Foi na Argentina, mas no Brasil casos semelhantes ocorrem frequentemente. Esta foto registra o momento em que um torcedor do Belgrano era atirado da arquibancada do estádio Mário Kempes, em Córdoba, durante o clássico contra o Talleres. Estive neste belo estádio na Copa América de 2011, cuja arquibancada faz lembrar a do antigo Mineirão, bem alta, em que a geral ficava embaixo.
Notícia da Folha de S. Paulo, que conta a dramática história de uma família, que perdeu dois filhos em condições impossíveis de se aceitar:
* ‘O futebol está doente’, diz pai de torcedor atirado de arquibancada
Emanuel Balbo é jogado da arquibancada durante clássico entre Belgrano e Talleres, no sábado (15)
A história já se tornou conhecida na Argentina. O presidente da AFA (Associação Argentina de Futebol), Claudio Tapia, telefonou para Raúl Balbo. Perguntou se ele precisava de alguma coisa.
“Sim. Preciso de um filho”, respondeu Balbo.
Emanuel, filho de Raúl, morreu na segunda (17). Ele foi atirado da arquibancada do estádio Mario Kempes, em Córdoba (700 km de Buenos Aires), durante o clássico entre Belgrano e Talleres, disputado no sábado (15).
“Ele [presidente da AFA] queria ajudar. Tarde demais. Ninguém pode ajudar. Ninguém pode devolver a vida do meu filho”, disse Balbo à Folha, por telefone.
Seis pessoas envolvidas no crime já foram presas. Outras duas são procuradas pela polícia.
De acordo com a Salvemos al Fútbol (Salvemos o Futebol, em espanhol), organização não governamental que combate a violência no esporte, Emanuel foi a 318ª morte ocorrida na Argentina por violência de torcidas.
Além do crime em si, o caso mobiliza o país pela história por atrás do assassinato de Emanuel Balbo.
“O futebol está doente. A dor é indescritível. A dor de quem não consegue dormir, de quem não consegue comer. A dor de quem perde filhos por causa da violência”, completa o pai de Emanuel.
Filhos. No plural. Há quase cinco anos, Augustín Balbo, irmão de Emanuel, foi morto, atropelado por um veículo em alta velocidade que disputava racha pelas ruas de Córdoba. Os detidos pelo crime ficaram presos por um mês e, em seguida, liberados.
Emanuel viu um dos envolvidos, Oscar Gómez, conhecido como “Sapito”, na arquibancada do estádio.
Começou uma discussão e Gómez gritou que Balbo era torcedor do Talleres.
O mando do jogo era do Belgrano, time do coração de Emanuel. Na Argentina, assim como nos clássicos em São Paulo, é proibida a presença da torcida visitante.
Pessoas que estavam próximos ao bate-boca não quiseram conversa. Diante da acusação, agrediram Emanuel Balbo e o atiraram da arquibancada superior. Na queda, a vítima bateu a cabeça. Agonizando no chão, teve os tênis roubados.
“Algumas pessoas que participaram desse ato selvagem não têm antecedentes criminais. Isso é o que nos assusta. Como explicar? Como podem se comportar de uma forma daquelas quando entram em um estádio de futebol?”, questiona Diego Hak, chefe de segurança de Córdoba.
Abalado, o pai de Emanuel diz não ter assistido as imagens do filho em queda livre. E não pretende ver jamais. Assim como promete jamais entrar novamente em um estádio de futebol.
“Como alguém pode tomar uma atitude dessas contra uma pessoa que sequer conhece? Havíamos feito uma aposta para o resultado do jogo…”, confessa, ele sim torcedor do Talleres, afirmando que o perdedor no clássico compraria quatro quilos de carne para o “assado” (como é chamado churrasco na Argentina) do dia seguinte. (mais…)