Como diz o grande José Luiz Gontijo: “futebol comercial”!
No domingo mudei de canal ao ver o excelente repórter Régis Resing fora do normal, no Esporte Espetacular, fazendo uma reportagem absurdamente piegas cujo único propósito era vender o produto Neymar.
Antes, o leitor Fred Roscoe já havia sugerido uma coluna falando dos “dois pesos e duas medidas” da CBF e Felipão, que não deixaram Luis Gustavo e Dante jogarem a final da Copa da Alemanha pelo Bayern, mas liberaram Neymar para a festa de apresentação dele em Barcelona.
Mas não foi só Esporte Espetcular que passou da conta; a mídia quase toda.
Um dos mais respeitados jornalistas mineiros, que não é da imprensa esportiva, Ronaldo Lenoir, indicou:
“Até agora, é do jornalista Fábio Chiorino a melhor análise sobre o oba-obra em torno da apresentação de Neymar ao Barcelona.”
Realmente, ótimo texto, do Fabio Chiorino, no portal da revista CartaCapital.
Vale a pena:
* “Neymar e a espetacularização do nada”
Postado por Fabio Chiorino
Não era o homem pisando na Lua; era Neymar irrompendo o Camp Nou na apresentação oficial do Barcelona. Mas, para a imprensa brasileira, que nos últimos anos se dividiu em endeusar ou criticar severamente o jogador, era necessário ir além. Criou a editoria “Apresentação de Neymar”, em que cada detalhe ganhou uma comoção desmedida: a chegada ao aeroporto, a roupa do jogador, as Neymarzetes espanholas, as caras e bocas da namorada global, as imagens exclusivas do exame médico.
Os portais exibiram uma espécie de “tempo real” para cobrir o insignificante. Neymar almoçando na concentração, funcionários do estádio entregando copos de água aos torcedores, imagens incríveis do placar eletrônico. Em alguns momentos, parecia que estávamos diante de um conclave futebolístico. A cada minuto, uma atualização qualquer, desprovida de qualquer relevância.
Em um programa de TV, um debate acalorado sobre o número da camisa que usará o “astro brasileiro”. Só faltou consultarem um numerólogo para engrandecer a discussão. Em outro, o descritivo completo da primeira refeição de Neymar em Barcelona. Outro portal cobrava a participação das fãs no Twitter, pedindo a elas que registrassem em fotos a paixão pelo ídolo.
É possível notar ainda que a espetacularização não é exclusividade nossa. Os próprios veículos espanhóis exploraram a chegada de Neymar como o acontecimento do ano. Mas do lado de cá, a impressão é de que estamos apresentando para a Europa nossa melhor mercadoria, o menino dos gols de ouro, o jovem talento que precisou ultrapassar os limites sul-americanos. A imprensa brasileira adotou a postura de uma mãe orgulhosa, com lágrimas nos olhos, acompanhando os últimos passos do filhote sob a sua tutela.
Neymar não é só o maior jogador brasileiro da atualidade, mas também o de maior exposição e retorno publicitário. E a sua trajetória no Brasil muitas vezes se assemelhou a um comercial sem fim, sempre em busca do gol decisivo, do drible perfeito e do holofote mais bem posicionado. Agora, em solo europeu, surge a dúvida inevitável: será só mais um, ou o maior de todos? E aqui estaremos sedentos por curiosidades que virarão notícia. O que come por lá? Com quem divide o quarto na concentração? Como a namorada está se adaptando ao clima? Um boletim periódico sobre o nada. Um nada absoluto capaz de promover a paixão por algo que nem o torcedor sabe ao certo o que vem a ser.
* http://esportefino.cartacapital.com.br/neymar-e-a-espetacularizacao-do-nada/