Depois de 20 dias retornei a Belo Horizonte.
Por volta das 15h30, ao sair de uma loja no Bairro São Lucas, esquina da Avenida do Contorno com Rio Doce, dois pivetões “vistoriavam” meu carro.
Um tentava ver o que havia dentro, enquanto o outro conferia a melhor forma de abri-lo.
Estava começando a chover e eles deviam estar imaginando que não apareceria ninguém. Apareci, segurando um pacote e com uma sacola plástica de supermercado na cabeça para me proteger da chuva. Os marginais se assustaram, possivelmente porque eu devia estar parecendo um fantasma ou um bandido, como eles.
Parei e fiquei pensando o que fazer. Um vagabundo saiu fora; o outro gritou comigo: “vai encarar?”.
Mexi na sacola e antes que eu respondesse, o vagabundo também saiu correndo.
Mas poderia ter agido diferente e aí eu estaria ferrado; talvez estivesse hoje integrando a mais uma estatística da violência no Brasil, onde a cada 9 minutos morre alguém: assassinado ou em acidente de trânsito.
É possível também que não figurasse nas estatísticas, já que os governos costumam omitir números que não lhes interessam.
Ou, talvez não, porque possivelmente sairia uma nota em algum jornal ou em alguma rádio, já que sou jornalista.
E como dizia João Saldanha: “jornalista é defunto caro”; para bandidos e governos.
Passada a raiva, procurei chegar rápido em casa, antes que a chuva aumentasse, porque como se sabe, placas da própria prefeitura da capital de todos os mineiros, alertam para o perigo de se andar na cidade quando chove.
Principalmente em determinadas regiões; na Avenida Silva Lobo, por exemplo.
E moro a dois quartões dela. Teria que atravessá-la. Mas, dei “sorte” e ela ainda não estava alagada, nem havia nenhum carro boiando, quando a atravessei.
Nas TVs e nas rádios imagens, choro, e lamentos de vítimas de mais uma enchente na região do Prado. Por enquanto, situação bem menos ruim que a do ano passado. Mas já já, deve se igualar ou superar.
E não adianta reclamar só dos governantes atuais, porque o problema vem de anos atrás; quando autorizaram o desmatamento e construção de bairros nas partes mais altas da cidade e em encostas centrais.
Muita gente ficou e fica rica quando os vereadores e deputados (esses, principalmente) votam e aprovam mudanças na legislação que permitem que construtoras e imobiliárias lancem novos e milionários empreendimentos.
E ainda ouço estes dias, vereadores e até a prefeitura de Beagá falando em acabar com o que resta de área verde para a construção de “moradias populares”.
No rádio, ouço que mais um caixa eletrônico foi pelos ares, e ninguém foi preso.
Na TV, vejo bandidos matando vigias de bancos, espalhando o terror, levando o dinheiro das agências e clientes. Em Sergipe, igual acontece diariamente na região Sudeste.
E imaginar que os banqueiros foram os principais financiadores da Operação Bandeirantes e outras entidades que se organizaram para ajudar as polícias a matarem oposicionistas ao golpe de 1964 e à ditadura militar.
Agora, deveriam equipar as suas agências e as mesmas polícias para acabar com essa farra dos bandidos.
Mas no Brasil, realmente tudo é muito difícil. Afinal, muitos daqueles que lutaram contra a ditadura e enfrentaram as polícias, são os mesmos que se aproveitaram do dinheiro público, através do mensalão, e foram condenados pelo Supremo.
Mas continuam soltos; um dos mais famosos deles, inclusive, assumiu mandato de deputado federal, segurando a Constituição Federal, esse estranho livrinho, que deveria ter melhorado o país, quando foi promulgado em 1988.
Êta Brasil!
Mas um dia chegaremos lá!