Senhoras e senhores,
nosso espaço é para falar de esportes, futebol principalmente, mas como cidadãos, falamos de tudo.
Principalmente quando o futebol se envolve diretamente com a política, e os presidentes dos nossos maiores clubes se filiam a partidos.
Muita gente tem perguntado a minha opinião.
Então vamos lá!
O texto ficou grande, mas a situação exige.
Capa do jornal O Tempo de hoje: Kalil filia-se ao PSB em cerimônia com presença de Campos
O passado nos mostra que o futebol raramente, ou nunca, ganha com essa mistura, quando alguém quer usá-lo para se promover ou se eleger, e atua diretamente numa entidade ou um clube.
A história conta que o então governador Magalhães Pinto queria lançar seu filho, Eduardo, mas para isso era preciso que ele se tornasse popular.
Botou o moço na presidência do Atlético. Com muito dinheiro do banco do pai (Nacional), Eduardo montou uma seleção para tentar acabar com a hegemonia do emergente Cruzeiro no recém criado Mineirão. Até então só dava o time do Felício Brandi, com Raul, Piazza, Dirceu Lopes, Natal, Tostão e Cia.
Fortunas do Galo e do banco foram gastas para se montar as primeiras “selegalo” da história atleticana, e o Cruzeiro continuou mandando e crescendo.
Não teve jeito!
Eduardo saiu da presidência um pouco menos rico, desmoralizado com a torcida e deixou o Atlético quebrado. Custou o Estádio Antônio Carlos, vendido para pagar dívidas, e que graças a manobras de atleticanos bons de serviço nas áreas jurídicas, administrativas e políticas, voltou a pertencer ao clube, muitos anos mais tarde, e hoje é o Diamond Mall.
No presente, Zezé Perrella foi um grande presidente do Cruzeiro, mas resolveu se enveredar pela política.
O clube virou um enorme bureaux político dele e depois do filho. Aí, ai do Cruzeiro!
Felizmente, quando os cruzeirenses mais tradicionais do Conselho Deliberativo e da cúpula viram o caminho que a Raposa estava tomando, agiram, a tempo.
E sem barulho na imprensa e escândalos, mineiramente, destronaram o Zezé, cuja última vontade não se concretizou, que era eleger Dimas Fonseca seu sucessor.
Pelo que conheço de ambos, não acredito que Alexandre Kalil e Gilvan de Pinho Tavares se candidatem a alguma coisa. Mas, quando se trata de política, tudo pode acontecer.
A porta de entrada é fácil e conhecida, mas a sequência e a porta de saída, imprevisíveis.
Caso se candidatem, as chances de se eleger deputado, estadual ou federal, são de quase 100%. Para os cargos majoritários (senador, governador, presidente), quase impossível.
Ano que vem será o último de Kalil como presidente do Atlético e ele não estaria mais na direção do clube caso fosse exercer algum mandato em 2015.
Diferente do Dr. Gilvan, que certamente será candidato à reeleição no Cruzeiro ano que vem, com toda justiça e pelos seus méritos.
Não creio que ele pretenda ser deputado e presidente ao mesmo tempo, porque ele mesmo sabe que dificilmente essa mistura dá certo.
Também, baseado no que conheço dos dois, eu votaria tanto em um quanto no outro. Seria um ganho para a política mineira e nenhum poderia ser acusado de ter usado os clubes para se tornar conhecidos.
Kalil é sinônimo de Atlético desde a chegada da colônia árabe a Belo Horizonte.
Gilvan está no Cruzeiro há mais de 50 anos, onde começou como atleta.

Aproveito para falar da minha visão pessoal do atual momento político que vivemos.
Termina amanhã o prazo para filiação partidária para quem quiser ser candidato a alguma coisa nas eleições do ano que vem.
Nessa época os partidos políticos ficam loucos atrás de quem potencial de votos para somar às suas legendas e eleger seus deputados, estaduais e federais.
A maioria desses convidados a se filiar serve apenas como “bucha de canhão” para agregar votos a fim de eleger os “donos” dos partidos.
Alguns surpreendem e estouram de votos, se elegendo e formando boas bancadas. Tiririca foi um desses casos nas eleições de 2010.
Nos últimos dias fui convidado pelo PV e pelo PPS para me filiar.
Agradeci “penhoradamente”, mas respondi a ambos que não tenho a menor intenção de me filiar nem me candidatar a nada.
Militei politicamente enquanto tinha ilusão que existia idelogia. Certamente em um passado mais distante, houve, mas acabou faz tempo!
Eu era “brizolista”, pededista, por acreditar nas ideias dele e do Darcy Ribeiro para a Educação.
Ambos devem estar se revirando em seus túmulos por “verem” o que virou o PDT.
Virei “lulista” e acreditei piamente que o país tomaria jeito com o PT no poder. Achava que a partir do dia 1º de janeiro de 2003, iniciaríamos uma nova era, com transparência, caça à corrupção e corruptos, aposta maciça na educação e bla, bla bla…
O regime militar foi a pior coisa que aconteceu para o país, depois vieram o PMDB de Sarney e a tucanada do FHC.
