Falou quem conhece bem a história de Nelson Rodrigues. Ruy Castro escreveu o excelente “Anjo Pornográfico”, biografia do grande jornalista e dramaturgo.
Nessa crônica de ontem, na Folha de S. Paulo, ele fala da forma ridícula como a maioria das pessoas, até da imprensa, se curvou ao Barcelona, antes, durante e depois do jogo contra o Santos.
Parece que foi o primeiro grande time que se viu jogar na história. Parece que ninguém prestou a atenção na entrevista do técnico Pepe Guardiola depois dos 4 x 0, quando ele disse: “Ora, meus avós e meus pais me diziam que era esse o futebol que os times brasileiros jogavam.”.
Quando os times estavam para entrar em campo, lado a lado, as imagens da TV mostraram Neymar admirando boquiaberto o Messi.
A bola rolou, saiu o primeiro gol, e o Muricy Ramalho, sempre tão agitado, dessa vez, lá, sentado, quieto, parece que com medo de gritar com seus jogadores, de ir à beira do gramado.
Só faltou aos jogadores do Santos pedir autógrafo aos colegas do Barcelona, que realmente é o time tudo de bom que se fala, mas que não é o primeiro time na história a jogar um futebol empolgante e magistral.
Veja que belo texto do Ruy Castro:
* “A volta do complexo”
RIO DE JANEIRO – Nelson Rodrigues ficaria jururu. Justamente agora que o complexo de vira-lata do brasileiro, denunciado por ele, parecia sepultado, a acachapante derrota do Santos para o Barcelona nos devolve à vira-latice ululante. Nos botecos e esquinas, fala-se do Barcelona com a boca encharcada, como se o futebol nunca tivesse visto coisa igual.
E, no entanto, a marcação adiantada -quase às portas do adversário -, a retomada da bola e as triangulações entre jogadores muito perto uns dos outros (eliminando os erros de passe) estão longe de ser novidade. Vi exatamente isso outro dia, em vídeos que trouxe de viagem, mostrando a Hungria de Puskás, Bozsic, Kocsis e Hidegkuti esmagando por 6 x 3 a Inglaterra em pleno Wembley, em 1953, e o Real Madrid de Canário, Del Sol, Di Stéfano, Puskás e Gento achatando o alemão Eintracht por 7 x 3, numa final da Copa dos Campeões, em 1960.
E quem já não vira aquilo tudo no Ajax de Cruyff, Neeskens e Van Basten, no começo dos anos 70, e no Flamengo de Zico, Junior, Leandro, Adílio e Nunes, no começo dos anos 80? Ou mesmo nos diversos Santos de Pelé nos anos 60?
Eram times em que, além da alta categoria dos jogadores, o centroavante dava combate em seu campo, os zagueiros podiam avançar e o adversário não conseguia começar uma jogada. Pena que, na época, não houvesse um reloginho marcando os tantos por cento de posse de bola para cada um.
Viva, então, o Barcelona, que se juntou a uma elite de grandes times do passado. Pena é que não exista o time eterno. Donde, assim como aconteceu com aqueles imortais Hungria, Real Madrid, Ajax, Flamengo e vários Santos, este Barcelona um dia também deixará de existir. E pode não demorar muito. Sua torcida já está ficando blasée, farta de ganhar. Logo serão os jogadores.
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