Reportagem postada hoje pelo portal Terra.
O número 25 da foto é o lendário goleiro uruguaio Mazurkiewsky, que teve sua passagem pelo Galo marcada por contusões.
* “”Patinho feio”, Atlético-MG de Telê faz história; relembre título de 71″
Claudio Rezende
Direto de Belo Horizonte
Há 40 anos o torcedor do Atlético-MG comemorava o que para muitos é o principal título da história do clube. O Campeonato Brasileiro de 1971, conquistado com vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo, no Maracanã, no dia 19 de dezembro daquele ano, foi por muito tempo o grande trunfo na rivalidade mineira, uma vez que o arquirrival Cruzeiro só conseguiu a primeira conquista no torneio nacional em 2003 e a Taça Brasil de 1966 só foi reconhecida na unificação promovida pela CBF no final de 2010.
Neste intervalo de tempo, o atleticano se valia de ignorar as Copas do Brasil e Libertadores do adversário para valorizar exaustivamente o caneco da década de 70, até porque depois vieram títulos de menor importância como a Copa Centenário de Belo Horizonte, em 1997, campeonatos estaduais (17 vezes) e a extinta Copa Conmebol, hoje equivalente à Copa Sul-Americana. Nesta competição continental foram duas conquistas, em 1992 e 1997.
Em âmbito nacional, o torcedor teve de se contentar nestes 40 anos com uma conquista do Torneio Campeão dos Campeões do Brasil, em 1978, além de três vice-campeonatos brasileiros, em 1977 (invicto), 1980 e 1999.
São muitos os testemunhos de atleticanos sobre a conquista de 1971. O comerciante do ramo têxtil Alexandre Bedran, 58 anos, estava no Maracanã naquela conquista histórica e afirma que tudo correu no clima de amizade.
“Fomos ao campo acompanhados de botafoguenses que torceram pelo Atlético, porque se perdêssemos o São Paulo é que seria campeão. Então foi tudo no clima de paz e depois do jogo nós até tomamos cerveja com os botafoguenses. Foi um momento sensacional”.
O Brasileiro de 71 foi decidido em um triangular, e bastava um empate aos alvinegros no Maracanã para ficar com o título. Nas primeiras rodadas, o São Paulo goleou o Botafogo (4 a 1), mas perdeu para os mineiros (1 a 0).
A grande dúvida que fica no ar é como o Atlético sustenta o torcedor mesmo sem ter ganhado títulos de expressão nestes últimos 40 anos. Alexandre Bedran, como atleticano fiel, afirma que o sentimento de torcer pelo clube é único.
“Isso aí tá no sangue, não tem explicação. A pessoa já nasce atleticana e não se entrega”, disse. Quando o assunto é o jejum de títulos importantes, são várias as justificativas. “Nós tivemos um grande time na década de 80, mas não ganhamos nada por causa da arbitragem. Ninguém consegue entender isso até hoje. Nós somos bicampeões da Conmebol também. E nós já fomos campeões do mundo também, em 1950. Se o Corinthians tem um título jogando duas vezes, nós jogamos nove vezes contra vários times da Europa e fomos chamados os campeões do gelo”.
O torcedor atleticano aguenta chacota de toda maneira, mas não deixa de amar o time, mesmo com a carência de títulos. Neste intervalo de 40 anos, o clube frequentou até mesmo a Série B do Campeonato Brasileiro e a média de público do Atlético nos estádios ainda é uma das maiores do país. O site oficial do clube destaca algumas marcas alcançadas pela apaixonada torcida:
-Campeão de público em dez das 39 edições do Campeonato Brasileiro (1971, 1977, 1990, 1991, 1994, 1995, 1996, 1997, 1999, 2001).
-Segunda maior média de público pagante em todas as edições do Campeonato Brasileiro, com 24,6 mil torcedores por partida, até 2007 – segundo estudo realizado em 2007 pela empresa de Gestão Esportiva Golden Goal.
-É do Atlético o maior público pagante da história do Mineirão (13/02/80 – Atlético x Flamengo – 115.142 pagantes), sem contar os clássicos regionais.
-O clube detém a segunda maior média de público em uma única edição do Campeonato Brasileiro. (55.664 pagantes por jogo, no Campeonato Brasileiro de 1977).
Ao mestre com carinho
Naquela conquista de 1971, foram muitos heróis na equipe que tinha como time base Renato; Humberto, Grapete, Vantuir e Oldair; Vanderlei, Humberto Ramos, Ronaldo e Lola; Dario e Tião. O técnico era Telê Santana, que, para Humberto Ramos, autor da assistência que originou o gol do título no Maracanã, marcado por Dario aos 18min do segundo tempo, foi o grande responsável pelo sucesso da equipe.
“A presença do Telê foi fundamental pelo fato de ele escolher, montar a equipe e principalmente a maneira de ele trabalhar, sendo um treinador que gostava do time jogar bola. Do mesmo jeito que jogava com o Cruzeiro, jogava com o Santos, com o Santa Cruz”, disse.
