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Um país peculiar, onde traficante se vicia, puta apaixona e cafetão sente ciúmes

O Brasil é um país realmente diferente.

Dizia Tim Maia, que aqui “traficante se vicia, puta apaixona e cafetão sente ciúmes”.

Aqueles que têm poder de decisão usam o dinheiro alheio da forma que bem entendem, se lixando para o interesse coletivo.

Na atividade pública os exemplos de corrupção e malversação pipocam diariamente. Mas o mais incrível é que também na área privada os procedimentos são semelhantes e as mazelas afetam à coletividade, de forma grave, e fica por isso mesmo.

Planos de saúde, por exemplo.

O presidente do Fluminense, Peter Siemsen, declarou recentemente que se a UNIMED retirar seu patrocínio o clube quebra: ““Se a Unimed sair agora, o Fluminense quebra. São 13 anos de parceria.”, disse ao O Globo.

Este plano de saúde é quem sustenta as contratações milionárias do tricolor nos últimos anos, porque o seu dirigente maior, Celso Barros, é tradicional torcedor do clube.

A UNIMED é uma cooperativa de serviços médicos, com milhares de associados país afora, interligadas em cada estado, porém independentes entre elas.   

Há poucas semanas toda a imprensa nacional mostrou cenas de uma greve gigante dos médicos do Rio de Janeiro, reclamando da própria UNIMED, contra quem pesam sérias acusações e reclamações no Brasil inteiro.

A briga maior dos médicos é por melhor remuneração pelos seus serviços. Mas dinheiro da UNIMED não falta para contratar e pagar craques no Fluminense.

No frigir dos ovos, quem dança é o associado do plano, que se utiliza desse tipo de serviço no Brasil para fugir da porcaria maior que é o SUS e sistema de saúde público de modo geral.

Pensei nisso ao ler esta reportagem, revoltante, da Folha de S. Paulo, de sexta-feira, dia 9:

FLUMINENSE

“Paciente fica com a conta da briga entre plano e hospital – Jogo de empurra ocorre na cobrança por materiais usados em procedimentos.”

Hospital repassa boleto a paciente já esperando que ele recorra à ANS, à Justiça ou ao Procon para garantir cobertura

Desempregado recebe conta de R$ 39 mil após AVC e infarto

O desempregado Oscar dos Anjos Pereira Filho, 65, levou dois sustos em setembro do ano passado: teve um AVC (acidente vascular cerebral), foi internado e, cinco dias depois, sofreu um infarto ainda dentro do hospital.
Sobreviveu a ambos, mas, dois meses depois dos episódios, levou terceiro susto: recebeu em casa uma conta do São Camilo, hospital da zona oeste de São Paulo, dizendo que deveria pagar R$ 39.204.
“Dessa vez eu quase morri”, brinca o desempregado que, ao procurar o hospital, foi informado de que o valor era referente a três stents (material que serve para desobstruir artérias entupidas) usados na sua internação.
O plano dele, Unimed Paulistana, havia se recusado a pagar o valor ao hospital, diz.
Foram dois meses de reclamações no Procon até que o plano se entendesse com o hospital e pagasse a conta.

LIMINAR
A advogada Beatriz Alcântara Oliveira teve dor de cabeça similar, ao receber do hospital Oswaldo Cruz uma fatura de R$ 20.700 por um dos materiais usados em uma operação de duas hérnias de disco na coluna lombar, que não foram cobertos pela SulAmérica.
Beatriz entrou com um pedido de liminar na Justiça para obrigar o plano a arcar com o

pagamento, o que acabou dando certo.
Já Venâncio (nome fictício), internado no hospital Samaritano em fevereiro desde ano com apendicite aguda, acabou pagando a conta.
Ao sair do hospital, após a cirurgia, não foi informado de nenhuma pendência. Mas, algumas semanas depois, recebeu em casa um boleto de R$ 287,63 do hospital, referente ao uso de um bisturi, de dois pacotes de compressa cirúrgica estéril e de três compressas de gaze.
Fez o pagamento, sem saber que não precisaria.
O mesmo já havia acontecido com a mulher dele, que no final do ano passado passou por uma cirurgia na mão no hospital Santa Catarina. Ela também recebeu uma cobrança de quase R$ 90 por uma faixa, que o convênio não cobrira. Ambos são associados da Marítima.
Nenhum dos dois, que tiveram o nome preservado a pedido, foi informado antes da utilização do material que poderiam ter que desembolsar a quantia, o que também é irregular. Segundo os órgãos de defesa do consumidor, uma pessoa não pode ser obrigada a pagar por uma despesa pela qual não havia concordado.


