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Leitura de feriado: os bastidores da saída de Fátima Bernardes do Jornal Nacional

Fátima Bernardes é uma simpatia de pessoa.

Presente nas coberturas das últimas cinco Copas do Mundo, se misturava com todos os companheiros do dia a dia dos treinos e jogos, na maior simplicidade.

A saida dela do Jornal Nacional surpreendeu ao país e muitas versões contrárias ao comunicado oficial da Globo têm saido na midia.

Como essa, por exemplo, que o jornalista Luiz Nassif transcreveu em seu blog http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/bastidores-da-troca-no-%E2%80%9Cjn%E2%80%9D-por-rodrigo-vianna

fatimaFoto: http://blogs.estadao.com.br/cristina-padiglione

* Bastidores da troca no “JN”, por Rodrigo Vianna

Autor: Adriano S. Ribeiro

A Globo confirma a saída de Fátima Bernardes do “JN”. No lugar dela deve entrar Patrícia Poeta – atual apresentadora do “Fantástico”.

Fiz hoje pela manhã – no twitter e no facebook – algumas observações sobre a troca; observações que agora procurarei consolidar nesse post. Vejo que há leitores absolutamente céticos: “ah, essa troca não quer dizer nada”. Até um colunista de TV do UOL, aparentemente mal infomado, disse o mesmo. Discordo.

Primeiro ponto: a Patrícia Poeta é mulher de Amauri Soares. Nem todo mundo sabe, mas Amauri foi diretor da Globo/São Paulo nos anos 90. Em parceria com Evandro Carlos de Andrade (então diretor geral de jornalismo), comandou a tentativa de renovação do jornalismo global. Acompanhei isso de perto, trabalhei sob comando de Amauri. A Globo precisava se livrar do estigma (merecido) de manipulação – que vinha da ditadura, da tentativa de derrubar Brizola em 82, da cobertura lamentável das Diretas-Já em 84 (comício em São Paulo foi noticiado no “JN” como “festa pelo aniversário da cidade”), da manipulação do debate Collor-Lula em 89.

Amauri fez um trabalho muito bom. Havia liberdade pra trabalhar. Sou testemunha disso. Com a morte de Evandro, um rapaz que viera do jornal “O Globo”, chamado Ali Kamel, ganhou poder na TV. Em pouco tempo, derrubou Amauri da praça São Paulo.

Patrícia Poeta no “JN” significa que Kamel está (um pouco) mais fraco. E que Amauri recupera espaço. Se Amauri voltar a mandar pra valer na Globo, Kamel talvez consiga um bom emprego no escritório da Globo na Sibéria, ou pode escrever sobre racismo, instalado em Veneza ao lado do amigo (dele) Diogo Mainardi.

Conheço detalhes de uma conversa entre Amauri e Kamel, ocorrida em 2002, e que revelo agora em primeira mão. Amauri ligou a Kamel (chefe no Rio), pra reclamar que matérias de denúncias contra o governo, produzidas em São Paulo, não entravam no “JN”. Kamel respondeu: “a Globo está fragilizada economicamente, Amauri; não é hora de comprar briga com ninguém”. Amauri respondeu: “mas eu tenho um cartaz, com uma frase do Evandro aqui na minha sala, que diz – Não temos amigos pra proteger, nem inimigos para perseguir”. Sabem qual foi a resposta de Kamel? “Amaury, o Evandro está morto”.

Era a senha. Algumas semanas depois, Amauri foi derrubado.

Kamel foi o ideólogo da “retomada consevadora” na Globo durante os anos Lula. Amauri foi “exilado” num cargo em Nova Yorque. Patrícia Poeta partiu com ele. Os dois aproveitaram a fase de “baixa” pra fazer “do limão uma limonada”. Sobre isso, o Marco Aurélio escreveu, no “Doladodelá”.

Alguns anos depois, Amauri voltou ao Brasil para coordenar projetos especiais; Patrícia Poeta foi encaixada no “Fantástico”. Só que Amauri e Kamel não se falavam. Tenho informação segura de que, ainda hoje, quando se cruzam nos corredores do Jardim Botânico, os dois se ignoram. Quando são obrigados a sentar na mesma mesa, em almoços da direção, não dirigem a palavra um ao outro. Amauri sabe como Kamel tramou para derrubá-lo.

Pois bem. Já há alguns meses, logo depois da eleição de 2010, recebemos a informação de que Ali Kamel estava perdendo poder. Claro, manteria o cargo e o status de diretor, até porque prestou serviços à família Marinho – que pode ser acusada de muita coisa, mas não de ingratidão.

Otavio Florisbal, diretor geral da Globo, deu uma entrevista ao UOL no primeiro semestre de 2011 dizendo que a Globo não falava direito para a classe C (o Brasil do lulismo). Por isso, trocou apresentadores tidos como “elitistas” (Renato Machado saiu pra dar lugar ao ótimo Chico Pinheiro – aliás, também amigo de Amauri). A  Globo do Kamel não serve mais.

