Raramente assisto amistosos da seleção brasileira. A maioria é para cumprir contratos com patrocinadores e colocar na vitrine mundial jogadores de interesse de incontáveis empresários e dirigentes inescrupulosos de clubes que ganham muito dinheiro por fora, com transações escusas, às escuras.
Só assisto quando valem alguma coisa, apesar de não haver pontos em disputa, caso dessa partida em Johanesburgo contra a África do Sul.
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Agora, todo amistoso, de qualquer uma das 32 seleções classificadas para a Copa é importante, pois está chegando a hora de conferir quem é quem, individual e coletivamente.
Luiz Felipe Scolari faz suas últimas observações para fechar o grupo que, salvo alguma contusão de última hora, disputará o Mundial.
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Hoje, as atenções estavam voltadas principalmente para o lateral Rafinha (Bayern) e o volante Fernandinho (Manchester City). Importante descobrir uma alternativa ao Daniel Alves, que já não tem o mesmo fôlego de antes. No meio, apesar de tantos bons nomes, Fernandinho vem se destacando no futebol inglês e o gol que marcou neste amistoso, o quarto do Brasil, mostrou que largou um defeito que a maioria dos jogadores que atuam aqui carregam: não arriscar chutes de longa distância.
Fernandinho em ação pelo MC
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Um chute de longe, por mais despretensioso que seja pode pegar o goleiro em um momento ruim, a bola pode resvalar em alguém, ou de tanto chutar, o jogador vai se aperfeiçoando e as bolas ficam indefensáveis.
E nenhum especialista em chutes de longa distância nasceu ou nasce com essa virtude. O sucesso neste fundamento depende de muito treino e muita repetição, como dizia Telê Santana.
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Como repórter tive o privilégio de cobrir treinos e jogos de dois dos maiores chutadores do futebol mundial: Nelinho e Éder. Nelinho foi também o jogador de respostas mais claras e objetivas a todo tipo de pergunta da imprensa que conheci.
Numa coletiva pediram a ele que falasse da “sorte” que ele tinha para marcar tantos gols de falta e ele repetiu a frase do Michael Jordan: “quando mais eu treino, mais a sorte me aparece”.
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Entendo que Felipão está montando uma seleção forte candidata ao título da Copa, escolhendo os jogadores certos, que além de bons, se encaixam no estilo de trabalho dele. Só questiono numa posição: o gol. Júlio César está em decadência há pelo menos quatro anos e será titular. Enquanto um Fábio, reconhecido pelo país inteiro, já foi descartado previamente pelo treinador sem ao menos ter sido chamado por ele.
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Nessa eterna discussão das virtudes e defeitos dos estilos europeu e sul-americano de se jogar futebol, Fernandinho mostrou que jogar na Inglaterra está fazendo muito bem a ele. Lá, principalmente, chutar de longe é uma característica, e centenas de gols surgem dessa forma.
Uma situação óbvia, mas rejeitada por treinadores e jogadores em nosso país.
Nelinho na Copa da Argentina em 1978 contra a Itália