Nenhuma saudade deles!
Só me restou jogar a toalha para a política e para esse povo todo dessa área.
Cumpro com minhas obrigações cidadãs, e assim como você que me lê e a maioria dos brasileiros, pago os muitos e altíssimos impostos para irrigar a farra deles todos.
Revoltado, mas pago, porque sou obrigado, como pessoa física e jurídica.
Leio, vejo e ouço todos os dias as notícias das bandalheiras cometidas com o nosso suado dinheiro e me resigno.
Fazer o quê?
Continuo votando, porque se não votar, pode ficar pior.
Tem sempre uma brasa de esperança de que das urnas surja alguém competente e sério, em alguma parte do país, que dê um jeito.
Voto em quem imagino que possa ser bom deputado, bom senador, bom governador e bom presidente.
Normalmente a decepção é grande, mas continuarei voltando. O partido não importa mais, pois todos são farinha do mesmo saco.
Quem sabe um dia acertamos no voto?
Para resumir tudo isso que escrevi, dos interesses que movem a política, e a transformação que a maioria sofre quando assume um mandato, leiam esta coluna do Vinicius Torres Freire, de ontem, na Folha de S. Paulo.
Vale a pena!

* “Oi?”
Vinicius Torres Freire
Empresa que se funde com a Portugal Telecom foi uma “campeã nacional” patrocinada pelo Estado
A OI É de certo modo uma das maiores empresas privadas estatais do Brasil, se não a maior.
Oi? Como assim, privada e estatal? Talvez seja mais preciso dizer que a Oi é resultado de uma grande parceria público-privada. Talvez também seja impreciso dizer que a empresa seja “do Brasil”, pois até ontem, ao menos, não se sabia muito bem quem controlaria a CorpCo, fusão da Oi com a Portugal Telecom.
A Oi nasceu TeleNorteLeste no estrambótico leilão de privatização da telefonia estatal, em 1998. Como tantos grupos que venceram leilões, talvez um pouco mais, ficou de pé apenas com auxílio financeiro estatal. A empresa privatizada seria a Telemar, mais tarde Oi, que engoliria a Brasil Telecom com ajuda estatal em 2008-2009. Desde a privatização, a Telemar-Oi seria a empresa do setor que mais receberia empréstimos do BNDES.
Como se recorda, em 2008 vivíamos os anos do Brasil Grande de Lula, do “milagre do crescimento”, do Brasil petrolífero em breve com assento na Opep, quiçá no Conselho de Segurança da ONU. Um país grande precisa de grandes negócios, ou de grandes empresas internacionalizadas, “campeãs nacionais”. Isto é, de multinacionais brasileiras, naturalmente criadas com grandes empréstimos baratinhos do BNDES e outras parcerias público-privadas.
O governo Lula patrocinou politicamente e garantiu o financiamento oficial de fusões e aquisições de empresas (algumas meio falidas), a criação de oligopólios privados, por meio do BNDES e arranjos com Petrobras, Banco do Brasil e fundos de pensão paraestatais. Patrocinou a reorganização do controle da grande empresa, o que o governo FHC fez por meio das privatizações subsidiadas. O que FHC privatizou, Lula conglomerou.
Pode ser que a criação de empresas de grande escala seja útil (para quem?), que valha a pena do financiamento estatal subsidiado (qual o tamanho da pena?), mas o processo todo está sub judice, e não devido à possível “desnacionalização”. Com a palavra, os universitários.
A Oi pegou esse bonde do Brasil Grande de Lula. Vários bondes. Pelas normas que pautaram a privatização e o pós-privatização das teles, a Oi não poderia comprar a Brasil Telecom. O governo Lula arranjou a mudança legal, ad hoc, depois de anunciada a operação entre as empresas, tudo em 2008.
O BNDES indireta, mas pesadamente, barateou a operação financeira, que beneficiou as empresas Andrade Gutierrez e La Fonte (família Jereissati), até outro dia na prática donas da Telemar e da Oi.
Até 2010, o BNDESPar tinha uns 31% do capital; fundos de pensão de estatais, controlados politicamente pelo governo, tinham 18%. Nesse ano, Lula e a direção do BNDES articularam com o governo português, a Oi e a Portugal Telecom a entrada dos portugueses na tele “campeã nacional”, então superendividada, entre outros problemas. Lula resolveu um problema político e empresarial em Portugal e ajudou a arrumar a vida da Portugal Telecom, que deixava a sociedade com a Telefônica na Vivo.
Sim, a Oi foi grande investidora numa pequena empresa de um filho de Lula, motivo de grande escândalo, ora esquecido. Mas essa andorinha não fez o verão da onda de oligopolização patrocinada pelo Estado. Esse buraco é mais fundo.
* Vinicius Torres Freire