Lembremos que, desde o começo do governo Lula, a Globo de Kamel implicava com o “Bolsa-Família”. Kamel é um ideólogo conservador. Por isso, nós o chamávamos de “Ratzinger” na Globo. É contra quotas nas universidades, acha que racismo não existe no Brasil. Botou a Globo na oposição raivosa, promoveu a manipulação de 2006 na reeleição de Lula (por não concordar com isso, eu e mais três ou quatro colegas fomos expurgados da Globo em 2006/2007). E promoveu a inesquecível cobertura da “bolinha de papel” em 2010 – botando o perito Molina no “JN”. Nas reuniões internas do “comitê” global, ao lado de Merval Pereira, tentava convencer os irmãos Marinho dos “perigos” do lulismo.

Lula sabe o que Kamel aprontou. Tanto que no debate do segundo turno, em 2006, nem cumprimentou Kamel quando o viu no estúdio da Globo. Isso me contou uma amiga que estava lá.

Os irmãos Marinho parecem ter percebido que Kamel os enganou. O lulismo, em vez de perigo, mudou o Brasil pra melhor. Mais que isso: a Globo agora precisa de Dilma para enfrentar as teles, que chegam com muito dinheiro e apetite para disputar o mercado de comunicação. Kamel já não serve para os novos tempos. Assim como os “pitbulls” Diogo Mainardi e Mario Sabino não servem para a “Veja”.

Dilma buscou os donos da mídia, passada a eleição, e propôs a “normalização” de relações. O governo seguiu apanhando, na área “ética” – é verdade. O que não atrapalha a imagem de Dilma. Há quem veja na tal “faxina” um jogo combinado entre a presidenta e os donos da mídia. Será? Dilma tiraria as “denúncias” de letra (o custo ficaria para Lula e os aliados). Do outro lado, os “pitbulls” perderiam terreno na mídia. É a tal “normalização”. Considero um erro estratégico de Dilma. Mas quem sou eu pra achar alguma coisa. O fato é que a estratégia hoje é essa!

Patricia Poeta no “JN” parece indicar que a “normalização” passa por Ali Kamel longe do dia-a-dia na Globo (ele ainda tenta manobrar aqui e ali, mas já sem a mesma desenvoltura). Isso pode ser bom para o Brasil.

Não é coincidência que a Globo tenha permitido, há poucos dias, aquela entrevista do Boni admitindo manipulação do debate de 89. A entrevista (feita pelo excelente jornalista Geneton de Moraes Neto) foi ao ar na “Globo News”. Alguém acha que iria ao ar sem conhecimento da família Marinho? Isso não acontece na Globo!

Durante os anos de poder total de Kamel, a Globo tentou “reescrever” o passado – em vez de reconhecer os erros. Kamel chegou a escrever artigo hilário, tantando negar que a Globo tenha manipulado a cobertura das Diretas. Virou piada. Até o repórter que fez a “reportagem” em 84 contou pros colegas na redação (eu estava lá, e ouvi) – “o Ali é louco de tentar negar isso; todo mundo viu no ar”.

Ali Kamel nega o racismo, nega a manipulação, nega a realidade. Freud explica.

Agora, Boni reconhece que a Globo manipulou em 89. Isso faz parte do movimento de “normalização”. O enfraquecimento de Kamel também faz.

Tudo isso está nos bastidores da troca de apresentadores do “JN”. Mas claro que há mais. Há a estratégia televisiva, pura e simples. Fátima Bernardes deve comandar um programa matutino na Globo. As manhãs são hoje o principal calcanhar de aquiles da emissora carioca. A Record ganha ou empata todos os dias. Com o “Fala Brasil”, e com o “Hoje em Dia”. Ana Maria Braga não dá mais conta da briga – apesar de ainda trazer muita grana e patrocinadores.

Fátima deve ter um novo programa nas manhãs. Ana Maria será mantida. Até porque na Globo as mudanças são sempre lentas – como no Comitê Central do PC da China. A Globo é um transatlântico que se manobra lentamente.

Se a Fátima emplacar, pode virar uma nova Ana Maria. O programa dela deve contar com outras estrelas globais (Pedro Bial, quem sabe?).

A mudança de apresentadores tem esse duplo sentido: enfraquecimento de Kamel (que continuará a ter seu camarote no transatlântico global, mas talvez já não frequente tanto a cabine de comando); e estratégia pra recuperar audiência nas manhãs.

A conferir.

http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/bastidores-da-troca-no-jn.html#more-10754

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Comentários:
15
  • Alberto disse:

    Esse cara ta assistindo muito filme de ação americano!

  • Ricardo Pinto disse:

    Chico, veja que interessanre, pode ser um devaneio da minha parte. Estou aqui como advogado do diabo mesmo.
    Sabendo disso tudo que foi mencionado acima, por este ótimo post. Vendo aquele video do Boni afirmando que a população foi manipulada para ficar a favor do Collor, colocando inclusive suor falso, alegando que queriam color até mesmo ¨CASPA¨ no paletó para que ele se apresentasse mais popular.

