Raros clubes do mundo têm esta sintonia entre time e torcida. É de arrepiar e fazer tremer, a qualquer adversário. A minha homenagem neste dia 25, ao Clube Atlético Mineiro, à sua torcida espetacular e ao maior presidente da história do Galo, Alexandre Kalil, que também faz aniversário no dia de hoje.
Peguei um texto da colega Silvana Mascagna, da editoria de Cultura do jornal O Tempo, relatando a emoção dela no Independência num jogo contra o Grêmio em 2012.
Outro texto do companheiro Mauro Beting, publicado em 2008, ano do Centenário e republicado por ele no jornal Lance! em 2010.
E de um jovem torcedor do Flamengo, que se tornou atleticano. Texto descoberto pelo Fred Melo Paiva e indicado ao nosso blog pelo Renato Paiva, no pós-Libertadores de 2013.
E viva o Galo!
“Esses torcedores…”
Publicado em 26/09/12
Silvana Mascagna
. . . O momento mais emocionante do jogo entre Atlético e Grêmio, domingo, no Independência, foi antes mesmo de ele começar. Foi quando a torcida do Galo colocou uma faixa, com balões brancos e a foto da mãe de Ronaldinho, com os dizeres: “Fé em Deus”, uma homenagem à dona Miguelina, que luta contra um câncer. O jogador, emocionado, se postou diante da torcida para agradecer. Foi ovacionado.
Fui ao Independência domingo e, como sempre, me arrepiei: o hino, os gritos de guerra, os incentivos ao time, a cada jogador, as arquibancadas tomadas por pessoas apaixonadas. No caso da torcida do Galo, ainda, tem aquela fé inquebrantável, até o último minuto, de que o gol virá. Não veio, mas nem por isso a festa deixou de acontecer. Lindo ver Ronaldinho, o craque, pedindo para a torcida não parar de gritar. Isso, aos quatro minutos de partida. É tudo o que os torcedores precisam para se animarem ainda mais.
E, no caso da torcida atleticana, parece ter mais valor ainda. Ela foi tema de um texto lindo de Armando Nogueira, em que diz que “a alma do time não é senão a alma da torcida”. “Torcidas, as haverá mais numerosas (Flamengo) ou mais conhecidas por sua grandeza (Corinthians), mas nenhum séquito futebolístico brasileiro se compara ao do Clube Atlético Mineiro em mística apaixonada, em anedotário heroico, em poesia acumulada ao longo dos anos”, afirmou Nogueira, sobre a Massa.
Jogadores de times de grandes torcidas já relataram a emoção de sentir o amor dos torcedores nos estádios. Dá para imaginar, por exemplo, o que sente Vitor, goleiro do Atlético, o primeiro a entrar em campo, sem sua equipe, para aquecer, ouvindo o estádio praticamente inteiro gritando que ele é o maior do mundo. Nem é, e ele sabe disso, mas e daí? É uma declaração de amor e é o que importa. É disso que se faz a relação entre o jogador e o torcedor. ..
* * *
A recomendação foi do conterrâneo Renato Paiva, a quem agradeço e compartilho com vossas excelências:
“Fala, Chico! Tudo bem?”
Vi no twitter uma indicação do Fred Melo Paiva para ler este texto e fiquei realmente emocionado.
Veja que bacana o que o menino (18 anos) flamenguista escreveu sobre o Galo. Dos mais bacanas que já vi.
Um abraço,
Renato Paiva
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Mauro Beting
O melhor lance do Atlético não foi num jogo.
Foi fora dele. Foi numa derrota.
Minto, num empate de um time invicto, o supervice-campeão do BR-77.
Não foi o melhor jogo ou jogada.
Mas não teve nada mais atleticano que aquilo: depois da derrota nos pênaltis para o São Paulo, Mineirão e Brasileirão estupefatos pela queda sem derrota de um senhor time de bola, os jogadores baqueados e barreados pela chuva e pela lama se abraçaram no gramado e assim foram ao vestiário.
Foi a primeira vez que vi a cena reverente que virou referência.
Ninguém estava fazendo marketing (nem existia a tal palavra).
Nenhum jogador estava jogando pra galera.
Era fato.
Time e torcida estavam juntos naquele abraço doído e doido.
Como tantas vezes o atleticano esteve junto com o time. Qualquer time.
Nada é mais atleticano que aquilo: um time que se comportou como o torcedor.
Solidário na dor, irmão no gol.
O atleticano é assim: tem a coragem do galo, mas não a crista.
Luta e vibra com raça e amor. Mas não se acha o dono do terreiro.
Sabe que precisa brigar contra quase tudo e contra quase todos. Até contra o vento, na célebre imagem de Roberto Drummond.
Aquela que fala da camisa preta e branca pendurada num varal durante uma tempestade. Para o escritor atleticano, ou, melhor, para o atleticano escritor, o torcedor do Atlético sopraria e torceria contra o vento durante a tormenta.
Não é metáfora. É meta de quem muitas vezes fica de fora da festa. Não porque quer. Mas porque não querem.
Posso falar como jornalista há 17 anos e torcedor não-atleticano há 41: não há grande equipe no país mais prejudicada pela arbitragem.
Os exemplos são tantos e estão guardados nos olhos e no fígado.
Não por acaso, o atleticano acaba perdendo alguns jogos e títulos ganhos porque acumulou nas veias as picadas do apito armado.
Algumas vezes, é fato, faltou time. Ou só sobrou raça. Mas não faltou aquilo que sobra no Mineirão, no Independência, onde o Galo for jogar: torcida.
Pode não ser a maior, pode não ser a melhor, pode até se perder e fazer perder por tamanha paixão, cobrando gols do camisa 9 como se todos fossem Reinaldo, pedindo técnica e armação no meio-campo como se todos fossem Cerezo, exigindo segurança e elegância da zaga como se todos fossem Luisinho.
Mas não se pode cobrar ninguém por amar incondicionalmente.
O atleticano não exige bola de todo o time. Não cobra inspiração de cada jogador. Quer apenas ver um atleticano transpirando em cada camisa, em cada posição, em cada jogada.
Por isso pede para que o time lute.
É o mínimo para quem dá o máximo na arquibancada.
A maior vitória atleticana é essa. Mais que o primeiro Brasileirão, em 1971, mais que o vice mais campeão da história do Brasil, em 1977.
Os tantos títulos e troféus contam. Mas tamanha paixão, essa não se mede. Essa é desmedida. Essa é a essência atleticana.
Essa é centenária.
Essa é eterna.
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