Sergio Bocage. Márcio Guedes, Zico e o ex-volante Zé Mário, atual presidente da Federação Brasileira de treinadores de futebol, durante o programa no Mundo da Bola, da TV Brasil.
Há alguns dias transcrevi ótimo artigo do Gustavo Fogaça Guffo – @pitacodoguffo da Rádio Gaúcha e do blog “Esquemão”, do portal Zero Hora, em que ele descrevia detalhadamente o uso competente que o Grêmio faz das estatísticas e a importância deste mecanismo para que o time jogasse o melhor futebol do Brasil. Frisei que era um texto do mês de junho, quando nem mesmo os gremistas achavam que o título da Libertadores seria conquistado.
O José Eduardo Barata, um dos mais assíduos e atentos comentaristas aqui do blog, já começou detonando o artigo pelo título “O Grêmio e o Futebol Orgânico”, e iniciou um ótimo debate aqui sobre a eficácia das estatísticas no futebol. Outro importante comentarista do blog, Régi-Galo, escreveu hoje: “Ô Barata,
Desde a sua definição de ‘bando de sardinhas’ e ‘Pai do Roger’ que eu não paro de rir dessa estória.
Por favor, estatisticamente, foi apenas uma brincadeira (para mim, hilária)!!!”
O Barata respondeu no mesmo tom, irônico e bem humorado: “REGI.GALO ,
quando das minhas intervenções por aqui você
tem se mostrado :
– em concordância com minhas ideias = 49%
– satisfeito por se distrair com elas = 31%
– alheio ao comentário = 17%
– em oposição = 03%
Acredito que os meus dados estejam dentro
da margem de erro :
2,7% para mais ou para menos .
Me corrija se estiver errado”
O Alissom Sol mora nos Estados Unidos e é defensor das estatísticas. Vem travando um interessante debate com o Barata. Num de seus comentários, disse: “…nada tenho contra os chamados craques, e todos gostamos de vê-los jogar. Contudo, a desobediência tática sistemática encorajada no Brasil é que gera casos como o goleiro “Muralha”, do Flamengo: apesar de inúmeras falhas anteriores, ainda insiste em driblar e arriscar perder a bola, jogando por terra o trabalho do time inteiro devido às suas “convicções pessoais”. Isto não é aceitável em nenhum outro lugar do mundo.
Ganhou repercussão internacional após a última Copa a frase “Portugal tem [Cristiano] Ronaldo, o Brasil tem Neymar, a Argentina tem Messi, mas a Alemanha tem um time!” (link). Usaram estatísticas na seleção de jogadores, na preparação, esquema tático, seleção do local para a base de treinamento, etc. Não deve valer nada, não é mesmo? Talvez com um improviso aqui e ali o Brasil até ganhe a Copa de 2018. Mas Tite já está errando ao ir contra suas próprias convicções de “levar os jogadores no melhor momento”, ninguém no Brasil sabe qual o esquema tático do time, e escolheram uma base de treinamentos e agora já começam a reclamar da mesma pois vai gerar enormes deslocamentos na fase de grupos (veja em um mapa onde está Sochi: link, e pense se você não escoheria uma base mais central). O lema do Brasil continue: Que se dane a Estatísticas e análise de dados, e viva o improviso!..”
Entrando no mérito dessa discussão, tenho convicção de que as estatísticas são importantes em qualquer atividade humana, inclusive no futebol, mas também não tenho dúvidas de que há um exagero na valorização disso em nosso futebol, principalmente por grande parte da imprensa. Também nas comissões técnicas com seus departamentos médicos, de fisioterapia e fisiologia. Usam estatística para tirar jogadores de determinadas partidas, de forma absurda. Muitos treinadores só escalam o time depois de ouvir os fisiologistas, fisioterapeutas e médicos.
Agora há pouco, usando o controle remoto na busca de algo interessante para assistir na TV, tive a satisfação de ver o Zico dando uma aula sobre futebol e falando verdades sobre esta “lambuzada” na utilização de dados estatísticos no futebol atual pelos profissionais brasileiros. E deu como exemplo o Real Madri, cujo último treino antes da final da Champions contra a Juventus, ele teve a oportunidade de assistir. Segundo Zico, o Zidane comandou um treino que fez lembrar o que se fazia no Flamengo há 30 anos. Treinava-se até à véspera o que se pretendia que fosse feito no jogo no dia seguinte. Nada de poupar esforço ou jogador. E dava certo, como deu certo para o Real Madri nessa final. O ex-camisa 10 usou algumas expressões usadas pelo José Eduardo Barata, como frescura demais no futebol atual, o que faz com que os jogadores se acomodem e passem a se sentir de “louça”, que podem quebrar a qualquer momento. Aí começam a dizer que jogaram tantas partidas na temporada, que estão cansados, prestes a se machucar e que precisam passar o fim de semana com a família, para relaxar. Zico e Zé Mário lembraram que no tempo deles jogava-se mais de 80 partidas por temporada e hoje não se chega a 70.
É o que penso também sobre estatística: importante sim, mas usada de forma equivocada e exagerada em incontáveis situações no futebol verde e amarelo. Com direito a muito curioso ou picareta dando uma de “expert”, na imprensa e nas comissões técnicas.
Márcio Guedes, Zico e Zé Mário.