O Marechal Deodoro gritou “Viva o Imperador” quando destituiu o Ministério de Dom Pedro II, e não proclamou a república; aí, vereadores republicanos do Rio usaram o jornal do abolicionista e monarquista José do Patrocínio para soltar um manifesto de instauração do novo regime, dizendo que a “multidão” (meia dúzia de intelectuais) estava diante do prédio da Câmara exigindo o fim do Império, e que o povo seria ouvido através do voto para decidir qual tipo de governo deveria ser adotado. José do Patrocínio que criara uma guarda de negros para proteger o que seria o “terceiro reinado” da Princesa Isabel, aderiu aos republicanos.
O plebiscito que confirmou a república no Brasil só ocorreu 104 anos depois, em 1993.
Recorri a estes fatos da nossa história narrados no ótimo “1889”, de Laurentino Gomes, para lembrar que nenhum brasileiro deveria estranhar casuísmos e acordos espúrios na política contemporânea e muito menos no futebol.
Na ditadura militar criaram as figuras dos prefeitos, governadores e até senadores “biônicos”, colocados nos cargos, sem o voto popular. Sarney era nome forte do regime militar virou vice do então candidato a presidente Tancredo, que antes de ser empossado, morreu, e o maranhense que não tomou posse como vice, ficou com o cargo
O mesmo Sarney que manda no país até hoje. Fernando Henrique Cardoso cometeu casuísmos para aprovar a reeleição e se beneficiar dela. Depois, o “esquerdista” Lula ganhou a eleição e nomeou como presidente do Banco Central, Henrique Meireles, que acabara de ser eleito deputado de Goiás pelo “neo-liberal” PSDB. Dilma derrotou José Serra usando o discurso de que o tucano iria privatizar a Petrobras.
Três anos depois, Dona Dilma privatiza grande parte do pré-sal, considerado a “redenção” do país.
Durante a maior parte da sua história o Brasil foi governado pela política “café-com leite” da união Minas e São Paulo; nas últimas décadas, paulitas e nordestinos passaram a mandar.
No futebol, Rio e São Paulo sempre mandaram na organização dos campeonatos e nas arbitragens.

Em 1974 a então CBD levou a final do Brasileiro para o Maracanã, quando deveria ser no Mineirão.
Como o Cruzeiro iria ganhar mesmo assim, Armando Marques ajudou o Vasco a ser campeão no apito.
O ano de 1981 ficou tristemente famoso quando José Roberto Wright, pela Libertadores, “operou” o Atlético a favor do Flamengo, que seria na sequência campeão da América e do mundo.
O ideal é que fosse diferente, mas em um país de casuísmos onde a sociedade se divide em blocos do “eu sozinho”, e “farinha pouca, meu pirão primeiro”, não serei hipócrita e condenar Atlético e Cruzeiro por usarem, para se defender, as mesmas armas que os prejudicaram em passado recente.
Alexandre Kalil mudou as relações que tinha com a cúpula da CBF. Viajou até em jato particular com Marin e Del Nero para a sede da Conmebol no Paraguai.
Zezé Perrela e o Dr. Gilvan já não rezam na mesma cartilha política interna do Cruzeiro, mas o atual senador não deixou de usar as armas que tem no Congresso para dar uma mão nos bastidores.
O resultado é que além de times muito bons, os nossos clubes trabalharam muito fora de campo para dominarem a cena nacional e sul-americana em 2013.

Em foto do site da Veja, o jornalista Laurentino Gomes, autor de 1808, 1822 e 1889, livros que todo brasileiro deveria ler, para entender melhor o Brasil!