Blog do Chico Maia

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Valeu Boechat! Nos encontraremos no além!

Foto de reportagem do Hoje em Dia, homenageado pelo América: “Em 2015, quando esteve no Mercado Central, Boechat foi presenteado pelo clube mineiro.

As manifestações de pesar estão mostrando ao Brasil o quanto ele querido e respeitado. Seus desabafos matinais eram o que quase todo cidadão gostaria de falar. Não tive o prazer de trabalhar com ele na Bandeirantes. Eu tinha acabado de sair quando ele chegou. Coincidentemente viajamos no mesmo voo da South African Airways para a Copa do Mundo de 2010. Eu na classe econômica, ao lado de outro Boechat, o Yan, também jornalista, na época da revista IstoÉ e sem nenhum parentesco com o Ricardo. Ele na executiva, no mesmo espaço de figurões do futebol mundial como o Pelé e o lendário Gigghia, o uruguaio que fez o gol da virada sobre o Brasil na Copa de 1950, no famoso “Maracanazzo”. Sim, o Gigghia em carne e osso, que morreria cinco anos depois, aos 88 anos, exatamente no dia em se comemorava 65 anos do feito histórico dele, dia 16 de junho de 1950. Também estava neste voo, Ricardo Teixeira, ainda poderoso chefão da CBF, óbvio que lá na executiva.

Na fila, já dentro do avião, procurando a poltrona, estávamos perto um do outro e puxei conversa. Ele falou do carinho que tinha por Belo Horizonte. Perguntou onde eu estava sentado e disse apareceria para conversarmos depois que o voo se iniciasse. Duas horas depois de iniciada a viagem eu, outros repórteres e vários fotógrafos fomos autorizados a entrar na executiva para entrevistamos Pelé e Gigghia. Na saída, Ricardo Boechat gritou:

__ Daqui a pouco vou lá, hein!?

Uns 15 minutos depois apareceu, sorriso no rosto e muito falante. Perguntou ao Yan, na poltrona do centro, qual a origem do Boechat do nome dele. Não descobriu nenhum parentesco. Brincou com o fato do Ricardo Teixeira estar no mesmo voo, e perto dele, na executiva.

A conversa teve que ser interrompida por causa de uma forte turbulência e a ordem do comandante da South African para que todos retornassem aos seus assentos e afivelassem os cintos.

__ Quando chegarmos em Joanesburgo a gente volta a se falar -, disse -, caminhando apressado para o lugar o lugar dele.

No enorme aeroporto de Joanesburgo, fila gigante da imigração e apresentação de passaportes, ele lá na frente. Chegando ao guichê, acenou e gritou:

__ Vá ao nosso estúdio lá no IBC, ao lado do Soccer City. Estarei lá a partir de amanhã.

IBC é o centro internacional de transmissões (International Broadcast Center), que abriga quase 100 emissoras de rádio e TV nas Copas, um espaço enorme, com estúdios, escritórios e quase dez mil profissionais trabalhando, entre jornalistas, técnicos, operadores e executivos. Normalmente eles ficam em outros prédios, distantes do Centro Principal de Imprensa – MPC (Main Press Center), dedicado aos jornalistas de textos, igualmente gigantes. Verdadeiras torres de Babel, mais de cem países diferentes. Na correria da cobertura da Copa, fui lá uma vez, no estúdio da Itatiaia e não deu tempo de procurá-lo.

Na Copa das Confederações em 2013 ele esteve no Mineirão, para Brasil x Uruguai. No Centro de Imprensa, rodeado de companheiros de todo o país, contava casos, dava risadas e não parava de falar. Deixei para abordá-lo depois do jogo. Com a quebradeira aprontada pelos black-bocks na Avenida Antônio Carlos, saí antes de o jogo acabar e não estive com ele.

Ano passado fui convidado pelo então diretor da Band Minas, José Saad Dualib, para um “café com o Boechat”, na casa dele, no Retiro das Pedras, num sábado. Eu e mais uma multidão de convidados. Numa manhã de muita chuva eu iniciava a subida da Br-040 a caminho do evento quando o telefone tocou e uma amiga informou que estava impossível chegar até a casa do Zé Saad. Havia engarrafamento da portaria do condomínio até a Br e muita gente estava retornando. Dei meia volta logo após o Posto Chefão e perdi a oportunidade de, finalmente, bater um papo com mais tempo com Ricardo Eugênio Boechat, que se foi hoje, neste trágico acidente de helicóptero em São Paulo.

Descanse em paz Boechat! Nos encontraremos um dia, no além, e vamos botar a conversa em dia.

O Hoje em Dia fez uma bela reportagem sobre as homenagens de mineiros a ele e cita nota que dei aqui no blog sobre o carinho dele pelo América:

https://www.hojeemdia.com.br/primeiro-plano/torcedor-do-coelho-e-exemplo-para-colegas-mineiros-lamentam-a-morte-de-ricardo-boechat-1.693140

O post original:

https://blog.chicomaia.com.br/2014/04/30/ricardo-boechat-reforca-seu-amor-ao-america-e-homenageia-o-coelho-pelos-102-anos/


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Comentários:
4
  • Márcio Amorim disse:

    Caros Chico e amigos!
    Meio que desiludido com a catástrofe (mais uma) promovida pela diretoria do meu América, no final do ano passado, ando meio sumido do Blog. Não posso me furtar de dizer algumas palavras nestes momentos de seguidas tragédias, principalmente para comentar a mais recente e igualmente chocante: a morte do Boechat.

    O jornalismo tem o poder de despertar em nós admiração imensurável por alguns profissionais como a que o Brasil está sentindo por esta figura ímpar, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente.

    Eu, muitas vezes, acordei em meio a vários escândalos, um após outro no nosso dia-a-dia, em passado recente, cem por cento das vezes protagonizados pela nossa classe política. Eu soltava impropérios e vivia engolindo-os por não ter a quem dirigi-los de uma forma contundente e grosseira como sempre foi a minha intenção..

    Sempre havia um consolo: não há de passar batido. Logo mais, com a calma e a classe de sempre, o Boechat falará por mim. E ele nunca me decepcionou. Batia forte, batia pesado, batia com classe, batia com ironia, batia engraçado, em português impecável.

    Só mesmo o lixo político para fingir que não era dirigido a ele. Com isto, foi amealhando a minha admiração e simpatia. Admiração que, quanto mais forte se tornava, mais fazia dele um semideus da mídia, mesmo cercado por profissionais por vezes medíocres e muitos comprometidos com as imundícies políticas.

    Ao contrário do colega Valmar do Blog, não acho que ele falava o que o povo queria ouvir. Acho que ele falava o que o povo queria falar e não podia. Deve ser o mesmo.

    O sentimento nacional, já há mais de 24 horas, traduz-se em uma interrogação tão silenciosa quanto angustiante: por quê? O tamanho do silêncio é que nos dá a dimensão da tristeza.

  • Claytinho do Nova Vista - BH ( Hexa-Campeão !!! ) disse:

    Grande perda para o Jornalismo Brasileiro. Um dos poucos independentes que ainda restavam.
    Que Deus possa consolar seus familiares!

  • Pedro Vítor disse:

    Que descanse em paz, mas foi duro esse acidente, coitado merecia melhor sorte!

  • Valmar Azevêdo disse:

    Um dos pouquíssimos que criticava quem quer que seja se estiver errado. Falava o que o povo queria ouvir. Realmente uma perda muito grande para o parcial jornalismo brasileiro. Quanta tragédia meu Deus!