Jobson lamentou não ter ido para o Cruzeiro em 2010, arrependeu-se de ter deixado o Atlético em 2011, e quer recomeçar a carreira contra o América, dia 22 na Arena do Jacaré, na estreia do Brasileiro, pelo Bahia.
O Coelho que se cuide porque o atacante parece estar determinado, nessa reportagem da Folha de S. Paulo.
Seu maior problema atualmente é recuperar a credibilidade, já que pouca gente confia no que ele promete.
Que seja feliz e dê a volta por cima, porém, que comece a virada depois do jogo contra o América:
A história de Jobson
Aos 23 anos, atacante busca recomeço no Bahia ainda ameaçado de ser banido por uso de cocaína
NELSON BARROS NETO
ENVIADO ESPECIAL A ÁGUAS DE LINDOIA (SP)
Jobson, 23, diz estar cansado de tanta desconfiança. “Se eu fosse o que dizem, hoje estaria na Cracolândia.”
Daqui a oito dias, vai estrear pelo Bahia como a grande esperança do clube no retorno à elite do Brasileiro. Um mês depois, porém, voltará a ser julgado pelo flagrante com cocaína em exames antidoping em dois jogos no final de 2009.
A Wada (Agência Mundial Antidoping) não aceitou a redução de sua pena de dois anos para seis meses, decidida por tribunal do Brasil.
O caso agora vai para a Suíça, sede da Corte Arbitral do Esporte. Por reincidência, ele pode até ser banido.
Se não se livrar das acusações, terá o contrato rescindido sem ônus para os baianos.
Hiperativo, o jogador nascido em Conceição do Araguaia, no Pará, só tira o sorriso do rosto quando o assunto é esse período do passado, segundo ele, “já apagado”.
Fala abertamente das peraltices da infância, apenas com a mãe, doméstica, que dividiu a criação com um tio policial e outro fazendeiro.
Da parte do pai, diz não saber nem se tem dois ou três irmãos. Até a expulsão de duas escolas da cidade e a participação em esquema de adulteração de idade, ainda na época de amador, são contados pelo atacante. Aos risos.
“Nosso time foi eliminado porque só tinha “gato” [jogador que adultera a idade para menos]. Após isso, toda a documentação foi resolvida”, afirma ele, que se considera um “ex-futuro” evangélico e parou de estudar na 8ª série: “Aprontava demais”.
Mas se fecha sobre o doping. Instrução dos advogados, aliada a ressentimento dos críticos. “Muitos querem que eu me ferre”, acredita.
No único momento mais franco, solta: “Muita gente te dá conselho, lógico que tem que pegar os dos mais velhos, mas o bom é você viver. E eu vivi o que passei. Ali, foi mais uma experiência na minha vida”, afirma o jogador.
“Hoje, eu paro para pensar… tenho 23 anos. Cara, já aconteceu tanta coisa na minha vida que parece que tenho 50! Posso dar conselho aos moleques.”
SENADOR
Jobson promete “arrebentar” no Nacional e sonha defender a seleção na Copa de 2014. E o julgamento?
“Estou tranquilo em relação aos advogados e, primeiramente, confio em Deus. É complicado pensar negativo, então estou confiante.”
Ele imagina já ter pagado pelo erro. “Fiquei afastado, sem jogar, isso me prejudicou muito. Se não tivessem me punido, teria ido para o Cruzeiro [em 2010]. Teria sido outra história a minha vida.”
Com o doping, os mineiros desistiram de contratá-lo. Pena diminuída em um ano e meio, voltou ao Botafogo, que o havia levado do Brasiliense, onde iniciou a carreira aos 17 anos, sem passar por divisões de base no Pará. Chegou ao DF após um primo lhe indicar para um teste.
“Desde lá, já tinha uma personalidade do caramba. Existiam atletas de nome, como Dimba e Iranildo, e comprei briga com todos, disse que era eu quem iria bater os pênaltis”, lembra.
No Botafogo, protagonizou episódios de indisciplina, com atrasos e faltas a treinos, que fizeram até o bonachão técnico Joel Santana perder a paciência com ele.
Pai de um bebê de 18 meses, Jobson ainda atuou no Jeju, da Coreia do Sul, antes de despontar no Rio. “Fui bem. Tenho certeza de que deixei portas abertas.”
Peça-chave na fuga do rebaixamento do Botafogo, em 2009, Jobson festeja ter sido reconhecido “por todo o país” naquele ano. Mas, devido à indisciplina, foi emprestado ao Atlético-MG em janeiro de 2011.
A expectativa foi grande em Minas, mas ele pediu para ir embora, afirmando que não estava feliz. “Darei a volta por cima no Bahia.”
Jogador pede para passar por testes semanais
Com o objetivo de se mostrar “limpo” em relação ao doping, até para ajudar no julgamento do dia 21 de junho, o primeiro pedido de Jobson quando chegou ao Bahia foi para ser submetido a exames a cada semana.
A informação é confirmada pelo vice-presidente médico da equipe, Marcos Lopes. “Partiu dele e de seus procuradores, aprovamos e vamos buscar seguir”, disse à Folha.
“Acho que ninguém ou nenhum clube deveria ter desconfiança comigo. Se algum dia fizer besteira, eu que estou f…, e não o clube”, afirmou o jogador.
No julgamento, ele alegará, como estratégia, o uso social da droga -foi flagrado duas vezes por uso de cocaína.
O atacante disse que os exames serão realizados nos dias solicitados pelo Bahia. “Aí vai ter prova, quando eu for à Suíça, de que estou limpo, não preciso de…”, encerra, sem citar a substância ilegal.
Torcedor do Palmeiras desde criança, ele está treinando ao lado dos ex-corintianos Lulinha e Souza em Águas de Lindoia (SP), local escolhido pelo Bahia para a intertemporada de preparação ao Brasileiro.
“Jobson tem uma alma pura, como a do Garrincha. Entra em campo e não se preocupa com nada. Só joga a bola dele”, declarou o técnico René Simões.
No ano passado, o treinador criticou duramente Neymar, dizendo que se tornaria um monstro se não fosse “educado”.
Agora, elogia o paraense, que admite ter chegado a se arrepender quando deixou o Atlético-MG: “Não sei explicar o que houve”. (NBN)
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