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Diamantina precisa ser melhor tratada pelas autoridades

Mercado Velho – Foto do Sérgio MourãoDIAMANTINADiamantina é uma das cidades que mais gosto na vida e vou sempre lá. É, sem dúvida, a que melhor recebe qualquer visitante, entre as cidades brasileiras do período colonial. O povo diamantinene faz quem vai lá se sentir em casa.

Era também a mais bem cuidada, dentre as históricas, para receber turistas. Disse era, porque tenho recebido nos últimos dias um texto muito bem escrito por um turista que ficou decepcionado na última ida lá, bem recente.

São críticas construtivas que precisam ser avaliadas pela prefeitura, entidades privadas locais e principalmente pelo governo do Estado, já que trata-se de uma das nossas principais riquesas turísticas, Patrimônio Cultural da Humanidade.

Confira:

“domingo, 6 de fevereiro de 2011”

Férias em Diamantina

Texto: Fernando Gripp (http://passadicovirtual.blogspot.com/)

Estou de férias e, andando pelo centro de Diamantina, tenho visto uma cena muito comum. Encontro com muitos turistas, geralmente casais de meia idade, ás vezes acompanhados dos filhos, empunhando uma câmera fotográfica e um guia de turismo. Tudo normal, mas olhando com mais atenção percebo um detalhe interessante. Não é raro encontrá-los com um olhar perdido, sentados nas calçadas, nas escadas da Catedral ou em um banco da Praça do Mercado Velho. Seguindo minha intuição tento ler seus pensamentos ou imaginar diálogo entre eles:

– O que viemos fazer nessa cidade? As igrejas estão fechadas, não há sinalização e informações para o turista, não vai acontecer nenhum evento musical nesta semana.

– Além disso, a cidade tem carros de mais, está esburacada e tem lixo espalhado pelos cantos.

– Realmente, não se parece nada com aquela beleza que vimos na minissérie da Globo

O diálogo acima é fictício, mas nenhum pouco muito improvável. Para demonstrar que não estou exagerando, relato aqui um fato acontecido recentemente na cidade de Lavras, Minas Gerais. Uma amiga minha estava em um restaurante naquela cidade e na mesa ao lado um grupo de pessoas conversava de forma exaltada e alegremente, quando um deles fez a seguinte provocação:

– Quem quer voltar para aquele “buraco” de Diamantina?

Minha amiga, morando atualmente aqui, ficou curiosa, não resistiu e perguntou o motivo daquela brincadeira. Prontamente ouvi a resposta:

– Somos de São Paulo e estamos voltando de Diamantina. Que decepção! A cidade é linda, mas os atrativos estão todos fechados, está descuidada e não há nenhuma informação ou apoio sobre os locais e eventos.

Essa história apenas confirma o que eu tenho visto por aí: turistas perdidos, batendo na porta fechada dos atrativos, procurando informações sobre uma boa pousada, querendo comer um prato típico da região ou procurando uma trilha para uma bela cachoeira. O pior de tudo é saber que Diamantina tem tudo isso e muito mais. Então, onde está o problema? Será que está faltando informação?

Recentemente fizemos aqui um comparativo (clique aqui) sobre as informações turísticas disponibilizadas nos sites oficiais de algumas cidades históricas brasileiras e constatamos a precariedade e a desatualização dos dados sobre Diamantina. O site (diamantina.gov.br) continua no ar: esteticamente feio, sem informações úteis e desprovido de atrativos para o turista.

Se um visitante lhe pedir informações sobre os horários de funcionamento das igrejas de Diamantina você seria capaz de ajudar? Pelo menos saberia indicá-lo onde fica o receptivo ao turista? Qualquer cidade turística de qualidade tem hoje um centro de informação bem planejado, bonito e de fácil localização. Quem visitou a cidade de Gramado-RS, que é menor que Diamantina, sabe muito bem do que estou falando.

Mas é preciso ser mais ousado e ir além de disponibilizar as informações corretas e atrativas. Será que não é possível realizar pelo menos um evento cultural para as pessoas que aqui vivem ou visitam durante as férias? Será que Diamantina tem somente a Vesperata para oferecer de março a outubro? Idéias não faltam: que tal um festival de verão com atrações culturais; um encontro de bandas musicais da região; um festival de canção popular ou serestas; uma exposição de diamantes; um evento gastronômico com pratos típicos preparados com ora pro nobis; um festival de cinema; um evento de esportes radicais pelas trilhas, cachoeiras e cavernas da região; uma feira de artesanato do Vale do Jequitinhonha e muitas outras possibilidades. Em um lugar tão rico culturalmente fica fácil imaginar eventos dessa natureza. Não é preciso ser um especialista, basta um pouco de vontade política e ousadia para fazer diferente.

Mas minhas esperanças são poucas. Vejamos o caso do Teatro Santa Isabel (clique aqui) . Reinaugurado em julho do ano passado, aquele incrível espaço está totalmente ocioso. A prefeitura não foi capaz de propiciar à cidade nenhuma peça de teatro, nenhuma mostra de cinema, nenhuma exposição, nenhum show musical. Absolutamente nada. Foram gastos mais de 2 milhões de reais de dinheiro público e os responsáveis não foram capazes de planejar um evento cultural para a população. Inexperiência? Falta de vontade política? Incompetência técnica? Falta dinheiro? Mais uma vez a mesma história: a cidade é linda, o teatro é lindo, porém …..

