Um dos jornalistas e escritores que mais admiro é o Ruy Castro. Mineiro, de Caratinga, adotou o Rio de Janeiro como a sua cidade para viver, mas nunca esquece as suas origens mineiras em seus textos ou falas nas rádios e TVs.
São deles livros imperdíveis como “O Anjo Pornográfico” (a vida do Nelson Rodrigues), “A Estrela Solitária” (Garrincha), e a vida da Carmem Miranda, lançada ano passado.
Sem falar da sua obra magistral sobre a Bossa Nova.
Toda terça feira ele bate um papo espetacular com o Ricardo Boechat na BandNews FM 89,5 entre as 7 e 9 horas, e escreve na Folha de S. Paulo, crônicas sensacionais, como essa, que saiu segunda feira, onde conta a história da origem das torcidas organizadas:
* “Facções de guerra”
Em 1942, o baiano residente no Rio e Flamengo roxo Jaime de Carvalho reuniu seus amigos rubro-negros do Méier e formou um grupo para irem torcer nos estádios. Sua mulher, Laura, costurou-lhes as primeiras faixas, bandeiras e camisas. Alguns eram músicos amadores e levaram seus trompetes e tambores para tocar marchinhas de Carnaval e o hino do Flamengo.
Ary Barroso ouviu-os e disse que aquilo não era uma banda, mas uma charanga, de tão desafinada. Jaime e Laura adotaram o nome Charanga e passaram a bordá-lo sob a âncora e os remos nas camisas e bandeiras. Nascia a primeira torcida organizada do futebol brasileiro. Logo a Charanga teria músicos profissionais e Jaime se tornaria também o chefe de torcida da seleção brasileira. Foi ele quem puxou o “Touradas em Madri” no 7 a 1 contra a Espanha, no Maracanã, na Copa de 1950.
Quase ao mesmo tempo surgiram as outras torcidas: a do Vasco, comandada por Dulce Rosalina; a do Fluminense, por Paulista; a do Botafogo, por Tarzan; as dos clubes de São Paulo. Seus líderes se estimavam, e a disputa era para ver quem gritava ou cantava mais forte no estádio. À ameaça de uma briga na arquibancada um deles entrava em ação e a turba se pacificava.
As coisas começaram a mudar nos anos 60, com a aposentadoria ou a morte dos antigos chefes e o surgimento das torcidas jovens e suas dissidências. Uma característica das novas torcidas era vaiar cartolas, técnicos e jogadores de que não gostassem. Daí a acordos com facções políticas dentro dos clubes foi um passo. E, por fim, elas próprias, de todos os clubes, se tornaram facções de guerra, armadas para agredir, destruir e matar.
Jaime de Carvalho morreu em 1976, aos 65 anos; dona Laura, em outubro último, aos 88. Longe o tempo em que suas bandeiras torciam por amor.
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