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Portões fechados, identificação dos marginais, uso político do futebol e outros interesses

Foto: Átila Kassius – Fluxo Fotografia

Marcelo Mineiro comentou aqui no blog:

“Sobre portões fechados e a interdição temporária da Arena MRV: eu acho um absurdo essa cultura do coletivismo, um grupo de torcedores erra e quem paga o pato é a instituição Clube Atlético Mineiro, os torcedores de bem, do clube, e a torcida adversária.”

Concordo plenamente com o Marcelo. O problema é a conivência de muitos dirigentes, da maioria dos clubes, e a falta de pressão sobre as autoridades do estado para que elas sejam mais rápidas e eficientes para identificar e punir os marginais que atrapalham a vida de todo mundo.

O governo argentino pediu ao Ministério Público de Minas a lista dos torcedores “fichados”, penalizados e proibidos de frequentar estádios no Brasil, para monitorá-los ou impedir o acesso deles à final da Libertadores dia 30 no Monumental de Nuñes.

Simplesmente essa lista não existe, segundo o promotor de Justiça Marcos Paulo de Souza Miranda, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal (Caocrim), do MPMG: “Recebemos uma demanda do governo argentino, que nos solicitou informações sobre pessoas com restrição para frequentar estádios aqui em Minas Gerais. Fizemos um esforço enorme, pois isso não está sistematizado até o momento. Então, precisamos profissionalizar esse sistema e elaborar um cadastro unificado”, disse promotor.

Pois é. Até parece que nunca tivemos confusão entre torcedores em nossos estádios, nas nossas ruas e rodovias. Como controlar e barrar estes violentos se nem cadastrados eles estão?

Santa esculhambação verde e amarela.

Em 2001 o Dr. Herbert José Almeida Carneiro era Juiz-Diretor do Juizado Especial Criminal de Belo Horizonte, e estava orgulhoso com o sucesso da criação do Juizado Especial do Torcedor, que resolvia imediatamente os problemas ocorridos no Mineirão durante os jogos; violência principalmente.

Meu amigo de juventude em Conceição do Mato Dentro, me passou em primeira mão que a ADEMG acabava de terminar a obra da cela que receberia os valentões das torcidas presos pela PM dentro e fora do estádio. Lá mesmo o sujeito era apenado e ficava sabendo que durante o período da pena não poderia comparecer aos jogos do time para o qual torcia. Teria de se apresentar, duas horas antes do início da partida ao Batalhão da Polícia Militar, no Prado, onde teria aulas de cidadania e só seria liberado uma ou duas horas após a partida. A convite do Dr. Herbert, fui conhecer a cela pronta no Mineirão e o constrangimento de alguns “apenados”, tomando aulas no Batalhão da PM, no Prado.

Mas, competente que era, o brilhante e bravo Juiz durou pouco no comando do Juizado, já que fora promovido e mudou de função. Tão brilhante que se tornou um dos mais jovens presidentes do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Infelizmente, quis o destino que um câncer no pâncreas o levasse precocemente no exercício do mandato, aos 58 anos de idade, no dia 6 de abril de 2018.

Que saudade do nosso “Dr. Beto”; quanta falta ele faz a quem teve o privilégio de conhecê-lo e quanta falta ele faz à população mineira, como zelador e duro aplicador das leis que era.

Por volta de 2003, ele em outra missão como Juiz, estava chateado com o relaxamento e não cumprimento das penas por parte dos marginais detidos no Mineirão. Uma ótima reportagem do Guto Rabelo, na Rede Globo para todo o Brasil, mostrava que quem deveria estar cumprido pena no Batalhão da PM nos dias dos jogos, simplesmente não estava aparecendo e nada acontecia com eles.

Assim é o Brasil!

Se o rigor inicial do Juizado tivesse continuado e aprimorado pela tecnologia que avança diariamente, hoje as autoridades argentinas já estariam com a lista completa de todos os violentos que infernizam os nossos estádios, ruas e rodovias, com reconhecimento facial, digital e etecetera e tal!

Ao invés de punir severamente, as autoridades e dirigentes mineiros e brasileiros se acovardam e estabelecem práticas ridículas, como “torcida única” nos estádios.

Até outro dia, quando havia problemas de violência entre torcedores, quem dava entrevistas coletivas eram os delegados da Polícia Civil ou os oficiais da PM. Agora, o vice-governador Mateus Simões assumiu este papel e mais deixa dúvidas do que esclarecimentos. Nessa última, ao anunciar a prisão do sujeito que jogou a bomba que acertou o fotógrafo Nuremberg José Maria no gramado da Arena MRV, disse que o cidadão obteve o ingresso de um integrante de uma torcida organizada.

Opa, e aí? Que torcida? Como essa torcida conseguiu ingressos para vender? O clube sabe como se dá essa comercialização de ingressos? Quanto custou? Quem está por trás disso?

Infelizmente nenhum repórter fez nenhuma dessas perguntas, que ajudariam a montar e desmontar este quebra-cabeças. E o vice-governador também não tocou no assunto.

E vida que segue!

Foto: TJMG

Dr. Herbert Carneiro foi Juiz nas comarcas de Almenara, Caratinga e Belo Horizonte. Na capital, foi coordenador do Juizado Especial Criminal por quase 4 anos e titular da Vara de Execuções Criminais por 7 anos.

Promovido a desembargador do TJMG, também foi presidente da Associação dos Magistrados Mineiros – Amagis – de 2013 a 2015.


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Comentários:
10
  • Horacio disse:

    Acho que os clubes são coniventes com o atual estado de coisas. Como é feita a distribuição de ingressos? Pra quem? ‘Rola’ pagamento? Uma viagem fora do estado sai cara, os clubes ajudam no pagamento?

