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Aviso aos navegantes: o significado da palavra mecenas e o fracasso do Hertha Berlim

Primeiramente o significado da palavra, de acordo com os dicionários, neste caso, o digital : “Mecenas: “substantivo masculino de dois números

  1. indivíduo rico que protege artistas, homens de letras ou de ciências, proporcionando recursos financeiros, ou que patrocina, de modo geral, um campo do saber ou das artes.”

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Pois bem! Um dos maiores exemplos da humanidade foi Leonardo da Vinci, levado pelo Rei Francisco I, da França, para passar seus três últimos anos de vida (1516) em Amboise, que fica a duas horas de carro de Paris.

Uma das únicas condições exigidas pelo “patrocinador” Francisco I era ter meia hora de bate papo diário com o gênio.

Mecenato é isso, sem tirar nem por: um endinheirado que banca alguém ou a uma instituição pelo prazer de curtir a sua arte, talento, inteligência, espetáculo, enfim…

Sem exigir garantias ou esperar nenhum pagamento em troca. O resto é “perfumaria” e enganação.

Neste dia de Nossa Senhora Aparecida, da qual não sou devoto, (valei-me Bom Jesus do Matozinhos, de Conceição do Mato Dentro!), li a ótima coluna do Gerd Wenzel, no site da rede alemã Deutsche Welle, que recomendo demais. Nessa história toda de SAF’s e Mecenas no futebol brasileiro, muitos clubes correm risco. Vejam a situação de um dos mais tradicionais clubes da Alemanha:

* “Seduzido pelo ouro do mecenas, Hertha está à beira da ruína”

Gerd Wenzel

ColunaHalbzeit

Em pouco mais de três anos, o sonho do “Big City Club” movido a muito dinheiro se tornou um pesadelo que deixou a equipe à beira da ruína e sua torcida à beira de um ataque de nervos, escreve Gerd Wenzel.

Era para ser um inédito e revolucionário experimento do centenário clube da capital alemã. Em fins de julho deste ano, o Hertha festejava 130 anos de vida e, na semana das comemorações, “a velha senhora” fez sua estreia na temporada 2022/2023 jogando com o Eintracht Braunschweig. Era a primeira rodada da Copa da Alemanha e, para espanto da fiel torcida berlinense, o Hertha perdeu e foi eliminado do torneio.

Seria esse um mau presságio do que ainda estava por vir?

Foram muitas as expectativas geradas pelo volumoso aporte de 374 milhões de euros do investidor Lars Windhorst no decorrer dos últimos três anos. Desde setembro de 2019, o bilionário já havia investido 224 milhões de euros, aos quais foram adicionados posteriormente mais 150 milhões.

Naquela ocasião, Windhorst proclamava aos quatro ventos que o objetivo de tamanha injeção de capital novo era transformar o Hertha num “clube da primeira prateleira na Alemanha e na Europa, será um Big City Club”, prometia.

Em 8 de novembro de 2019, Jürgen Klinsmann foi chamado para fazer parte do Conselho Administrativo e apenas três semanas mais tarde assumiu também o cargo de técnico. Aos jornalistas presentes na coletiva de imprensa, Klinsmann assegurava: “Estou feliz por fazer parte deste excitante projeto de futebol. Berlim não perde por esperar porque algo grandioso vai acontecer”.

A saída de Klinsmann

Nenhum clube do mundo gastou mais na janela de transferências em janeiro de 2020 do que o Hertha Berlim – foram 80 milhões de euros gastos com a compra de jogadores exigidos por Klinsmann.

O experimento com Jürgen Klinsmann teve curtíssimo prazo de validade. Durou pouco mais de dois meses. Em 11 de fevereiro de 2020, o técnico anunciava, através de seu perfil no Facebook, que não tinha mais interesse em continuar no cargo. Assim, sem mais nem menos. Justificou sua decisão por supostamente não ter recebido da diretoria todo o poder que julgava necessário para exercer sua função a contento.

A intempestiva decisão de Klinsmann surpreendeu o mecenas: “Talvez como adolescente alguém possa se dar ao luxo de agir dessa maneira, mas na vida empresarial de adultos esse tipo de comportamento birrento é inaceitável”. Desde então, mais cinco treinadores passariam pelo clube em pouco mais de dois anos, sinalizando o descalabro administrativo que tomou conta do clube.

