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"O nacionalismo pueril” na lavagem cerebral verde e amarela!

Senhoras e senhores, nunca tinha ouvido falar antes no senhor Jean Marcel Carvalho França.

Trata-se de um professor de história, de São Paulo, que escreveu um ótimo artigo na Folha, quinta-feira, que sintetiza o que penso desse processo de imbecilização do povo brasileiro, que vem desde que o futebol chegou por nossas bandas, há pelos menos 100 anos.

É longo, mas vale a pena:

TV

* “O nacionalismo pueril”

O pensador austríaco Karl Popper, pouco antes de morrer, em 1994, escreveu um pequeno e inusitado livro sobre a mídia televisiva, “Televisão: Um Perigo para a Democracia”. Na obra, contrariando as centenas de ideias conspiratórias que então circulavam sobre o tema –como as do sociólogo francês Pierre Bourdieu–, advogava que um dos maiores problemas da televisão é pura e simplesmente o baixíssimo nível cultural de uma parte considerável de quem nela atua.

O argumento parece demasiado prosaico, mas, venhamos e convenhamos, tem um poder explicativo imenso quando aplicado ao que se tem visto na programação das redes nacionais nestes sonoros e conturbados tempos de Copa das Copas.

Resolve pouco o problema, mas alivia imensamente o espírito saber, por exemplo, que é a precariedade de raciocínio e a completa ignorância dos conhecidos perigos de se promover o nacionalismo irracional e belicoso da população que levam locutores esportivos a acusar um atleta de outro país de “criminoso”, de atentar deliberadamente contra a integridade física de um atleta nacional, ou de alardear a leviana ideia de que há uma conspiração de entidades internacionais contra o futebol brasileiro ou, ainda, o que é pior, de associar, de forma barulhenta e com olhos marejados, a honra e o orgulho nacional a partidas de futebol.

Acalma ligeiramente a alma, do mesmo modo, pensar que é em razão da completa falta de referências sobre outros povos e da consequente incapacidade de escapar aos estereótipos mais rasteiros sobre o “outro” que um jornalista é levado a escrever “peças poéticas” sobre o confronto de seleções, lançando mão de lugares comuns como: “alemães trabalhadores e metódicos” contra ” brasileiros criativos e improvisadores”. Certamente, autor, que queria somente cantar as enormes dádivas dadas pela natureza a este belo povo dos trópicos, desconhece por completo que, ao exaltar tal lugar-comum, está exaltando uns outros tantos historicamente a ele conectados: a incapacidade do brasileiro para o trabalho sistemático, a crença de que o esforço é para os não escolhidos por Deus (os outros conquistam com trabalho, nós recebemos espontaneamente da natureza), a crença de que somos um povo dos “afetos”, avesso à racionalidade, e por aí vai.

Dá um certo conforto íntimo, também, saber que é por singeleza de espírito que muitos jornalistas fazem um esforço enorme para insistentemente criar defensores e salvadores da mãe pátria ofendida, heróis nacionais de chuteira, com pouco mais de duas décadas de vida, que têm a triste e dura missão de levar nas costas e dar solução para todas as contradições e frustrações de uma sociedade que espera ser virtuosa ao menos no futebol, esporte que há décadas ela é levada a acreditar piamente que sintetiza o caráter, o bom caráter, nacional.

Enfim, não soluciona mas consola saber que parte considerável do nacionalismo pueril e socialmente danoso que vem sendo sistematicamente alimentado por parcelas da mídia televisiva nestes tempos de confronto de seleções não é, digamos, inteiramente ideológico, como pensam os amantes das teorias conspiratórias que povoam este conturbado país, parte dele –uma parte significativa– é de certo modo genuíno: vem de gente mal preparada que, com as melhores intenções, julgam se dirigir a outros igualmente limitados.

JEAN MARCEL CARVALHO FRANÇA, 48, é professor livre-docente de história do Brasil na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e autor, entre outros, de “Viajantes Estrangeiros no Rio de Janeiro Joanino”

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/07/1483608-jean-marcel-carvalho-franca-o-nacionalismo-pueril.shtml


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Comentários:
11
  • Marcelo M disse:

    Quanta bobagem !!! Se a globo faz calunias com o PT os caras batem palmas, se faz contra o times deles abaixo a globo.

  • frederico disse:

    Bom o que vemos é apenas a imposição de uma cultura de massa com um objetivo: aborrecer o máximo de gente possível para facilitar a venda de produtos .
    É minha gente o importante é ganhar dinheiro e muito e não importa como.
    Existe na população pessoas que possuem senso critico mas são minoria..
    Vá no supermercado e saia observando nas gondolas produtos com a observando cara do Neymar – são muitos.
    Eu acho ridículo mas tem muita gente que vai comprar e feliz da vida.
    E isso foi a tônica da seleção …. Muita publicidade – até o felipão que eu nem me lembro dele fazendo propaganda de alguma coisa –
    E pouco treino. Falou se mais de nacionalismo de vamos ganhar aquela de bola.
    Um jogo 3a0 contra a decadente Espanha o que se confirmou na copa alimentou isso. Treinar pra quê??? Os outros são fracos eles que tem de estudar…
    O nosso comandante admitiu sem querer a sua incompetência pois falou que os times estavam melhor e ele não esperava. Faltou humildade. Conhecer o outro. Afinal não somos o único favorito senão ganhamos todos os torneios . Agora falam em copiar a Alemanha .. Será ???? Não existe modelo…. Material humano não falta aqui. Talento nos temos…. Precisamos mudar a mentalidade que é voltar as origens e jogar o nosso futebol na essência que nada mais é o que os europeus estao fazendo.