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Comentários:
19
  • Eduardo disse:

    É impressionante como o brasileiro não sabe ler. A Unimed que patrocina o Fluminense não tem absolutamente nenhuma relação com o estado de Minas Gerais. Portanto , os colegas que não estão conseguindo marcar consulta no estado mineiro , não reclamem da Unimed-Rio. Seria a mesma coisa que , ao não conseguir atendimento no Rio , o segurado fosse reclamar a Unimed-RS.

    Aqui no Rio , a Unimed tornou-se o maior plano de saude da RM. Quase todas as empresas baseadas na cidade também migraram para a Unimed.

  • Márcio Amorim disse:

    Caro Paulo Henrique!
    Muito bom poder filosofar via blog do Chico.

    Entendo perfeitamente o seu ponto de vista. Falo em filosofar porque, quando falei em omisso, vendido e comprado, na verdade, tratava-se de três grupos distintos e acho que não deixei isto muito claro:
    1 – omisso – aquele analfabeto político, a turma do “num tô nem aí”;
    2 – vendido – especificamente a classe política cuja consciência é paga por mensalões (“eu não sabia”, lembra-se? O Cidadão apressou-se em desmentir e hoje…) e
    3 – comprado – aí, sim, o pobre miserável que cede a “consciência” em troca de migalhas na forma de bolsas e cotas.

    Eu acho, como você, que as bolsas voltadas para a alimentação básica (as cotas, não!) têm o lado positivo, porque a fome é o próprio inferno. Entretanto, venham de onde vier (PSDB/PT/PMDB – para citar apenas os maiores) a finalidade maior delas é o retorno em votos e a perpetuação no poder, que eterniza a roubalheira.

    Acreditaria muito nos benefícios “gratuitos e sem contrapartida”(e assinaria embaixo) se o beneficiado não votasse.

    Agradeço por poder desviar um pouco os olhos de sobre a arena futebolística, discutindo em alto nível com pessoas inteligentes como o senhor.

  • Paulo Henrique disse:

    Márcio Amorim,

    se o povo se vendesse apenas por bolsas e cotas, os ricos deveriam ser bastante atuantes e ativistas, certo? Porém isso nem de longe acontece. O problema é muito mais grave que isso. Falta educação e civilidade, noção de cidadania, cultura de participação em todas as classes sociais. As bolsas (usadas em países de primeiro mundo também) e cotas têm seus defeitos (um deles é a ausência de obrigações para os beneficiários) , mas também tem virtudes no sentido de reverter situações que vêm desde a colônia e a escravidão.

    Richard,

    concordo que com milhões se compra muita coisa no Brasil, inclusive a própria revista onde você leu isso.

    Muito se fala em governos tucanos e petistas, mas pouco vejo falar sobre o maior culpado da passividade do povo: manipulação via cultura de massa.

    Muito antes das bolsas existirem, Roberto Marinho, Veja e asseclas já davam as cartas.

    Lembram quem elegeu Collor? E lembram quem o derrubou quando não mais servia?

  • Richard disse:

    Como disse o presidente da Delta engenharia na Veja desta semana, no Brasil, com 6 milhões você compra um senador e com 30 qualquer coisa. Assim como os bancos, os planos de saúde fazem o que quiser e nós que os financiamos ficamos à sua mercê. Político brasileiro, há muito tempo, deixou de ser honesto e os novos que entram têm de estar alinhados “ao sistema”. É muito difícil! O que podemos fazer democraticamente ? Já não adianta mais votarmos corretamente. Desculpe a falta de decoro mas a frase é esta: nós, simples mortais, estamos fodidos”.

  • junior disse:

    contra planos de saúde, é só entrar na justiça. JUSTIÇA no BRASIL se resolve em 24 horas. Desculpe 240 anos, se o juiz nào bater as botas.

  • Erico Leal disse:

    O nível de serviços recebidos no Brasil está tão ruim que os públicos estão fazendo frente a eles, praticamente em todos ofertados os setores.

  • Márcio Amorim disse:

    Caro Chico!
    Para governo corrupto nada melhor do que povo omisso. E que ainda faz chacota da própria desgraça, carregando a fama de “povo feliz”.

    Governo nenhum tem peito de enfrentar planos de saúde, já que eles criam a imagem de que vai tudo bem na saúde e escondem a inutilidade, inoperância e roubalheira do SUS.

