Essa Copa do Mundo entrará para a história como a Copa da “Suspeição”, ao invés da prometida Copa da “iniciativa privada”, do finado presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Notícia da Folha de S. Paulo de ontem:
* “Governo contrata empresa de ex-coordenador da Copa”
2014
Diretor da KPMG Consultoria coordenou, até 2011, ações para Mundial
O Ministério da Justiça contratou, sem licitação, uma empresa de consultoria cujo diretor participou, até dezembro último, de ações do governo para a Copa de 2014.
A KPMG Consultoria receberá quase R$ 10 milhões para fazer um diagnóstico das necessidades de segurança das 12 sedes do Mundial e para auxiliar o governo federal a realizar a futura licitação dos chamados Centros Integrados de Comando e Controle, estruturas físicas que reunirão policiais para fazer a segurança do evento.
Um dos diretores da consultoria KPMG é Alcino Reis Rocha, que até 30 de dezembro do ano passado era funcionário do Ministério do Esporte e coordenava o Gecopa, grupo criado pelo governo para organizar os preparativos para o Mundial.
Rocha, que deveria cumprir quarentena de quatro meses antes ir para a iniciativa privada, começou a fazer a intermediação da KPMG com o governo em 25 de abril, cinco dias antes do encerramento de sua quarentena.
Como coordenador no Ministério do Esporte, Rocha acompanhava os trabalhos do Ministério da Justiça, que também integrava o grupo e que agora contratou a empresa na qual ele é diretor da área de grandes eventos.
Na negociação com o governo para o Mundial, Rocha se apresenta como um dos diretores do projeto e, como experiência, vale-se dos tempos de coordenador do Gecopa.
Foi para Rocha, por exemplo, que o Ministério da Justiça pediu uma proposta da KPMG para prestar consultoria sobre o Mundial.
Também foi ele, que, em ofício ao ministério no mês passado, pediu cópia integral do processo de contratação da empresa.
A KPMG admite que o contratou em razão da experiência no governo, mas diz que a contratação foi técnica e ressalta a experiência nos Jogos de Londres neste ano.
Embora não tenha ocorrido licitação, a pasta afirma que levantou preços no mercado e que a KPMG, em um primeiro momento, perdeu a disputa para a FGV, que ofereceu o mesmo serviço por R$ 9,9 milhões -contra os R$ 13 milhões da consultoria na qual Rocha é diretor.
Ao analisar as propostas, porém, o Ministério da Justiça decidiu mudar o projeto após “amadurecimento do conceito de centro de comando e controle”. Entre o primeiro projeto e o “amadurecimento”, passou-se um mês.
As alterações, “mínimas” segundo o despacho do Ministério da Justiça, foram suficientes para uma nova rodada de preços. A KPMG, então, chegou ao mesmo patamar que a FGV havia oferecido, com R$ 48 mil a menos.
O ministério justificou a contratação da KPMG sem licitação afirmando que a empresa era “a única capaz da plena execução do objeto pretendido, uma vez que atende integralmente as exigências do projeto básico”.
Outro lado
Ministério diz que obedeceu a critérios técnicos
DE BRASÍLIA
O Ministério da Justiça disse que “não há qualquer relação entre a contratação da KPMG com qualquer funcionário de seus quadros”. “A escolha obedeceu a critérios eminentemente técnicos.”
Sobre a quarentena de Alcino Reis Rocha, o ministério afirma que “o processo foi feito conforme determinações legais”. Segundo a pasta, o contrato de consultoria irá “proporcionar mais economia, precisão e agilidade na implantação do sistema de comando e controle”.
O ministério disse que o contrato foi sem licitação em razão da complexidade do serviço e que houve o aval da área jurídica para a “notória especialização”.
André Coutinho, sócio da KPMG, disse que pesou para a contratação de Rocha sua experiência na Copa. “O conhecimento que ganhou ao participar do desenvolvimento, no Ministério do Esporte, do assunto Copa obviamente foi um diferencial”, disse.
A KPMG afirma que o envolvimento de Rocha no processo da contratação da empresa foi nulo.