Foto: divulgação Boulevard Shopping
Num programa do nosso Minas Esporte, na Band, meados dos anos 1990, Zezé Perrella, o então poderoso presidente do Cruzeiro, disse que “se o América acabar, não fará falta nenhuma ao futebol mineiro…”. O jornalista Teodomiro Braga (chefe da Sucursal do Jornal do Brasil em Minas, na época) americano, convidado do programa, quase saiu no braço com o presidente cruzeirense, no ar.
O tempo passou, as coisas mudaram. Agora, uma nova realidade bate à porta e a diretoria do Cruzeiro luta para diminuir despesas e sobreviver. Além do estádio Independência, onde já está mandando seus jogos, o Cruzeiro vai mudar sua sede administrativa para o Boulevard Shopping, uma das maiores fontes de renda do América (veja reportagem do Globoesporte.com de 30/04/2012 no fim deste post), e deverá alugar a sua suntuosa sede, que por ironia do destino leva o nome do Zezé Perrella, no tradicional endereço do Barro Preto.
Na prática, a Raposa vai se tornar vizinha do Coelho, já que a sede administrativa do América fica no Boulevard há quase 10 anos. Tive o prazer de conhecê-la, logo depois de inaugurada, a convite do advogado Paulo Lasmar, que era o presidente do Conselho Gestor, e cujo escritório foi um dos responsáveis diretos em resolver a montanha de pendências jurídicas, que para muitos, era intransponível. Sem isso, os investidores do Shopping desistiriam do negócio.
Aliás, essa e as diretorias anteriores do América, merecem reportagens especiais da grande mídia, com detalhes, para mostrar ao Brasil que há gente séria e competente no futebol brasileiro, que não se aproveita do clube para interesses inconfessáveis. O crescimento do Coelho dentro de campo é resultado dessa reestruturação que vem sendo feita há quase 15 anos, por gente como os Salum, Afonso Celso Raso, o saudoso Magnus Lívio de Carvalho, Antônio Baltazar, Olímpio Naves, José Flávio Lanna Drumond, Délcio Tolentino, Promotor Francisco Santiago, Deputado Alencar da Silveira, jornalista Teodomiro Braga, administrador Fernando Trivellato Andrade, o ex-vereador Hugo Thomé e outros, que ajudam e ajudaram anonimamente, sem querer aparecer, apenas pelo amor a um dos mais tradicionais clubes de futebol do Brasil.
O renascimento do América, que chegou a ser rebaixado para a segunda divisão do futebol mineiro, se deve basicamente ao fim da divisão política e à união de todos os grupos que se digladiavam internamente. Em 2005 o Coelho não conseguiu sair da Série C e isso mexeu com a cabeça dos grupos que se engalfinhavam. Foi um convite à razão: era a união ou o fim do clube.
Um fato importante, pouco ou nada falado pela imprensa, era o convívio harmonioso dentro do América entre os dois maiores partidos políticos do Brasil, do início da década dos anos 2000: PSDB e PT. O ex-governador e então Senador Eduardo Azeredo (PSDB) e o Secretário Geral da presidência da República do governo Lula, Luiz Soares Dulci, que até hoje são torcedores de arquibancada do time, e prestaram grandes serviços ao clube.
Outra coisa que a maioria dos mineiros e quase ninguém do Brasil sabe, é a força patrimonial do América, a lembrar:
“…Shopping Center
O Boulevard Shopping tem uma área construída de 156 mil m². O terreno, que era todo do América-MG, foi negociado com empreendedores. Além de ter mantido quase 50% da área construída sob seu domínio, o clube deve receber, nos próximos seis meses, cerca de R$ 300 mil mensais de toda a arrecadação do shopping. De acordo com Olímpio Naves, a negociação ainda rendeu o espaço que vai ser usado para servir de sede administrativa do clube, num prédio anexo ao shopping, e um terreno de 96 mil m² ao lado do CT Lanna Drumond.
– O valor que recebemos atualmente do shopping não é de R$ 300 mil, mas dentro de seis meses poderá chegar até a R$ 500 mil mensais. Já o terreno ao lado do CT triplicou nosso patrimônio no local, que era de 56 mil m²….)
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Em maio de 2005, escrevi uma sequência de colunas nos jornais O Tempo e Super Notícia, sobre a recuperação administrativa/financeira do América:
Antônio Baltazar era presidente do Conselho Deliberativo do América em 2005