À toda nação azul a nossa homenagem pelo aniversário de fundação do clube, na data de hoje. Transcrevo, na íntegra, comentário do João Chiabi Duarte, um dos maiores cruzeirenses que conheço, em que ele faz um balanço de erros e acertos recentes, com a perspectivas para 2017.

* “Somos do tamanho dos nossos sonhos”

Visão de águia ou de codorna ? –  Começo esta coluna dizendo que os erros cometidos pelo Cruzeiro em 2015 e 2016 tiveram várias componentes em comum, mas, a principal delas foi o emprego equivocado de recursos. A águia é um animal que voa alto, seleciona a sua presa, ataca e faz a festa… Já a codorna faz voo rasteiro e vira e mexe é abatida por um de seus predadores naturais.

Um gestor de sucesso projeta alcançar objetivos possíveis de se conseguir, mas, que contenham desafio, exijam trabalho e esforço diferenciado, que não tenha medo de ousar, mas, sempre buscando criar uma saída, caso haja erro conceitual no seu plano.

O Cruzeiro errou ao acreditar que o negócio era investir, ao mesmo tempo, em vários jovens promissores para ver se alguns deles estouravam e pagavam todo o investimento feito pelo clube na aquisição deles. Assim chegaram ao clube vários jogadores que nem sequer atuaram no grupo profissional como por exemplo: Luiz Fernando (Campinense), Ronny (Remo), Caíque Valdívia (ASA de Arapiraca), Santiago (Botafogo – RP), Latorre (Atenas – Uruguai) ou Dione (Rondonópolis).

Ainda nesta linha de investimentos também chegaram ao clube os jovens Marcus Vinícius (Náutico), Gabriel Xavier (Portuguesa), Raniel (Santa Cruz), Alex (Botafogo-SP), Joanderson (São Paulo), Allan (Londrina), Pará (Bahia), Uiliam Corrêa (Ceará), Neílton (Santos), Joel Teguet (Londrina/Coritiba).

Mas, ainda aconteceram em 2015 e 2016 uma série de contratações que não agregaram valor ao elenco cruzeirense e a maioria deles não ficou no clube: Grolli (Grêmio), Fabiano (Chapecoense), Fabrício (Inter), Breno Lopes (Paraná), Gilson (Grêmio), Samúdio (Libertad – Paraguai), Mena (Santos), Paulo André (futebol chinês), Willians (Inter), Felipe Seymour (Spezia – 2ª div. Itália), Marinho (Ceará), Riascos (Tijuana – México), Vinícius Araújo (de volta por empréstimo do Valência – Espanha), todos estes de 2015.

E neste ano : Sanchez Miño, Rafael Silva, Pisano, Federico Gino, Bruno Nazário, Marciel e Douglas Coutinho no início da temporada e depois Edimar e Denílson, que definitivamente não fizeram festa.

Para não dizer que todas as contratações foram equivocadas : Arrascaeta, Lucas Romero, Robinho, Rafael Sóbis, Rafinha e Ábila  foram boas incorporações ao elenco.

E diria que Ariel Cabral, Bryan e Ezequiel não fizeram feio nas partidas que atuaram, chegando a ter atuação de bom nível em alguns jogos.

Definitivamente a pior contratação foi a de Riascos que custou caro (2 M€ e salário de US$ 100 mil mensais), chegou sob ojeriza da torcida (em função do pênalti perdido contra o rival em 2013), embora não fosse um mau jogador. Porém, no clube, não conseguiu jogar e foi investimento de grande prejuízo, embora não conseguisse ser pior que Tecla Farias (o maior equivoco em contratações da história do clube).

O fato é que o Cruzeiro virou o ano de 2015 com 79 jogadores sob contrato e em 2016 este valor foi reduzido para próximo de 60, com uma diferença que o clube passou a pagar bem menos que no ano anterior quando o gasto com os atletas emprestados chegou à cifra de quase R$ 3 milhões mensais segundo se apurou nos sites, num erro absurdo de gestão.

O Cruzeiro errou demais na avaliação de 2015, principalmente na era Gilvan – Valdir Barbosa & Benecy Queiroz, que durou de janeiro a julho. Isaías Tinoco nem esquentou o banco. A partir de setembro, sob o comando de Bruno Vicintin e Thiago Scuro, o clube viveu um primeiro momento de muita dificuldade de caixa, necessidade de racionalização de gastos e baixíssima capacidade de investimentos na virada do ano. Depois com mais capacidade o nível das contratações melhorou e o a contribuição delas também. Considero que o maior erro da dupla Scuro & Vicintin foi na escolha de Deivid para iniciar o ano (torci muito para que desse certo, conspirei a favor, mas, de fato foi um grande equívoco e se perdeu tempo precioso) e depois trazer Paulo Bento em missão transcultural no meio do Brasileiro e não ter a noção de como lidar com um treinador português. Há que se entender que os patrícios são literais. E respeitam a hierarquia como poucos.

Se falaram com ele que queriam 40% do time com jogadores feitos na base ele certamente procurou respeitar (podem contar como ele escalou Bruno Viana, Bruno Ramires, Allano, Fabrício Bruno, Alisson, Élber, Marcus Vinícius, Alex, etc) se não teve em média pelo menos 4 deles no time titular.

