Senhoras e senhores,
entre tantos artigos e depoimentos sobre a feliz passagem de Ronaldinho pelo Galo e por Minas Gerais, esta do Sidney Junior, jornalista, ex-assessor de imprensa do América de Teófilo Otoni, é especial. Traz a dimensão da importância de um jogador como este na vida das pessoas, especialmente nessas circunstâncias narradas pelo Sidney.
Eu, também nascido no interior do estado me senti bem representado neste texto.
Agradeço ao Sidney e confira, pois vale a pena:
* “O dia em que o R10 esteve aqui”
A despedida de Ronaldinho Gaúcho do Galo despertou no torcedor atleticano um sentimento de agradecimento e a lembrança dos gloriosos momentos vividos ao lado do craque. Os jornalistas e colunistas dos sites e jornais de Minas Gerais também se movimentaram para contar as histórias e o significado da passagem de Ronaldinho pelo Atlético.
E daqui de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, comecei a lembrar fatos e tentar achar uma explicação de o porquê a cidade foi uma das poucas do interior do estado a receber a visita do craque, eleito duas vezes o melhor jogador do mundo.
Só percebi a grandeza da coisa depois que meu sobrinho de 15 anos, apaixonado e daqueles doentes (como ele diz) pelo Cruzeiro, me disse que não viu nenhum jogo da Copa no estádio, mas não importava, pois tinha visto o Ronaldinho ao vivo, no Estádio do América de Teófilo Otoni.
Voltando ao ano de 2013, lembro bem daquela quarta-feira, 20 de março. O Atlético estava em meio à disputa da Copa Libertadores, mas tinha aquele jogo de meio de semana aqui no “acanhado” estádio Nassri Mattar, contra o América. O técnico Cuca já avisara semanas antes que pouparia seus craques de alguns jogos do Campeonato Mineiro para usá-los no melhor de suas condições físicas na Libertadores. Nada mais justo.
A delegação do Atlético veio de avião até Governador Valadares, e de lá até Teófilo Otoni, cerca de 140 quilômetros, no famoso vôo rasteiro, de busão mesmo. Quando surgiu a notícia de que o Ronaldinho estava na delegação foi um alvoroço geral por aqui. Os atleticanos, principalmente, ficaram em estado de êxtase. E não sei porque cargas d’água, quando a delegação do Atlético chegou no hotel, lá estava o R10 com sua simpatia, e um pouco de timidez misturada com aquela marra que só jogador de futebol tem.
Seriam aquelas coisas do destino? Ou uma intervenção divina? Não sei dizer, acho que nem o Cuca ou o próprio Ronaldinho sabem porque ele participou daquele jogo. Ele que no dia seguinte completaria 33 anos, e certamente tinha uma boa festa preparada junto com seus amigos e familiares.
E o Ronaldinho foi pro jogo. Não se preocupou com as condições precárias do estádio do América, não reclamou da chegada complicada no entorno do estádio, não questionou o gramado, que não era dos melhores, e o que se viu em campo foi um Ronaldinho se divertindo. Na entrada em campo, o pequeno Olavo de apenas 5 anos foi o privilegiado ao entrar de mãos dadas com o craque. Ronaldo não titubeou. Bateu bola com o pequeno, que não tinha a menor idéia do que significava aquela cena.

Já a imagem do R10 no intervalo sentado do lado de fora do vestiário com um varal ao fundo foi das coisas mais hilárias e contrastantes ao nome de Ronaldinho Gaúcho e do glamour que tem o futebol atual.
O R10 não se importou com nada extra campo. Ao marcar um dos gols do Atlético, fez aquela comemoração marcante com o Jô, lembrando dois galos de briga. E ainda cobrou o escanteio que gerou o outro gol, do Réver.

Na saída de campo, todo sorridente, deu aquela famosa entrevista ao repórter da TV que transmitia a partida, dizendo que o gol foi pra umas amigas do coração.
Vendo o Ronaldinho ignorando tudo aquilo que o futebol moderno chama de “mínimas condições de trabalho”, me lembrei do Alexandre Kalil e do Vanderley Luxemburgo desancando o precário Nassri Mattar, por causa daquele fatídico jogo da chuva em 2010. Kalil e Luxa exageraram só um pouquinho, mas tinham razão em reclamar. Só lembrei desse fato pra mostrar como um cara que já jogou nos melhores estádios do mundo, ao lado dos maiores craques, nas mais lindas cidades, sabe medir cada ambiente e cada condição proposta para um jogo de futebol. É por isso que R10 está naquele grupo de jogadores que transcendem clubes e seleções, como Pelé, Zico, Ronaldo Fenômeno, Romário, Messi e tantos outros.
Nesses dois anos e um mês de Atlético não sei em quantas cidades do interior Ronaldinho jogou, se é que jogou, mas aqui em Teófilo Otoni está registrado, marcado para cada torcedor que foi ao estádio naquela noite de quarta-feira. Antes do Ronaldinho, o único registro que se tinha era de um jogo festivo em que Mané Garrincha, já aposentado, teria participado nos anos 70.
Que eu saiba nenhum torcedor do América saiu reclamando daquela derrota. Ronaldinho Gaúcho é um tipo de símbolo, capaz de reunir até adversários para aplaudi-lo, como eu vi pela TV a torcida do Real Madrid fazendo no Santiago Bernabeu, e vi ao vivo americanos e cruzeirenses de Teófilo Otoni, no Nassri Mattar.
O torcedor do Galo acostumado a freqüentar o Independência e o Mineirão pode dizer que teve o privilégio de ver um dos maiores craques da história do futebol brasileiro, e juntem-se a eles a torcida de Teófilo Otoni, que teve numa única noite essa mesma alegria, mas que já está guardada na história e na memória de cada um.

Em foto do blog Galo de Prata 13, o ônibus do Atlético recebendo o time no aeroporto de Governador Valadares de onde seguiria para Teófilo Otoni.
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* Obrigado ao Frederico Ribeiro que nos enviou a foto do Ronaldinho no vestiário sob o varal.