    O certo é que as organizadas deitam e rolam e ninguém sabe nada sobre elas. Porque será? E aí quem paga o pato é o restante da torcida, a desorganizada, que pouco ou nada pode fazer.

    Acho que a imprensa tem falhado em mostrar os podres dessas organizadas, mostrar a carinha dos que foram pegos em flagrante eu acho que é pouco.

    Quem são atuais ‘presidentes’ e ‘diretoria’ e os que já fizeram parte delas. Não pode mostrar quem são por que? Os vínculos dessas organizadas com organizações e partidos e os próprios clubes seria de muito interesse.

    Porque ninguém procura os ‘presidentes’ dessas organizadas para comentar as agressões em que estão envolvidas? Acho que teriam o que falar.

    Agora o ministério público não ter nem relação dos torcedores envolvidos em confrontos e agressões, para mim, é omissão. Torcida única é preguiça de fazer o próprio trabalho, é empurrar o ônus para os outros.

  • Jesum Luciano da Silva disse:

    Isto que aconteceu com o estádio do galo demorou, só estavam esperando um vacilo, não engolem facilmente de termos construído estádio, o que é doido é a lei que se aplica ao galo de um jeito e aos outros de outro modo, tenho pena do fortaleza ontem teve um pênalti que apitam a favor de todos mas contra o Flu não pode, senão fosse estas mazelas o fortaleza poderia até ganhar o título mas em ponto corrido time do nordeste dificilmente irá ganhar, quanto a revista estádio, isto é balela, outro dia num jogo aí jogaram até uma cabeça de porco no campo, nem na várzea a gente vê isto mais, por hoje se me perguntam se gosto de futebol, eu respondo sem medo de errar, EU GOSTO É DO GALO.

  • Silvio Torres disse:

    Hoje tem o time B do Atlético, com o fabuloso Vargas em campo, contra o São Paulo. É um desses jogos em que o torcedor tem certeza de mais uma derrota. A única dúvida é de quanto será. Eu, com meu eterno otimismo, acenderei velas pedindo a intervenção divina por, pelo menos, um empatezinho pra ajudar na luta contra o rebaixamento.

  • Germano Brás disse:

    Ouvi dizer a “boca miúda”, que Ronaldo Fenômeno e Mick Jagger já estão em Assunção.

  • Eliezer Mattos disse:

    Chico infelizmente ao meu ver o que acontece no estádio e seu entorno, não fazem parte do código penal brasileiro. É raro os casos de punição, lembro de um jogo em Recife 2014 um torcedor arranca e joga um vaso sanitário em cima de outro torcedor adversário levando a óbito. Este ano li uma reportagem que a família do jovem de 26 anos ainda luta por justiça contra o assassino. Minha opinião que justiça e clubes tem de ter normas e ações severas contra estes bandidos forjados de torcedor. Futebol é entretenimento e não praça de guerra.

  • EVANDRO CONDÉ disse:

    E lembrar que tem torcida organizada (com seus marginais de plantão), financiadas pelos clubes.

  • Geraldo Lopes disse:

    O rigor até existe, mas é só contra o Galo. Os torcedores de Santos e Coritiba aprontaram uma praça de guerra no último jogo entre ambos, ninguém nem viu no noticiário. Tem time ai que se cansou de quebrar estádios e é punido com duas cestas básicas. Falar nisso aquela turma de azulinos que pararam um ônibus e agrediram uma torcedora com agasalho do Galo foi canonizada. Tem que punir torcedores violentos seja de qual torcida for, mas infelizmente, a justiça brasileira tem cor e símbolo como já escreveram por aqui.

  • Silvio Torres disse:

    Seria até engraçado se não fosse trágico. Há dois dias, retratos de altos oficiais do exército e das forças especiais mais os de políticos, empresários e até de um padre são estampados em todos os sites e canais de TV por causa de uma trama golpista. Enquanto isso, as fuças dos vagabundos mequetrefes e criminosos da Arena MRV permanecem em segredo de estado, protegidos por uma justiça estadual tão vagabunda quanto eles. O que estará por trás disso? Os únicos punidos até agora são o Clube Atlético Mineiro e toda a sua imensa torcida. Ou a interdição da Arena, com todos os prejuízos financeiros e esportivos do Galo fazem parte da trama? Seria por isso que não ficamos conhecendo a identidade dos paus mandados?

    • Hernando disse:

      Aqui tudo gira em torno da vontade do estado, onde a justiça não põe as mãos numa turma porque está politizada, a imparcialidade é rara! A outra situação é essa, onde bandidos e mais bandidos caminham livremente pelas ruas e com uma ficha criminal extensa! É como se o Estado não quisesse gastar dinheiro com segurança publica! E os pagadores de impostos, aqueles que querem viver dignamente, assistir uma partida de futebol pagando ingresso caro, são os “punidos”! Enquanto isso vamos desviar a atenção do povo com outras coisas que envolvem politica, virou uma nova paixão nacional, e o sistema venceu, tem método!

  • Julio Cesar disse:

    Mas em Itauna um “sei nem quem” tira o cinto e “pune” um morador de rua. Ele acredita que está dando lição.
    Diante desse monte de indiciado, grande parte dessa “gente honrada com sei lá o que acima de sei la o que e nem Deus sabe mais acima de que ele esta” (em se tratando desse povinho de merda que deveria ser varrido da face da terra).
    Junto com os talentos Vinicius e Gustavvvos que um dia o rei do inferno resolveu imputar aos incautos.