O Atlético de 1971 conseguiu mesclar juventude com experiência, e este ponto também é destacado pelo camisa 8 daquela conquista. Humberto Ramos ressalta que o respeito dos jovens pelos mais experientes e a importância dos mais velhos em campo foram comportamentos muito importantes.
“Na década de 70 até a educação era diferente. Existia mais consideração, respeito à hierarquia. Aquele grupo tinha jogadores mais jovens como eu, Romeu, Vantuir e outros jogadores mais experientes, como Grapete, Oldair e Vanderlei. Até mesmo no ônibus (da delegação) os mais jovens esperavam os experientes se assentarem para depois ocuparmos nossos lugares”.
Para Humberto Ramos, o ingrediente fundamental para esta fusão entre juventude e experiência foi Telê, que soube utilizar as forças que cada um tinha individualmente para transformar o time que não era favorito à conquista em campeão brasileiro.
Um detalhe importante da conquista é que foi no período em que o futebol brasileiro respirava os melhores momentos em âmbito internacional com a conquista da Copa do Mundo de 1970. Por isso, todos esperavam que o título ficasse nas mãos daqueles que foram convocados para a disputa no México.
É verdade que o artilheiro Dario, do Atlético-MG foi convocado, mas não entrou em campo durante a Copa. Humberto Ramos acredita que “correr por fora” levou mais motivação ao time alvinegro. “Foi um título para mim tão importante porque o Atlético era o ‘patinho feio’ da história. Tinha o Palmeiras, Cruzeiro, Santos. O Atlético tinha o Dadá, que também foi campeão (mundial), mas nem jogou. Eu dou valor à competição nesse sentido, porque na hora em que tivemos que decidir no Maracanã, nós vencemos. Depois daquele campeonato, nenhum outro teve a presença dos tricampeões mundiais”.
Se Telê Santana, que comandou o time atleticano, não pode dar o depoimento neste aniversário do título nacional (morreu em 2006), ele deixou um herdeiro que viveu o momento intensamente como torcedor e amante do esporte. O filho de Telê, Renê Santana, estava com 15 anos no momento da conquista e lembra o que sentiu como torcedor e filho do técnico que começava ali a carreira vitoriosa no futebol brasileiro.
“Apesar de ter envolvimento direto com o time e meu pai, que era o treinador, eu estava ali mais como torcedor. Especialmente no Maracanã eu estava na arquibancada e pude sentir todo o jogo. Um jogo em que a torcida carioca adotou o Atlético. Todos os clubes torceram pro Atlético. É indescritível a emoção que tive com meus amigos”.
Descendo da arquibancada para o banco de reservas, Renê lembra com muito carinho e admiração os métodos de trabalho do pai, que para ele começou a carreira de técnico antes mesmo de pendurar as chuteiras.
“O Telê era um treinador dentro de campo, mesmo antes de parar de jogar futebol. Ele já liderava, cantava o jogo para os companheiros, tomava decisões em conjunto com os companheiros e já dizia que queria ser treinador ainda quando jogava”.
E Renê Santana faz uma das afirmativas que o torcedor atleticano mais gosta sobre o maior técnico do clube e o maior título da história. “Naquele ano de 1971, o Telê tinha 40 anos de idade e estava com certa bagagem, mas o grande título da vida dele foi esse, de campeão brasileiro com Atlético”.
Depois daquele título, Telê Santana partiria para uma carreira vitoriosa, formando equipes consagradas, como o São Paulo, campeão mundial em 1992 e 1993, além, é claro, da Seleção Brasileira de 1982, que mesmo sem conquistar títulos encantou o mundo com o futebol-arte.
Mas como Telê tinha essa afinidade em montar times encantadores? Renê Santana, fã incondicional do trabalho do pai, afirma que isso é algo que nasceu como próprio técnico.
“Eu diria que ele tem uma grande visão. Ele bate o olho no jogador e só com um toque na bola e a passada dele em campo faz a avaliação. É aquele jogador que eu quero e vou levar pro meu time. É um jogador que nem todos conhecem, mas que depois faz sucesso como mostra a história. Eu acho que a soma de tudo, o ‘feeling’ a tática fizeram do Telê um grande técnico”.
SIGA O CHICO MAIA NO TWITTER E NO FACEBOOK:
http://www.twitter.com/chicomaiablog
www.facebook.com/pages/Chico-Maia/158667527560111
Telê Santana nasceu em Itabirito, no dia 26 de julho de 1931, e morreu em Belo Horizonte, aos 74 anos, no dia 21 de abril de 2006.
* http://esportes.terra.com.br/futebol/noticias/0,,OI5524385-EI1832,00-Patinho+feio+AtleticoMG+de+Tele+faz+historia+relembre+titulo+de.html