Some a tudo isso o descaso com o espaço urbano; o lixo transbordando nas poucas lixeiras; as matilhas de cães abandonados pelas ruas; o trânsito confuso; o calçamento esburacado; os preços abusivos em alguns comércios; as placas de mau gosto e os “puxadinhos” irregulares que descaracterizam o rico patrimônio; as centenas de baratas que passeiam pela região do Mercado Velho; a precariedade da entrada da cidade (Av. Felício dos Santos); o abandono e desrespeito com a obra de Niemeyr na Praça de Esportes; a precariedade da sinalização urbana; o mau cheiro de alguns becos e bueiros; o precário terminal rodoviário; as praças abandonadas e muito mais.

Queremos uma cidade de todos e para todos. Lazer e cultura são direitos constitucionais garantidos ao cidadão. O turismo sustentável é um dos setores mais promissores e rentáveis da economia. Acredito que seja possível administrar e construir uma Diamantina que tenha uma boa qualidade de vida para os que aqui vivem e, simultaneamente, que também ofereça bons serviços aos que aqui visitam. Os dois pontos se convergem e se completam. Enfim, como morador de Diamantina, espero sentir vontade de passar uns dias das minhas próximas férias por aqui para desfrutar, juntamente com os visitantes, de uma cidade mais organizada e preparada para mostrar suas riquezas, seus encantos e suas belezas.


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Comentários:
8
  • Raquel Pereira Costa Lopes disse:

    Pois é gente, infelizmente estamos em 2018, fui em Diamantina recentemente e apesar de eu amar o clima da cidade, todos esses defeitos continuam lá.A cidade fede xixi, a rodoviária sucateada, a praça de esportes com aquela construção de Niemeyer, está largada, literalmente.Dá uma dó de ver uma cidade com tanto potencial largada assim…

  • Eunice disse:

    Muita decepção. Diamantina está largada. Há Muitos carros. O pedestre nem anda direito, pois as ruas estreitas, nada sinalizada de informações ao turista, não há quase nada de museus. Sinceramente, pra mim foi decepção. Prefiro Ouro Preto e Tiradentes.

  • lia disse:

    e muito triste saber que estamos isolados sem prefeito nesta linda cidade que jaz

  • Pedro disse:

    Boa tarde ,
    Sou morador de Diamantina fico triste em ver reportagens como essas,
    mas nao posso argumentar,pois é verdade a incompetencia do prefeito, do seu secretariado nao deixando de incluir a camara de veriadores.
    Nos meses de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011 a cidade parecia uma cidade sem nada pra fazer,sem nenhum evento.O que nossos jovens vao fazer a nao ser ir para botecos beber.
    Ano que veem e ano de eleiçao vamos pensar muito antes de eleger.
    PELO AMOR DE DEUS
    abraços com tristeza

  • Aldemário Filho disse:

    Estive pela primeira vez em Diamantina em 2005, me apaixonei a primeira vista. A cidade é acolhedora, musical e meio mística. Voltei em julho de 2010 durante o festival de inverno e achei a cidade mais musical ainda, porém notei um certo descuido da Prefeitura local com algumas coisas básicas do dia-a-dia.
    Espero que Diamantina não se acomode e continue a ser essa cidade tão mineira e acolhedora.

  • Dirceu Lençois Paulista disse:

    Olá Chico. Em Congonhas é a mesma coisa. Nasci lá, mas moro em SP. Ao levar amigos paulistas para conhecer a cidade foi uma tremenda decepção para eles e uma vergonha para mim quando chegamos e nos deparamos com uma cidade empoeirada pelo minério, e o pior com todas as igrejas fechadas. Quando estes patrimônios são restaurados, as verbas saem dos cofres públicos, um desaforo para um país que carece de educação, CULTURA e sistema de saúde descentes. A Igreja Católica fecha as portas, mas os evagélicos, budistas, ateus também pagam para contemplar obras de arte históricas. E nisso ouvi uma senhora sentada na escadaria da Basílica do Bom Jesus dizer ao telefone “pois é, estamos em Congonhas, mas não sei o que viemos fazer aqui. Deveríamos ter ficado em Ouro Preto, que decepção!” Abraço Chico!

  • Frederico Dantas disse:

    Triste realidade de um país que acha que marcha a passos largos para o desenvolvimento.
    O caso da charmosa Diamantina, infelizmente, está longe de ser isolado. O aquecimento da economia num país que tradicionalmente é pródigo em oferecer oportunidades aos seus cidadãos gerou esta perigosa distorção. As pessoas estão querendo ganhar tudo o que podem e como podem como se os ventos da prosperidade pudessem vir a cessar em qualquer momento.
    Nem o poder público se preocupa em criar estrutura para desfrutar das riquezas geradas e nem as pessoas se preocupam com isso agora, pois têm que “faturar”.
    Sete Lagoas, apesar de não ter as belezas diamantinenses, é outro bom exemplo. Vamos, cada um, se locupletar, lícita ou ilicitamente, e no futuro a gente vê o que faz. Já sabemos o que faremos; chorar o leite derramado.

  • Cristiano França disse:

    Chico, minha noiva é de Diamantina.
    Conversamos sobre essas coisas quase diariamente.
    A cidade está se tornando cidade de de festas, Carnaval (quase que apenas), cheia de universitários, que, se quer, sabem o que ali se passou.
    Triste ver os mais jovens (nativos) achando que tudo é festa apenas.
    Pouco se preocupam os próprios moradores da cidade, principalmente os mais jovens, afinal, lá vem outro carnaval.
    Estarei lá este fim de semana.
    E tudo estará como da última vez, infelizmente.
    Abraço.