Liguei para o Diogo Olivier em Porto Alegre para saber mais sobre Diego Aguirre e o trabalho dele no Internacional. Há 25 anos no Grupo RBS (Jornal Zero Hora, TV e Rádio Gaúcha), Olivier é um dos grandes comentaristas do Rio Grande do Sul, muito bem informado e observador atento. Pelo que conversamos, o começo do treinador no Internacional foi marcado por muitas incompreensões, parecido com o que está acontecendo no Atlético. E mesmo sob fogo cerrado, o uruguaio sempre manteve a linha, educado e profissional em todas as situações, inclusive nos encontros e debates com os críticos mais duros.
Algumas diferenças são fundamentais na comparação com a chegada dele no Inter e no Atlético. Lá, Aguirre foi a quinta opção da diretoria colorada, que queria antes: Tite, Abel Braga, Mano Menezes e Vanderlei Luxemburgo. Quando chegou não pode indicar nenhuma contratação. Teve de recorrer à base para descobrir jogadores que substituíssem àqueles contratados que não estavam dando conta do recado. Por isso mudava demais o time e demorou achar a formação ideal. Encontrou soluções internas, revelando jogadores como Valdívia, Rodrigo Dourado e os laterais Willian e Geferson.
Não abria mão do que a imprensa gaúcha passou a chamar de “rodizio” e que se tornou um carimbo na carreira dele. Gosta de dar oportunidades a todo o grupo, com um número mínimo de partidas para cada jogador. Essas mudanças constantes também visavam preservar a condição física de todos. Era a única crítica que Diogo Olivier fazia a ele, já que, taticamente, considera-o muito bom treinador.
__ Nem os maiores clubes do mundo que têm elencos excelentes, completos, poupam tanto os seus jogadores. Messi jogou 95% dos jogos pelo Barcelona na temporada passada – Lembra Olivier.
Aguirre usou o Gauchão como “laboratório” e este revezamento de jogadores funcionou bem, mas no Brasileiro costumava dar errado e o Inter perdia pontos preciosos por isso, como no jogo contra o Sport Recife, em que entrou com seis não titulares e tomou de 3 a 0.
Por outro lado os jogadores reconhecem o senso de justiça dele e com isso o respeitam ainda mais. Aguirre tem a capacidade de unir o grupo e todos acatam as suas decisões sem criar caso. Antes da chegada dele ao Internacional o ambiente entre os jogadores era complicado. Com ele, o zagueiro Juan não chiou quando foi para a reserva; D’Alessandro não reclamava quando era substituído e os mais jovens corriam dobrado em busca de espaço porque sabiam que seriam reconhecidos pelo comandante.
Um treinador cujos times jogam normalmente no sistema 4–2–3-1, exploram a velocidade e jogadas muito bem ensaiadas que resultam em gols e futebol bonito. Substituições difíceis de entender são outra marca dele, mas o maior problema do uruguaio no Colorado não era este e nem o “rodizio” e sim a preparação física do time, na visão de Olivier. Ele lembra que o preparador permanente do clube, Élio Carravetta, discordava, desde o início dos métodos do também uruguaio Fernando Pignatares, o da confiança do Aguirre, por causa das peculiaridades do calendário e da extensão territorial do Brasil. Mas Aguirre não dava ouvidos aos alertas dele e o time caía de produção no segundo tempo.
Entretanto, Diogo Olivier entende que Aguirre teve mais acertos do que erros no Inter e que a demissão foi um erro. Neste dia ele comentou no portal do Zero Hora que a atitude da diretoria era “um filme repetido, em que os reforços não dão certo e o culpado é sempre o treinador”.
Isso depois um 0 a 0 em casa com a Chapecoense. Depois do jogo a manchete do Globoesporte.com foi ““Com show de goleiros e bola na trave, Inter e Chapecoense ficam no 0 a 0 no Beira-Rio – Colorado pressiona muito, mas tem dificuldade diante da marcação adversária e não consegue balançar as redes; Verdão do Oeste assume postura defensiva, arrisca nos contragolpes e volta a pontuar fora de casa”.
O time ocupava a 11ª posição e a demissão ocorreu 72 horas antes do Grenal, aquele que o Grêmio ganhou de 5 a 0.
Com o preparador físico Fernando Pignatares
Além da conversa com o companheiro Diogo Olivier, li algumas reportagens do Zero Hora e Correio do Povo, dos tempos do Aguirre lá, inclusive a única entrevista que ele concedeu depois de demitido, em dezembro, já contratado pelo Atlético, em que ele manifesta a gratidão ao Inter, pela oportunidade de lhe abrir as portas do futebol brasileiro e do aprendizado que teve para se adaptar ao nosso calendário e as longas viagens para percorrer este “continente” que é o nosso país. Certamente não repetirá os erros que cometeu, principalmente na questão da preparação física. O Fernando Pignatares veio com ele para Belo Horizonte, mas o entrosamento com Carlinhos Neves, um dos melhores preparadores físicos do nosso futebol é o melhor possível e eles conversam muito. Antes de ser contratado, em duas conversas com Daniel Nepomuceno e Eduardo Maluf, Aguirre foi informado do retorno do Carlinhos ao Galo na função de Coordenador Técnico. Este foi um dos principais temas do papo entre eles.
No Inter, Aguirre teve outros problemas que o atrapalharam, tipo: o vice-presidente de futebol Luiz Fernando Costa, principal responsável pela contratação dele em dezembro de 2014, morreu em janeiro de 2015. Em seu lugar entrou Carlos Pellegrini, que não tinha simpatia por dele e não escondia isso em suas conversas com jornalistas.
Diferente da torcida que confiava em seu trabalho. Tanto que o GloboEsporte.com fez enquete sobre a sua contratação e 78,5% dos torcedores aprovaram.
Vale a pena ler a entrevista do Aguirre ao Alexandre Ernst, do Zero Hora, do dia 11 de dezembro “Diego Aguirre rebate críticas: “Meu preparador é um dos melhores que já passaram pelo Inter”” e também do discordante preparador físico Élio Carravetta ao Correio, no dia quatro de dezembro. (mais…)