  • Jeferson Cruz disse:

    Não existe coisa mais surreal do que o Ufanismo do Galvão.
    A sonolência do Fenômeno é visível, o cara tem preguiça até pra conversar.
    O Róger gasta demais o “carioquêx”.
    O Casão, esquisito.
    Caio, tem uma voz de “burguesinho, mauricinho”, sei lá.
    Júnior, Juninho Pernambucano e Belleti, os mais sensatos.
    Que coisa, o tanto de celebridades esportivas que lá se foram. Dr. Osmar nem esperou a Copa acabar.
    Enfim, tem muita “baboseira” no ar. Criam-se muitos factóides, crendices e “oba obas”.
    É o Capitalismo e o Liberalismo, que andam junto com a Democracia; cada um querendo vender seu “peixe”. Até a imagem do Cristo foi usada. Não adianta contestar, que a mídia “inculta”, dita a moda. Mas, se aparece quem compra, fazer o que?

  • Valmar Azevêdo disse:

    Acho que se as pessoas lerem o que escreveu lá atrás, verás que desmente o que o próprio escreveu. O importante hoje, é desconstruir a ideia que não é minha. Caramba, que mau humor!

  • Alex Dias disse:

    Teve um vez que li um comentário em uma rede social que o cara
    disse que nunca tinha assistido programas tão chatos como na tv fechada,
    que canais de informação não prestavam, simplesmente por serem chatos.

    Isso sim é um forma de provar o tanto que a TV influencia o modo de vida
    de um cidadão.

    Tanto para os que concordam com ele e o inverso tambem.

  • Tom Vital disse:

    O erro é misturar o futebol,com os outros aspectos da vida dos brasileiros.
    Temos problemas demais a serem resolvidos.E o futebol tem que ser encarado apenas como divertimento.

  • Alisson Sol disse:

    Definitivamente, o desenvolvimento científico e tecnológico do século XX não modificou o comportamento humano de forma relevante.

    Ainda há:
    – Gente que acha que “comportamento humano” é algo que a família dele faz, ignorando que há 7 bilhões de pessoas no mundo, metade vivendo na Asia, em ambientes totalmente diferentes do que ele vive.
    – Gente incapaz de tentar ver falhas lógicas em um argumento por “reductio ad absurdum”.
    – Gente que acha que acha que “sociologia” é ciência exata, e que redes sociais são fontes confiáveis de informações, apesar das próprias admitirem que manipulam os “posts” (link).

    É muito interessante que haja diversidade nas áreas de estudo. Mas, enquanto viadutos caem e falta água, o Brasil investe em estudos de sociologia nas redes sociais… Quando as torneiras secarem, tentem “curtir” a sede…

  • edson dias disse:

    “…querer achar que o comportamento humano, moldado por milhões de anos de evolução, já tenha sido modificado de maneira relevante por invenções de menos de 100 anos, ou às vezes menos de 20 anos”.

    Bom… essa, sem dúvida, é uma das maiores besteiras já ditas na história desse blog. Afirmar que todo o desenvolvimento científico e tecnológico do século XX não modificou nosso comportamento de maneira relevante é tão absurdo quanto achar natural o Brasil perder de 7 pra Alemanha…

  • Ednei disse:

    Em parte deste texto vemos claramente menção aos editoriais da cobertura da rede Globo. Me lembro dos seguintes editoriais extremamente ridículos: 1) Pedro Bassan (aquele da Fórmula 1) sobre a vitória da Holanda sobre a Espanha: “A Holanda jogou como o Brasil de 70”. Primeiro que parece que tudo de bom no futebol foi inventado pelo Brasil e segundo que a Holanda não precisa de referência de “Brasil de 70” pois ela teve brilhantes times em 74 e 78, por exemplo. 2) Tino Marcos sobre Brasil x Alemanha (1×7) “resultado que subverte a lógica do futebol”. Desde quando não é lógico o melhor ganhar do pior? É cada uma que dá dor nos ouvidos.

  • Alisson Sol disse:

    Se a televisão é um perigo para a democracia, como explicar que já existia a ditadura antes da televisão, e o aumento do número de democracias após o advento da transmissões?

    Ao contrário desta absurda teoria, o mundo vivia majoritariamente em países controlados por reis e ditadores até o advento da televisão, nos idos de 1930. Apenas após a segunda guerra é que muitos países do mundo conheceram a democracia.

    Desculpem-me mas isto aí é uma das maiores bobagens da “moderna sociologia”: querer achar que o comportamento humano, moldado por milhões de anos de evolução, já tenha sido modificado de maneira relevante por invenções de menos de 100 anos, ou às vezes menos de 20 anos.

    Haja sociólogo querendo explicar comportamento como resultado de programas de rádio, televisão ou agora as chamadas “redes sociais”!
    Isto é atribuir ao ser humano a incapacidade de controlar o controle remoto ou o teclado do computador.

  • Joao disse:

    Caro Chico, faço um paralelo com os comentários de pessoas que fala se vc não torce pela Seleção não é patriota, essa relação e ideia começou com a ditadura e até hj é usa por torcedores sem conhecer o motivo.