Dona Terezinha (esquerda) e Célia Bonifácia Diniz (1928-2017), em homenagem feita pelo Atlético
O Mestre Kafunga dizia que todas as homenagens a ele deveriam ser feitas em vida, para que pudesse curti-las. Aproveitava para pedir votos pra vereador. Falava em seu programa “Papo de Bola”, na hora do almoço pela TV Alterosa: “Aí, você da poltrona, com o prato na mão. Se gosta de mim e quer me homenagear, chegou a hora, hein!? Dia 15 de novembro, quando for votar, não se esqueça de mim!”. Foi vereador em Belo Horizonte por quatro mandatos.
Fiquei muito triste com a morte da querida D. Célia, a “Tia Célia”, sinônimo da criançada mascote em todo jogo do Galo, desde que me entendo por gente. De simpatia e simplicidade incríveis! E gostei demais do destaque que a Folha de S. Paulo deu a ela, num belo texto no obituário, uma seção cujos homenageados são escolhidos a dedo.
A homenagem também do blog à Tia Célia, com o meu agradecimento, a nossa eterna saudade, e a transcrição da reportagem da Folha, publicada domingo, dia 8:
* “CÉLIA BONIFÁCIA DINIZ (1928-2017)”
Mortes: Tia Célia realizou o sonho de crianças atleticanas por 37 anos
Adolescente, Célia ajudava a mãe no serviço na casa de Kafunga, mítico goleiro do Atlético Mineiro. De tanto lavar e passar, pegou olho: cerzia os uniformes desfiados e, quando percebeu, já fazia as golas das camisas do patrão.
Tudo em sua vida remeteu ao alvinegro. Aprendeu o ofício de costureira remendando os panos de Kafunga; as lembranças da infância eram na cacunda do pai, a vista por cima das cabeças da multidão na arquibancada de Lourdes.
Casou-se com o atleticano Manuel, o Mineirão foi erguido, ela acompanhando o Galo feito procissão, a lata com frango e farofa num braço, as crianças pequenas no outro.
Em 1977, o filho Carlinhos entrou em campo junto com os jogadores. Durante os 37 anos seguintes, ganhou aposto: virou Tia Célia, coordenadora de mascotes mirins do Atlético –era ela quem reunia as crianças nos portões do estádio e as punha de mãos dadas com os ídolos no túnel que dava no gramado.
“No começo, ela levava os meninos do bairro dela e eu os do meu, a diretoria pagava os ônibus”, lembra dona Terezinha, com quem dividiu o posto durante o período.
O cargo era voluntário, mas Célia fazia ainda mais. Devota de Nossa Senhora, todo jogo emprestava sua santinha para o altar do vestiário.
Em 2015, a CBF limitou o número de mascotes, e o clube restringiu as vagas a sócios-torcedores. Célia ficou sem função. Mesmo assim, foi homenageada no último dia 24, antes de um jogo contra o Vitória. Foi a última vez que pisou num campo de futebol.
Morreu nesta terça (2), aos 88, de câncer. Deixa nove filhos, 18 netos e 22 bisnetos.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1925322-mortes-tia-celia-realizou-o-sonho-de-criancas-atleticanas-por-37-anos.shtml