    Vendo e lendo tudo isso, coisas que muitos juravam ser loucuras de aloprados, ( desculpe estentender muito este assunto, é que venho de uma familia politizada e desde pequeno, convivi com os meus irmãos mais velhos, sempre atuantes da política, mas nunca políticos. Fui participante das manifestações dos caras pintadas em BH). E sempre que se falava neste assunto, todos zombavam e achavem um absurdo a Globo não se prestaria a fazer tal coisa.

    Agora vejamos! Muitos torcedores, principalmente do Atlético ( eu como atleticano, sempre ouvi isso), falavam que haviam complô para os times do Rio principalmente, sempre se apostou em uma teoria da conspiração para prejudicar o Galo. Baseando pelo que se leu e se viu acima, isso não seria um absurdo. Sei lá á cada dia que passa as coisas ficam confusas. E nós atleticanos, sempre queremos arrumar algum tipo de desculpa para os repetidos fracassos do nosso time. Espero que sejamos fortes o suficiente para ganhar algum torneio decente nos próximos anos e aplacar a nossa ira.

    Abraços.

    Ricardo Pinto

  • Gilmar disse:

    O texto desse cara pra mim não tem credibilidade.

    O primeiro absurdo é acusar o Ali Kamel de negar a existência do racismo,só por ser contra a política de cotas!Eu e a maioria das pessoas que eu conheço são contra,e pelos simples fato de não ser justo diferenciar as pessoas pela cor da pele na hora delas presarem o vestibular!(acho que na constituição,ainda ta valendo aquela parte do “Todos iguais perante a lei”)

    Fora os elogios ao governo.O que mostra a Parcialidade do escritor do texto.E os links que ele indica no site dele encontramos alguns como

    Vermelho.com – do PC do B
    Paulo Henrique Amorim- aquele do ET bilu que puxa saco pra caramba do governo
    Carta Capita – uma espécie de revista Veja só q ao contrário.

    Só vou dar alguma credibilidade à notícia,quando sair como notícia,e em algum site ou veículo de comunicação que tenha credibilidade.

  • Rômulo Macedo disse:

    O que importa é que gostei da receita do Galo a La Sete Lagoas. Muito boa receita.

  • rodolfo disse:

    Ué, não entendi.. quer dizer que agora a boa imprensa é aquela que faz “acordo” com o governo porque este melhorou o país? Mas o motiva da briga dos dois não foi justamente porque Ali Kamel não queria comprar briga com ninguém?

  • J.B.CRUZ disse:

    Fico com ALI KAMEL, PATRÍCIA POETA e FÁTIMA BERNARDES…É sempre assim, os MELHORES e BONS, serão sempre os perseguidos..
    ———————————————————————————
    REDE GLOBO, PADRÃO DE QUALIDADE..

  • Maurício 2011 disse:

    Acabou-se os tempos de ‘Casal 20’ no Jornal Nacional, com Fátima Bernardes e Willian Bonner unidos tanto no matrimônio como no principal telejornal da Globo.

  • Pavão disse:

    Chico ,
    Esse Rodrigo Viana , Juntamente com PHA , fazem parte de um grupo de jornalistas recalcados que vivem atacando a Globo . Apesar de achar que a Globo tem que ter um concorrente a altura , não acho que a Record será esta concorrente nunca…

  • Magno disse:

    So os mais inocentes e que acredita que ela saiu pra fazer algo novo.

    Por mim ela podia ir ate pro inferno ….Eu ODEIO globo e os cariocas , descupa minha franquesa mais e exatamente isto que a metade dos brasileiro nao gostam .

  • Gregório disse:

    E quando vira a tona a manipulação da globo no campeonato brasileiro de 80 e libertadores de 81?

  • Sérgio Lopes disse:

    Olá Chico,
    Obrigado pela atualização. A história da Globo é suja e poucos sabem. Um empresa de comunicação que faz acordo financeiro com grupo americano, de forma inconstitucional, pode se esperar tudo. Eu não gosto de falar deste veículo de comunicação. Graças a Deus!!! Eu não sou manipulado por essa tevê. Eu prefiro ler seu blog e torcer para o futebol de Minas Gerais.
    Abraços,
    Sérgio Lopes

  • Tales disse:

    Bem que dizem que feriado é bom pra ler besteira…nunca vi tanta junto…

  • Paulo Henrique disse:

    Para quem quiser conhecer um pouco mais do “modus operandi” de Ali Kamel, Diogo Mainardi, Merval Pereira, dentre outros, recomendo a leitura do recém-lançado livro “Crime de Imprensa”

    http://www.plenaeditorial.com.br/br/descLivros.php?param=12

    Detalhe: os autores são os mesmos do livro “Honoráveis Bandidos”, sobre Sarney.

    Este teve grande destaque na grande mídia.

    É de se esperar que o novo livro passe em branco na divulgação pela mesma.

  • tom vital disse:

    Chico hoje feriado,achei que você uma hora dessas estaria degustando a
    excelente cachaça João Andante e beliscando uns torresmos…e encontro uma nova atualização no blog.
    Evoé Baco!