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A simplicidade e a seriedade do Capitão mesmo sem receber as devidas honras da CBF nos 40 anos do Tri no México

Renato Alves é conterrâneo de Sete Lagoas, jornalista de prestígio em Brasília (Correio Braziliense). Escreveu especialmente apara o blog sobre o contato que teve com o Carlos Alberto Torres durante a Copa da África do Sul:

* “Manda um abraço pro seu velho!”
“Claro! Ele vai achar o máximo. É seu fã.”
Assim terminou o nosso encontro em 2010, na Cidade do Cabo (África do Sul). Naquela noite, tive a honra de assistir um jogo de futebol ao lado dele e de entrevistá-lo.

Na verdade, havia saído de casa (morava na Cidade do Cabo, onde estudava e trabalhava temporariamente em função da Copa do Mundo) apenas para me divertir. Iria para uma festa na Casa Placar, em uma imensa estrutura montada no Waterfront, à beira do cais do porto da mais bela cidade sul-africana.

No entanto, ao chegar lá, vi o Carlos Alberto e o Ricardo Rocha. Ambos haviam sido contratados para comentar os jogos narrados em uma cabine de rádio montada dentro da Casa Placar, transmitidos só para os presentes na tenda. Isso mesmo: nenhum deles estava ali para participar da transmissão de alguma grande emissora de TV ou de rádio do Brasil ou do exterior. Claro, fui atrás de ambos.

Simpático, o Carlos Alberto me pediu apenas para terminar a “transmissão” (de um jogo sem importância para o Mundial). Assim que terminou a partida, fomos para a área externa da Casa, uma varanda, onde o som do DJ não nos atrapalhava. Ali, batemos um longo papo. Conversamos de tudo um pouco. Uma prosa agradável.

Assim que a entrevista terminou, pedi para fazer uma foto dele. Foi aí que vi outro Carlos Alberto. Com um semblante sério, parou, pensou e fez um pedido: por favor, só me fotografe da cintura para cima. E não quero que a cadeira apareça.

O Capita estava em uma cadeira de rodas. Só se levantava dela apoiado em um neto jovem ou no amigo Ricardo Rocha. Mas fazia de tudo para não demonstrar fragilidade Sem dar detalhes, me disse que estava com um “problema” na coluna.

Respeitei o pedido dele. Não tinha motivo para ser diferente. Era uma questão muito pessoal e a condição física do entrevistado não era de interesse público naquele momento. Não se tratava de algo grave e ele já não era um jogador profissional. No mais, tinha a idade para ser o meu pai, era um senhor, avô. Eu não tinha o direito de expô-lo ao que não queria.

Além da foto para o jornal, pedi para fazer uma foto ao lado dele. Queria um registro para mostrar ao meu pai. Sei que ele se empolgaria, que renderia assunto ente nós. Ricardo Rocha fez as vezes de fotógrafo. Me despedi e decidi encerrar a minha festa.

Muito mais do que o estado de saúde do Carlos Alberto, me incomodou o ostracismo dele naquela noite tão importante para o futebol brasileiro. O capitão do melhor time de todos os tempos estava em uma festa que nada tinha a ver com ele, esquecido pela CBF e por grande parte da imprensa.

No dia do 40º aniversário do inesquecível Tri, o Capita ganhou uma tosca homenagem na Casa Placar, com o discurso de um desconhecido em um microfone e a exibição de alguns gols de Carlos Alberto na Copa de 1970. Gols mostrados em um monitor de TV para um público majoritariamente sul-africano e jovem, completamente desinteressado naquele esporte e naquele senhor homenageado.

O cenário me incomodou tanto que me fez procurar um laptop e escrever uma matéria para o Correio Braziliense, com a entrevista do Carlos Alberto Torres e a descrição daquela noite, com o destaque da ausência de uma homenagem à altura do maior capitão que o Brasil já teve, ao único capitão em tempos de ditadura que o país tinha motivo de se orgulhar.

Um senhor simpático, agradável, generoso, inteligente. Um craque!


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Comentários:
3
  • Geraldo Magalhães disse:

    Estes jogadores da seleção de 70 eram craques incomparáveis do nosso futebol, mas infelizmente fazem parte de uma panelinha da elite do futebol brasileiro concentrada no Eixo. Já ouvi relatos de que o ambiente e relacionamento desta turma durante a copa de 70 era péssimo. Cheio de panelinhas. Dario e Tostão que o diga, embora atualmente não gostam de falar sobre o isso. Como comentaristas são egocêntricos, chatos e fracassados como técnicos de futebol. São mal humorados e bairristas e como Pelé, falam pelos cotovelos. Quando foram campeões ouvi da imprensa que ganharam automóvel zero e foram merecidamente bem remunerados. Ha anos atrás ouvi dizer também que foram agraciados com uma verba generosa e até em aposentadorias especiais concedidas pela cbf. Não estou aqui querendo desmerecer ninguém, Carlos Alberto foi sim um dos melhores laterais direitos da história do futebol, uma grande sumidade no futebol brasileiro e seu falecimento é sim uma perda irreparável, mas menos gente, sem essa de pobre coitado.

  • Alisson Sol disse:

    Excelente jogador. Parece ter sido excelente pessoa. Que descanse em paz!

    Agora, na minha opinião, era um péssimo comentarista, mantido no ar por gratidão e por gerar polêmicas que dão audiência. Vi “análises” dele de várias partidas, e eram sempre muito parciais para os times do Rio, e pareciam aquela “análise de outro jogo”, diferente do que eu havia assistido.

  • Frederico Dantas disse:

    Belo texto do Renato, como sempre.