-atletas da equipe inglesa relembram clima de certo descompromisso com o jogo
Caio Carrieri
Liverpool
O técnico Bob Paisley entrou constrangido no vestiário do Estádio Nacional de Tóquio. Pediu desculpa aos jogadores do Liverpool e disse ter errado na preparação para o jogo. Estava preocupado com a imagem deixada aos patrocinadores do clube que foram assistir ao campeão europeu e viram “um time de pub”, na definição do treinador.
Após apenas 45 minutos, o placar marcava 3 a 0 para o Flamengo no início da tarde na capital japonesa, em 13 de dezembro de 1981.
Dois anos antes, os ingleses, então bicampeões europeus, haviam se tornado o primeiro clube do país a ter uma marca de empresa estampada no uniforme. O embaraço de Paisley era consequência da atuação ruim e da derrota elástica justamente na cidade-sede da Hitachi, gigante japonesa de eletrônicos que patrocinava o time.
Nunes, duas vezes, e Adílio marcaram os gols que consagraram o Flamengo de Zico campeão mundial em jogo único. Trinta e oito anos depois, com o torneio em outro formato, chancelado pela Fifa, as equipes podem se reencontrar na decisão do próximo dia 21, em Doha, no Qatar, caso passem pelas semifinais.
O pedido de desculpas de Paisley foi relatado à Folha por atletas do Liverpool que estiveram na final de 1981. Morto em 1996, aos 77 anos, o técnico é o mais vencedor da história do clube, com 20 títulos em nove temporadas, entre 1974 e 1983.
A lenda de Anfield também ostenta a marca de ser um dos únicos três treinadores a conquistarem o tri da Copa da Europa, que deu origem à Champions League. Carlo Ancelotti e Zinedine Zidane se juntaram ao inglês posteriormente.
Para comemorar o que seria o centenário de vida do treinador no último mês de janeiro, o Liverpool veste na campanha atual um uniforme inspirado no último ano de Paisley no comando do clube. Além das listras brancas verticais sobre o tradicional vermelho do time, o uniforme tem uma assinatura do ídolo na parte interna da camisa. Eternizado na gloriosa história do Liverpool, Paisley não estava imune a falhas.
“Nossa preparação para o jogo foi muito ruim”, relembra Phil Thompson, capitão daquele Liverpool. “O clima que existia entre nós era de amistoso, e não imaginávamos que o Flamengo levaria a partida tão a sério. Éramos, de longe, o melhor time da Europa.”
Terry McDermott (à esquerda) e David Johnson, que disputaram o Mundial de 1981, com camisa atual do Liverpool – Caio Carrieri/Folhapress
Entre 1977 e 1981, a equipe se tornou tricampeã continental. No cenário doméstico, levantou seis ligas sob o comando de Paisley.
Da equipe titular que enfrentou o Flamengo, seis estariam na Copa do Mundo do ano seguinte com as suas respectivas seleções —três ingleses e três escoceses.
A partida contra os brasileiros e, principalmente, a viagem para o Japão eram vistos como inconvenientes para o calendário do clube, que tinha como prioridade as conquistas do Campeonato Inglês e a Copa da Europa.
“Antes do jogo, Paisley disse: ‘vamos ao Japão, fazemos o que marcaram para nós e voltamos para Liverpool o mais rapidamente possível'”, lembra Thompson, que vestiu a camisa do Liverpool em 477 partidas e foi campeão 22 vezes (sete ligas e três Copas da Europa).
No voo, o ambiente era de férias, com direito a bebidas alcoólicas. (mais…)