Fotos: Leonardo Silva Faria
Me senti como nos antigos festivais do futebol amador do interior de Minas, em que famílias inteiras iam juntas para a beira dos campos, gramados ou não, torcer pelo time do bairro ou da cidade contra “visitantes” de outro bairro ou de cidade vizinha.
Não faltou a banda musical . . .
. . . nem as barracas dos camelôs que vendem de tudo, nem os bares da vizinhança.
Só que tudo em proporções gigantes, justificando os 56 anos da promoção de uma das maiores emissoras de rádio do Brasil e dos milhões de habitantes de Belo Horizonte e região metropolitana.
O prazer de estar no Independência se renova a cada jogo e confesso que não esperava que uma final de Copa Itatiaia fosse tão e até mais prazerosa que muitos jogos profissionais, do Galo, Cruzeiro e América. Quase 15 mil pessoas, gente simples, que enquanto caminhava nas imediações do estádio ou nas filas de acesso comentava que iria entrar no “Gigante do Horto” pela primeira vez.
Não é prá menos: com o ingresso do futebol profissional custando os olhos da cara é realmente difícil para alguém que vive do salário ou pouco mais que isso, pagar para entrar num templo desses. Senti ao vivo e em cores vivas, frente a frente, o que é a famosa, covarde e sacana elitização do futebol no Brasil.
Verona do Bairro Aparecida, representando Belo Horizonte e o Sarzedo Esporte Clube, da cidade do mesmo nome, representando o interior, tiveram tratamento VIP para decidir o título. Tudo de primeira, como se fosse um jogo do Brasileiro: estrutura total da FMF, autoridades policiais, bombeiros, segurança, ambulâncias e cobertura da imprensa com uma vantagem fundamental: sem tanto protocolo que tanto passou a encher o saco nos últimos anos no futebol mineiro e nacional.
Gramado impecável, arquibancadas cheias, bares internos e externos lotados, vendendo cerveja até o intervalo e diversão pra todo mundo. Com direito a provocação e respostas das torcidas, numa boa, como antigamente, só no jogo de palavras e palavrões, sem porrada, sem agressões.
A torcida do Sarzedo mais provocativa mandava a do Verona “praquele lugar”. A do Verona, maioria absoluta presente, retrucava com gestos e gritos de “roceiros”. Um gordinho encarava com gestos os “sarzedenses” que davam o troco: “Gordinho viaaado, gordinho viaaaado…” e o danado, gozador, simplesmente se virou, baixou a bermuda e mostrou o traseiro, provocando gargalhada geral, inclusive dos provocadores.
Mesmo presente em grande número e bem armada a PM não precisou agir, porque todo mundo que estava ali só queria se divertir, como deveria ser sempre o futebol.
O jogo foi razoável. O Verona parecia que quebraria o jejum: há cinco anos nenhum time da capital ganha a Copa Itatiaia. Mas tomou um gol em meados do segundo tempo e não teve forças para reagir. A turma do futebol amador de Beagá jura que os times do interior detém tanto poder porque as cidades se unem em torno do seu representante, inclusive o poder público. Segundo Claudinho, do Santa Cruz, oito dos 11 titulares do Sarzedo trabalham na prefeitura da cidade e são liberados para treinar. Sem falar que o comércio injeta grana para que o time fique forte e derrote o adversário da capital.
É do jogo! Parabéns ao Sarzedo que fez por merecer e manteve Belo Horizonte na fila nessa briga.
Só sei que valeu demais a pena ter ido ao “Indepa” e convido às senhoras e senhores que nunca foram, que não deixem de ir na final de 2018. Uma viagem no tempo em que o futebol profissional era parecido com isso!
Deixe um comentário para Pedro Vítor Cancelar resposta