Por ironia do destino e a exemplo de Jürgen Klinsmann, o bilionário Lars Windhorst acaba de anunciar, também via Facebook, que não existem mais condições para manter o engajamento financeiro do seu grupo empresarial Tennor com o Hertha Berlim: “Os fundamentos de uma cooperação mútua estão destruídos”, declarou.

Ao mesmo tempo, Windhorst quer seu dinheiro de volta: “O clube pode recomprar as quotas que adquiri pelo valor de compra, ou seja, 374 milhões de euros”. Ocioso dizer que o Hertha Berlim não tem condições de desembolsar tamanho montante e é justo perguntar: quem vai comprar as ações de Windhorst, que nem de longe valem atualmente 374 milhões de euros?

Ruína financeira e esportiva

O Hertha está praticamente falido e achar um novo investidor a esta altura numa Europa convulsionada pela guerra na Ucrânia beira a uma missão impossível. Analistas econômicos avaliam que o valor de mercado do Hertha gira em torno de 150 milhões de euros e que as quotas acionárias já estariam sobrevalorizadas quando foram adquiridas por Windhorst no biênio 2019 e 2020.

O clube agora jaz em ruínas não só financeira, mas também esportivamente. Desde a chegada do mecenas, o Hertha foi ladeira abaixo. Se em 2020 ainda ficou num honroso décimo lugar na Bundesliga, em 2021 caiu para o 14º posto e em 2022 teve que disputar a repescagem com o Hamburgo para não passar uma temporada na segunda divisão.

Hertha Berlim, fundado em 15 de julho de 1892. Hertha Berlim, com seus escândalos, seus nepotismos, suas vaidades. Esse Hertha tem um significado para muitos berlinenses, seja nas derrotas, seja nas vitórias – lá estavam juntos, chorando ou sorrindo com sua “Velha Senhora”.

Em pouco mais de três anos, o sonho do “Big City Club” movido a muito dinheiro se tornou um pesadelo que deixou o clube à beira da ruína e sua torcida à beira de um ataque de nervos.

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast “Bundesliga no Ar”. A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

https://www.dw.com/pt-br/seduzido-pelo-ouro-do-mecenas-hertha-berlim-est%C3%A1-%C3%A0-beira-da-ru%C3%ADna/a-63402393


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Comentários:
16
  • Alisson Sol disse:

    Como dizia Kafunga: “Quem tem, põe. Quem não tem, tira!”

  • Juca da Floresta disse:

    censura Chico? apenas dei minha opinião sobre a situação do Chile e comparei com o Brasil.

    • Chico Maia disse:

      Uai, censura a o quê?
      Você deve ter errado o destinatário.

      • Juca da Floresta disse:

        Errei não Chico, acertei!

        • Chico Maia disse:

          Chegou nada aqui não Juca.
          Foi chá com torradas demais que você tomou com aquele povo bom do Bar do Luizinho ou errou ao enviar a mensagem para cá.
          Mande de novo então.

          • Juca da Floresta disse:

            Bom dia Chico, Peço desculpas, achei que havia enviado porque apareceu até a informação de que o comentário estava repetido porque foi enviado pela segunda vez. Pensando bem acho melhor não enviar. Eram só observações de uma viagem ao Chile nestes últimos 10 dias. Como o pessoal que não votou na eleição presidencial, 47% de abstenção, está arrependido de não ter votado.

  • Pedro Vítor disse:

    no brasil, a saf, é o calote legal

  • Júlio Soares disse:

    SAF é uma coisa no papel, mas alguns usaram a SAF para dar CALOTES. O Crucru por exemplo não pagou a dívida e não tem patrimônio. A sede é do BH, as duas Tocas é do CABEÇA DE BACALHAU, a carreta e o ônibus são do BH, o plantel é todo do BH. Ronaldo é uma pessoa pública com fácil acesso na Fifa e na CBF, Pidrim é sócio minoritário e o contador do dindim. Quase tudo continua como antes, só que agora o Crucru não tem nada, se SAFOU das dívidas e os credores ficaram a ver navios.

