Em frente ao centro de treinamento da seleção chilena, manifestantes aguardavam o técnico Jorge Sampaoli que foi até eles hipotecar apoio.
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Hoje vi uma cena que dificilmente verei no Brasil algum dia: o técnico do Chile, o argentino Jorge Sampaoli, saiu pelo portão do “Quartel General” da seleção, atravessou a avenida e foi conversar com os manifestantes contrários às reformas que o governo quer fazer no sistema educacional do país. Hipotecou apoio pessoal e em nome dos jogadores comandados por ele, pediu que torcessem para o time à noite, na estreia contra o Equador e que os deixassem descansar, sem barulho, a partir daquele instante pois a concentração para a partida precisava ser total. As lideranças e milhares de jovens que se concentravam no local o aplaudiram e retornaram sem tumulto para a alameda nas imediações da estação de metrô Baquedano, perto da Universidade Católica. E a imprensa presente, com rádios, jornais e TVs mostrando tudo, algumas ao vivo inclusive. Diferentemente do Brasil o mundo do futebol faz parte da sociedade chilena como um todo e todos se manifestam como qualquer cidadão. O ex-artilheiro da seleção e do Real Madri, Iván Zamorano, é figura comum nas passeatas dos estudantes, em apoio ao filho, atuante no movimento, que também não aceita os cortes previstos pelo governo nesta reforma.
Imaginem no Brasil um técnico de futebol, ainda por cima estrangeiro, apoiando movimento contrário a qualquer política de qualquer governo. Levaria porrada de todos os lados, além de ser chamado de intruso.
Aliás, Sampaoli é um raro caso de argentino bem quisto no Chile. Eles não nutrem rivalidade com os “hermanos” e sim ódio.
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De forma quase unânime a imprensa chilena aposta na importância dos laterais no esquema do técnico Jorge Sampaoli para tentar conquistar pela primeira vez na história a Copa América, que completará 100 anos de disputa em 2016. Mas se depender do que o Mena está jogando no Cruzeiro, o lado esquerdo deles não terá toda essa força. Pela direita Mauricio Isla, do Queens Park Rangers tem mais prestígio ainda por aqui.
Apesar de problemático, Valdívia, do Palmeiras tem o prestígio sempre em alta entre os chilenos.
A confiança na seleção deles é tanta que nem parece que o Chile vive uma turbulência política. Além da comunidade estudantil as ruas de Santiago estão permanentemente lotadas de torcedores chilenos e de algum dos demais 11 países que disputam a Copa América. O clima é de festa e integração, com presença maior de equatorianos e principalmente colombianos até agora. Estes são os mais festeiros, não são fáceis, e Belo Horizonte sentiu bem isso durante o Mundial do ano passado: o quanto são agitados.
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