    Só que o SUS é um lixo e as UNIMEDs da vida, outro. O dinheiro que poderia pagar melhor os médicos e, consequentemente, garantir um melhor atendimento aos que pagam pelo SUS e pelos planos, vai para o Fluminense? E daí? São dezesseis anos do império inútil e infrutífero da dupla PSDB/PT com o conluio do PMDB . E a aceitação, atualmente, gira em torno de 70% e já esteve em 86%.

    Reclamar? Como? De quê? Tudo que se faz, incluindo roubalheiras homéricas, recebe aplausos desse povo omisso e vendido (ou comprado por bolsas e cotas)…

    O povo esqueceu, de vez, o caminho das ruas, que é o lugar de protestar. Ignora tudo e bate palmas.

    Patéticos,”patetéticos”!

  • E comentaristas de blogs são filósofos. (risos)

  • Francisco Barbosa disse:

    Paulo Henrique, complementando seu comentário; Os ricos são anarquistas.

  • Julio Celeste-Lagoano disse:

    É por essas e outras que esses planos de saúde não são tão diferentes do SUS.

  • Luis Paulo (Uberlandia MG) disse:

    “traficante se vicia, puta apaixona e cafetão sente ciúmes” Os politicos na obrigação de dar PÃO e CIRCO (O Circo é obvio que é o FUTEBOL!!!)

    E VIVA A VIDA,COM PÃO.COM CIRCO E COM O POVO BATENDO PALMAS,PARA OS DONOS DO CIRCO. PALMASSSSSS.

    ETA NOIS POBRES MORTAIS BRASILEIROS E SOFRIDOS.

    NO RESUMO FINAL:AINDA BEM QUE TEMOS PÃO,FUTEBOL E PUTAS DE QUALIDADE E BARATAS.

    É POR ISSO QUE SOMOS LITERALMENTE UM PAÍS FELIZ (VIVA O BRASIL) rsrsrsrsrsrsrsrs

  • Renato Paiva disse:

    Essa situação da UNIMED é mesmo vergonhosa. Virou um SUS e gasta milhões e milhões com o Fluminense. Para se marcar uma consulta aqui em Sete Lagoas, a demora é de 2 a 3 meses. Dependendo da especialidade, pode demorar até 6 meses.
    Tô precisando fazer amizade com algum médico por aqui. Só assim, acho que serei atendido. Todo mundo tem que ter um médico e um policial como amigos. E tem que ser um só. Se for mais, já complica.

  • Fabrício Melo disse:

    No Rio, tudo que os dirigentes tocam vira ouro. Fifa pede provas a inglês que diz ter recebido pedidos de propinas para que a Inglaterra seja a sede da Copa de 2018, entre eles, Ricardo Teixeira. (Globo.com.)
    Ninguém prova nada, Teixeira confirmará seu “caráter ilibado” e será canonizado pelo Vaticano.

  • Anderson Palestra disse:

    Paulo Henrique, o complemento foi espetacular.

  • Gilmar disse:

    que o fluminense quebra isso é verdade.Lá,além de não ter nenhuma estrutura,tem uma dívida enorme e uma torcida pequena.

  • tom vital disse:

    Chico em 2009 a minha esposa descobriu que tinha um tumor cerebral de cerca de 5cm.Só que o plano que ela tinha era anterior à lei que regulamenta
    os planos de saúde.Por coincidência o plano de saúde da minha esposa é o
    Unimed.A cirurgia era urgente.E como o convênio que ela tinha não cobria a cirurgia.Ela simplesmente teve que migrar para um outro modelo de convênio da própria Unimed pagando mais caro.E só assim ela pode fazer a cirurgia.Que Graças a Deus e ao competente médico que ela arranjou correu tudo bem.Simples nê!

  • Paulo Henrique disse:

    “traficante se vicia, puta apaixona e cafetão sente ciúmes” e pobre é de direita. hahaha

  • Andre Pelli disse:

    Chico,

    Um grande Delegado de Polícia, em uma palestra há alguns anos, disse o seguinte: “Muitas vezes, nós perdemos um direito por fazer mal uso dele.”

    Os médicos reclamam dos preços, mas muitos deles têm “culpa no cartório”, pois vivem tentando levar vantagens e “inventar” procedimentos e/ou exames desnecessários para ganharem um pouco mais…

    Como não conseguiam inibir a prática, os planos de saúde copiaram o SUS e “sub-faturam” os valores das tabelas.

    É aquela história: Não existe virgem em puteiro.

    E, para terminar, cito Bertold Brecht: A crise é de caráter.

    Abraço. André Pelli