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E lá se foi o Rubens Minelli. No Galo, caiu porque não foi nada habilidoso com as palavras

Minha coluna no BHAZ

Obrigado ao Fred Ribeiro, que nos enviou essa reportagem da revista Placar com o Atlético de Rubens Minelli em 1984: João Leite, Fred, Luizinho, Heleno, Nena (lateral direito) e Jorge Valença; Paulinho Kiss, Marcus Vinícius, Reinaldo, Renato Dramático e Eder.

E lá se foi o Rubens Minelli. Sabia tudo de futebol, mas pouco habilidoso com as palavras

Era o treinador mais cobiçado do Brasil nos anos 1970/1980. Em todas as enquetes a imprensa nacional e torcedores o queriam como técnico da seleção brasileira. Por razões que só os dirigentes da CBF sabiam, nunca foi chamado, e ele carregou essa frustração para o túmulo.

Morreu ontem aos 94 anos de idade. Estudioso, formado em Economia, fez escola no futebol brasileiro com suas táticas defensivas e aposta em “uma bola”. Inspirou a grandes técnicos como o Felipão, por exemplo.

Tri-campeão brasileiro (Internacional 1975/1976 e São Paulo 1977). No Inter tinha grandes jogadores, como Falcão e cia. No São Paulo, operários, jogadores obedientes e fortes fisicamente. Time infinitamente inferior ao do Atlético, de Reinaldo, Cerezo, Paulo Isidoro…, mas que ganhou o Brasileiro mais improvável da história verde e amarela, em pleno Mineirão, nos pênaltis.

Na bola e na catimba, tudo planejado por Minelli, que sabia que seria impossível vencer o jovem e fantástico Galo em casa, só jogando futebol.

E foi!

Em 1984 o então presidente Elias Kalil investiu mais que os concorrentes e conseguiu contratá-lo.

Com o ótimo elenco que o Galo ainda tinha (João Leite, Nelinho, Luizinho, Heleno, Elzo, Everton, Reinaldo, Éder…), a revista Placar dedicou a capa da edição especial que fazia um raio “x” de todos os participantes do campeonato ao Galo. Com a foto do time e a manchete: “Pintou o campeão?”.

Eu era repórter da Rádio Capital e cobria o dia a dia do clube.

Foto: twitter/Atlético

Mas o que ninguém sabia era que Rubens Minelli estava entalado na garganta da maioria dos jogadores desde os seus primeiros dias em Belo Horizonte. Chegou com muita pompa e dono do pedaço. Perguntado nas entrevistas sobre o favoritismo do time naquela temporada, respondia que era preciso calma, pois o time não era “aquilo tudo” que se falava. Chegou a comparar o elenco com um ovo de páscoa: muito bonito por fora, mas sem nada por dentro!

Também tinha fama de que não gostava de jogadores de baixa estatura. Grande parte do time era de “baixinhos”, começando por duas das principais estrelas: Luizinho na zaga e Reinaldo.

Na estreia, 6 a 0 no Bahia. Empolgação geral. “Ninguém vai segurar este Atlético”, era a voz corrente em Minas e no Brasil.

A imprensa exaltando Minelli, a sua comissão técnica e as suas estratégicas “geniais” implantadas nas montanhas de Minas. Ele falava só de suas táticas e dos métodos “modernos” trazidos por ele para a Vila Olímpica. Porém, se esquecia dos jogadores, dos funcionários antigos do clube, todos de olhos e ouvidos atentos.

De repente, não mais que de repente, a bola parou de entrar nas “casinhas” adversárias, só na do Galo. Derrotas e empates inacreditáveis, dentro e fora do Mineirão.

Especulações mil sobre o que estava acontecendo e nenhuma explicação convincente. Pressionado, Elias Kalil se recusava a demitir o maior treinador do país, sonho de consumo de todos os clubes. Era inacreditável o que estava acontecendo com o Atlético.

Até que o próprio Minelli sentiu que não dava mais para continuar. O clima na cidade não era nada bom para ele. Fez um acordo e foi embora, com o Galo mal na tabela de classificação. Uma das maiores frustrações da história do Atlético e da carreira dele.

No lugar, assumiu o Mussula, ex-goleiro e que já tinha sido treinador do próprio Galo. Pessoa simples, discreta, queridíssimo dos jogadores, demais funcionários e imprensa. Como num passe de mágica, o time desandou a vencer, e jogando muito bem. Mas era tarde. Já não dava mais para brigar pelo título. Terminou em 19º lugar, num campeonato que tinha 41 participantes.

Grande treinador, grande figura humana, papo agradável, sempre gentil, Minelli pecou pela falta de habilidade no trato com seus comandados. Em suas entrevistas, raramente reconhecia o papel deles, e que sem eles, nada feito.

Que esteja em um bom lugar e descanse em paz!


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Comentários:
3
  • Raws disse:

    Foi minha primeira experiência e constatação que plantel derruba qualquer técnico quando quiser. Principalmente quando a panelinha já está formada.
    Minelli me fez raiva dando nó em Barbatana em 1977 e mais raiva sendo o foguete molhado posteriormente.
    Mas como ser humano, que esteja em melhor lugar, aliás, o mundo que ele nasceu era 1 milhão de vezes melhor do que no tempo que ele partiu.

  • Ed Diogo disse:

    Tá errado na escalação depois do Luisinho e o Heleno e não Nena . Tô errado ?