O Cruzeiro perdeu para o Bahia em Salvador e toda derrota de qualquer clube grande gera consequências. A primeira é a contestação quanto à condução do time pelo treinador. Não engrosso o coro daqueles que dizem que o Mano Menezes trava o time. Essa turma é maioria, que ganhou um importante aliado nessa tese: Alex, o ex-camisa 10, hoje comentarista da ESPN. Assim como os maiores críticos do Mano, ele acha que o treinador é defensivista, que não respeita a tradição ofensiva do time azul, que vem dos tempos daquele timaço dos anos 1960.
Discordo do Alex e de todos que pensam assim, por um motivo simples: Mano Menezes não tem craques como Tostão, Dirceu Lopes, Joãozinho e tantos outros daqueles tempos de ouro. E sem material humano, esqueçam!
Essa história de “característica” história de um clube ou outro jogar é uma “meia verdade”. Depende dos jogadores que tem no momento. Se o treinador não dispõe de peças que saibam executar o precisa ser feito, não adianta esperar milagres porque isso não existe.
Veja este artigo do Alex no site Chuteira:
* “É preciso respeitar a história e filosofia dos clubes
Seja para treinadores, jogadores ou qualquer outra área do clube.
Não podemos passar por alguém nem imaginar quem é aquela pessoa. É dever de casa também o clube apresentar sua história a quem está chegando. É importante ao envolvido saber o pedaço de história que ele está caminhando em cima.
Hoje no Brasil temos alguns exemplos claros disso. Renato nasceu no Grêmio, Pachequinho no Coritiba, Eduardo Baptista frequentava o Atlético Paranaense com seu pai em sua adolescência, Cuca já foi atleta do Palmeiras, Milton Mendes jogou no Vasco, o mesmo com Abel no Flu, Jair no Botafogo conhece essa rica história desde o ventre de sua mãe, Rogério Ceni provavelmente se confunda quando pedem seu endereço.
Mas, em minha opinião, isso se torna mais relevante a partir do momento que você conhece a história e a respeita.
Na sua maioria os clubes têm histórias bem definidas e quebrar paradigmas muitas vezes se torna complicado.
Vivi isso na pele.
No Palmeiras participei de um grupo campeão da América. Mas éramos criticados pela nossa forma de jogar. Tínhamos um time forte tecnicamente falando e mentalmente aprendemos a sofrer. Porque o Felipao por convicção preferia o pragmatismo do 1 a 0 e se proteger, do que buscar o 2 a 0 e assim correr algum risco.
Hoje passados alguns anos sabemos que estamos na história do clube, mas vencemos sem jogar naquilo que o palmeirense gosta. Culpa de Ademir da Guia e companhia que ensinaram os palmeirenses a cantar e vibrar com equipes mais ofensivas. Quebramos um paradigma, mas sempre terá um que levantará essa bandeira.
No Flamengo com 10 minutos de clube fui chamado de lado por um torcedor que me disse de maneira muito rude.
“Isso aqui é Flamengo. E você não tem a cara desse clube”. Meses depois um diretor chamado Oaquin me disse o mesmo. “Alex, você é bom jogador. Mas não entendeu o que significa o Flamengo”.
Aí fiz várias questões a ele em cima do que dizem ser a mística rubro negra. Queria aprender de dentro o que significava o: “isso aqui é Flamengo”. Aí entendi que o período do Zico tinha oferecido isso ao clube.
Infelizmente por todo o descompromisso do clube e meu também não pude vivenciar essa mística.
Hoje Mano Menezes vive isso no Cruzeiro. O cruzeirense prefere a derrota com proposição de jogo do que ficar jogando de forma reativa. Esperar o adversário agir e em cima dessa ação, fazemos nosso jogo. É uma forma de atuar e eu respeito muito isso.
Mas para quem tem como referência Tostão e Dirceu Lopes fica complicado de se entender e aceitar. Pode se ganhar assim? Pode! Já vimos vários casos assim (no próprio Cruzeiro). Mas Mano encontra uma parede chamada Filosofia. E a do Cruzeiro é bem definida. O torcedor sente que seu sentimento pela sua história está sendo usurpado quando olha seu time apenas reagir.
Por mais que queiramos fazer cópias, ou adaptações, existem um peso enorme em cima do que o avô passou para o pai, que passa para o filho e aí estão na arquibancada. Brigar contra tradição é sempre muito complicado.
Minha dica a todos que chegam em um clube do qual conhecem pouco é perguntar muito e se cercar de história e tradição. Não ganha jogos e campeonatos, mas ajuda muito não hora de absorver e entender o posicionamento do torcedor. Respeitar a história e filosofia do clube é o primeiro passo para ter um caminho limpo. Já existem vários obstáculos ao longo de uma caminho. Se colocarmos mais um, fica cada vez mais duro caminhar.
Viva as diferenças! Viva aquele que entende o passado e consegue caminhar bem, mesmo que suas convicções sejam antagônicas a aquele rico passado no qual caminha hoje!
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