Agora, com uma base bastante razoável é chegada a hora de apostar e trazer um grande nome. Alguém que chegasse ao clube para ser titular inquestionável e isto não é tarefa muito fácil não, mas, este jogador existe no marcado e exigirá investimento, com capacidade de retorno. Falta-nos ousadia. O pior é prometer um grande nome, antes do contrato estar rabiscado e depois ficar em dificuldade e ter que contratar o que aparecer.

O presidente de um clube de futebol tem que entender que neste contexto o erro é equivalente a prometer um presente para uma criança e depois não ter condição de cumprir a promessa. Pode mexer e resfolegar… toda vez que a criança o vir, a cobrança virá na lata.

No futebol as oportunidades de bons negócios aparecem. É preciso se ter no radar bons jogadores que vivem um mau momento, porque estes são alvos mais fáceis e podem dar retorno. A montagem do time de 2013/2014 contou com apostas, combinadas a jogadores experientes que não viviam bom momento em seus clubes de origem e deu certo. Por exemplo :

O Flamengo quer William do Bigode?

Porque não fazer uma troca com Mancuello e Marcelo Cirino, mandando para lá William e colocando um dos nossos jovens promissores (Alisson ou Élber) para lhes dar a oportunidade de aparecer, uma vez que no clube, muitos começam a duvidar do valor deles, principalmente em função das contusões frequentes.

Todos sabiam que Carlitos Tevez estava insatisfeito no Boca Jrs. e com o Corinthians fora do páreo em função da situação financeira difícil, não foi criada nenhuma estratégia de marketing que permitisse ao clube trazer um ídolo para Belo Horizonte, que poderia ganhar aqui US$ 400 mil dólares mensais ou R$ 1.4 milhão, por um contrato de 24 meses. Muitos dirão que é um absurdo para qualquer clube brasileiro pagar isto e realmente é. Só que, com um esquema de marketing ousado, coisas deste tipo são possíveis.

O retorno de exposição da marca seria absurdo, vendas de camisas também, aumento do nº de sócios, com certeza. Mas, a chance passou e os chineses o levaram com certeza gastando pelo menos 8 vezes mais que o Cruzeiro gastaria, pois, não há comparação entre viver aqui no Brasil e na China.

Mas, para nossa tristeza o Cruzeiro gastou em 2015 com jogadores emprestados e sem servirem ao nosso clube um valor que seria o dobro que se gastaria pagando a Tevez por 2 anos de contrato aqui.

Que visão esperamos para o Cruzeiro de 2017 ?

Que possamos pensar grande, trabalhar com a máxima capacidade e de forma integrada entre as diretorias comercial, financeira, de marketing, comunicação e futebol de forma a se ter um projeto vencedor. Trazer jogadores certos para o nosso time, que possam finalmente fazer a diferença e reconduzir o clube ao lugar de honra em todas as competições. Ficar colocando a culpa em A ou B não levará a bom termo.

Quem administra tem o direito de acertar, de errar, de ter escolhas pessoais, mas, não se pode continuar a repetir os erros. A ter que apostar sou muito mais dar chances aos garotos que estão no clube. Deixo aqui registrada a minha seleção da base : Georgemy, Kelvin, Ronaldo, Murilo Cerqueira e Victor Luís; Lucas Nonoca e Vânder; Cesinha, Rick Sena, Raniel e Dudú.

A hora é de trazer pelo menos UM grande nome.

Sem fugir da briga vou listar opções de jovens e experientes jogadores : Edwin Cardona, Ricardo Goulart, Éverton Ribeiro, Jádson, Thiago Neves ou Kaká, como jogadores para chamarem a atenção e incorporar valor ao nosso grupo atual e dar a famosa dor de cabeça boa para o nosso ótimo treinador Mano Menezes.

Gosto demais do Marcelo Moreno, mas, a sua volta só se justificaria se o Ábila fosse negociado, o que espero não aconteça, porque confio demais no futebol de Ramon Ábila para 2017, já mais adaptado ao nosso futebol.

Hoje o time a ser melhorado no Cruzeiro teria Rafael (Fábio, Lucas França), Mayke (Ezequiel, Kelvin), Dedé (Manoel), Caicedo (Léo, Murilo Cerqueira) e Diogo Barbosa (Bryan, Mena, Edimar); Lucas Romero (Hudson, Lucas Ventura), Henrique (Ariel Cabral, Vânder) e Robinho (Marcus Vinícius, Rick Sena); Arrascaeta (Rafinha, Alex); Sóbis (Alisson, Élber, Bigode) e Ábila (Raniel, Judivan).

Este será o último ano de Gilvan do Pinho Tavares no comando do clube. Se ele marcou de forma indelével a gestão 12-13-14 com a conquista inédita de 2 Brasileiros seguidos e mereceu ser eleito por aclamação, o fato é que a gestão dele de 15-16 deixou muito a desejar e a chance que ele tem é fazer um 2017 vitorioso, marcado por conquistas e sabendo que a última imagem tem peso muito especial.

Hoje é o último dia deste ano que foi muito difícil para nós cruzeirenses.

Que Deus possa fazer com que a nossa diretoria por finalmente adotar a visão de águia e trazer para o clube jogadores que façam a diferença, que façam a nossa torcida sonhar e conspirar a favor e que nos tragam títulos, porque ser um clube vencedor é a sina do Cruzeiro Esporte Clube.

Agradeço a todos vocês pela parceria de 2016 e renovando os votos para que Deus nos inspire e faça de 2017 um ano diferenciado nas vidas pessoais dos nossos amigos que interagiram conosco durante o ano. E que venham conquistas e novas Páginas Heroicas Imortais para a nossa história.