Primeira coluna do ano nesta quinta-feira, dia 2, no mesmo dia do aniversário da minha mãe, D. Terezinha, e do Cruzeiro. Mas uma coincidência maior marca a história cruzeirense neste momento de felicidade ainda pelo título brasileiro, conquistado depois de uma campanha surpreendente e números inquestionáveis: o mesmo estilo pés no chão do atual presidente Gilvan de Pinho Tavares marcava Felício Brandi, o grande articulador da primeira arrancada do clube para a conquista do espaço entre os maiores do Brasil e do Mundo.
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Passado e presente
Recentemente li numa revista esportiva de agosto de 1964, que me foi emprestada pelo advogado trabalhista Horácio Amador, ótima entrevista de Airton Moreira, irmão de Zezé e Aimoré Moreira, dois dos maiores treinadores da história do nosso futebol.
A revista é carioca, tem dois jogadores dói Flamengo na capa, mas abria espaço para o futebol de todos os estados e Minas Gerais estava na moda porque breve entregaria ao país o “segundo maior estádio coberto do mundo, o Mineirão, que só é menor que o Maracanã”.
Airton Moreira era supervisor de futebol do Cruzeiro mas tinha sido nomeado treinador pelo presidente Felício, porque conhecia bem as “categorias inferiores” do clube e era um profundo estudioso do futebol.
Em fotos do Superesportes, Ayrton Moreira, esquerda, e os irmãos Zezé (centro) e Aymoré
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É incrível mas a entrevista se encaixa totalmente no contexto atual e mostra que a fórmula é antiga, mas a melhor de todas para quem não possui fortunas para montar grandes times. Airton falava de jovens de grande potencial que ele viu e mandou subir do juvenil do Cruzeiro, outros que já tinha visto em clubes menores, no interior do estado e do país, e indicado para contratações.
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Profecias confirmadas
Nessa entrevista, Airton Moreira também elogiou uma aquisição feita através de “grande habilidade do Senhor Felício, junto ao América”.
E pediu que o repórter anotasse e guardasse bem alguns nomes: Dirceu Lopes, Natal, Hilton Oliveira, Wilson Piazza e a “jovem promessa” oriunda do América: Tostão.
A continuidade da história o mundo conhece. Um ano depois o Cruzeiro iniciava um período de amplo domínio do futebol mineiro.
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País e mundo
Depois de mais um ano o Cruzeiro chamou a atenção do mundo ao detonar o poderoso e “invencível” Santos, de Pelé, e conquistou a Taça Brasil. A partir dali passou a ser respeitado e temido e não saiu mais da lista dos nossos maiores clubes.
Cresceu tanto, dentro e fora de campo, que quem, como eu, está na faixa dos 50 anos de idade, custa a acreditar que o Cruzeiro já foi a terceira força do futebol mineiro.
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História que se repete
Assim como o Dr. Gilvan em fins de 2012, Felício Brandi foi duramente contestado em 1964 quando resolveu apostar em um treinador que “não existia”, Airton Moreira, tão questionado quanto Marcelo Oliveira, por torcedores e boa parte da imprensa.
O Brasil valoriza muito pouco a própria história e o nosso futebol menos ainda.
Faço estes registros, nesta data tão importante, para homenagear a dirigentes, treinadores, jogadores e torcedores, do passado e do presente.
A grandeza de uma instituição é construída a muitas mãos e ao longo de muito tempo.