  • Stefan de Souza disse:

    Sobre esse nome modelo de Saf’s ,a única diferença entre sucesso e fracasso é a gestão competente.
    É se algo realmente que muda nas Saf’s é que prejuízo tem Dono como o lucro.

  • Eduardo Silva disse:

    Chico, bom dia,

    O torcedor de um modo geral nunca fica sabendo o que realmente se passa nos bastidores da administração dos clubes. As informações que temos é via imprensa e eu não esqueço da fala do Rubens Menin dizendo que iam recuperar o clube, que o CAM seria um exemplo de gestão, com estádio novo e um grande clube no cenário mundial.

    E depois mudaram de ideia, venderam a outra metade do shopping e estão acelerando a aprovação da SAF, inclusive um dos “mecenas”, o Ricardo Guimarães do BMG, sendo candidato único a presidente do Conselho Deliberativo para poder azeitar o processo e após isso vão colocar a venda o CAM, sendo que falam que já existem compradores interessados.

    Outra informação colocada na mídia é que querem vender em torno de 40 a 60% do clube a um investidor externo. Agora fica a pergunta se o dinheiro que esses mecenas colocaram no clube eles vão pegar percentuais do clube para cada um na nova associação e qual será esse percentual para pagamento do dinheiro que “EMPRESTARAM” sem juros ao clube nesses últimos anos??

    Não vejo como um bom negócio um grupo financeiro vim aqui no país comprar somente 60% de um clube e não ter a gestão do patrimônio e de tudo que o cerca. isso não vai dar certo!

    E os Menin, que não são bobos, não estão colocando mais dinheiro, porque sabem que é um saco sem fundo, o clube não tá gerando rendas com títulos, com bilheteria, com venda de jogadores, então é só despesa, ainda mais com uma folha de pagamento muito alta, é uma conta que NUNCA fecha! E transfeban batendo a porta de Vespasiano….

    Sei não viu? Os tempos estão nebulosos para o lado negro da lagoa.

    A conta tá chegando!

  • Raul Otávio da Silva Pereira disse:

    Clube empresa, SAF, investidores “desinteressados” – nada disso é garantia de sucesso.

    Genericamente estamos falando de empresas – pessoas que colocam dinheiro e querem retorno financeiro, simples assim. Nada a ver com paixão clubística. É óbvio que algumas vão dar certo, outras não, assim como na vida real – algumas empresas de varejo e atacado, bem como fabricantes e industriais, se tornam vitoriosas e lucrativas. Outras simplesmente vão à falência.

    Tudo a ver com o mix de negócios, mercado e principalmente, com a administração e o modelo de governança. Não é o modelo que está errado; são as pessoas que tentam fazer aquilo que não sabem.

    É como se eu, se fosse milionário, abrisse ou comprasse um supermercado. Zero chance de dar certo. Não é minha praia; não entendo nada desse ramo.

    Como se explica um bilionário, como o dono do Botafogo, não estar conseguindo sucesso absoluto ? Tem muito dinheiro, pode até jogar fora se quiser, mas como exatamente ele está gerindo seu novo “brinquedinho” ?

    Isso vale prá todos os times. Do Brasil e do mundo.

  • Nivaldo Alves disse:

    Pior de tudo é quebrar, dar inúmeros calotes e se reerguer sem pagar ninguém.

  • Rômulo Righi disse:

    Excelente reflexão!!!

  • Jesum Luciano da Silva disse:

    Pior de tudo foi eu ficar bravo com o Mauro Cezar, e agora ver que tudo que ele falava tinha um pouco de razão apesar dos exageros, espero que o galo consiga ajeitar,as tá difícil, só notícia ruim ultimamente

  • Mauro Lopes disse:

    Nós atleticanos sabemos muito vem o que é isso com o “competente” e cada vez mais milionário Ricardo Guimarães.

  • Geraldo Celestino disse:

    Pior do que o modelo atual, onde dirigente paga despesas pessoais com dinheiro do clube não pode existir. Teve clube aí que bancou vish de férias pra dirigente e família.