O Brasil vai se consolidando dia a dia como um “depósito de gente”, onde a vida das pessoas pouco ou nada vale. Este acidente na Linha Amarela, no Rio, ontem é apenas mais um exemplo. Agora há pouco a Globo mostrava imagens de dezenas de caminhões passando no mesmo local, apesar da proibição, e menos de 24 horas após a morte de quatro pessoas e um transtorno colossal.
Tudo provocado por um irresponsável, que, na certeza da impunidade, transitava pelo local com a caçamba levantada, possivelmente para esconder a placa da visão das câmeras de vigilância.
Por falar em vigilância onde ela estava? Em qualquer país civilizado do mundo, qualquer movimento irregular de veículo em vias muito movimentadas a polícia aparece logo.
Aqui, não acontece nada. O marginal que provocou o acidente de ontem já deve estar cuidando da vida, aguardando o momento de pegar um novo caminhão para dirigir e cometer outros crimes, lá mesmo, ou em outro lugar do país.
E essa tragédia para várias famílias do Rio só virou notícia em rede nacional porque ocorreu numa das principais vias da cidade das Olimpíadas de 2016.
Este tipo de irresponsabilidade de motorista ocorre a todo momento no país todo. Peguem as nossas estradas e avenidas, onde transitamos quase que diariamente: BRs 040, 381 e etecetera e tal.
Caminhões e automóveis sem condições de trafegar, cargas com peso acima do permitido, manobras absurdas, excesso de velocidade e por aí vai. Sem fiscalização e sem um canal para onde você possa ligar e denunciar.
Anteontem, na Br-110, na Bahia, um trator caiu de um caminhão, atingiu um ônibus da Gontijo, matando 14. Sim, senhoras e senhores: 14 pessoas mortas em conseqüência de uma carga irregular.
E quando alguém consegue denunciar, o policial ou outro agente público diz que “infelizmente” não pode fazer nada porque não há viatura para ir ao local no momento, ou que o equipamento está estragado e bla bla bla…
Sem falar na transferência de responsabilidade. Duas semanas atrás, às 7h30, um comerciante amigo meu estava a caminho da Ceasa, acompanhado por um funcionário e um neto. Trafegava por uma estrada de terra de acesso à Br-040 e quando faltavam 100 metros para chegar ao asfalto, foi interceptado por dois motociclistas, ladrões armados com revólveres, que lhe tomaram o dinheiro com o qual faria as compras e ainda o agrediram.
Coincidentemente passava uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, que atendeu aos acenos desesperados dele. Muito gentis e solícitos, os agentes ouviram atentamente a história, mas . . . disseram ao assaltado e agredido que “infelizmente” ele teria que ligar para a Polícia Militar, que era a responsável por aquela jurisdição!
E assim fez o comerciante que ficou no local até às 11h30 (isso mesmo, quatro horas de espera). A PM chegou, também muito gentil e solícita, registrou a ocorrência e lamentou o ocorrido, com a clássica frase de consolo a uma vítima: “Pois é! Estes bandidos estão cada dia mais ousados; ainda bem que não machucaram o senhor, o seu funcionário e o seu neto”.
Certamente estes dois ladrões continuam assaltando várias outras pessoas por aí.
E vida que segue!
O pior de tudo é que estes acidentes nunca ou raramente atingem um político ou autoridade, dessa turma que tem o poder para mudar este quadro e não muda.
Eles e parentes estão sempre bem protegidos ou trafegando de avião, helicóptero ou em carros blindados e com batedores.
Neste acidente da Linha Amarela, morreram estudantes, trabalhadores, e um taxista.