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Drible do Leandro Damião é belíssimo, porém não é original

Não há dúvida que Leandro Damião é um novo fenômeno. Nem tanto pelo seu futebol e pelos seus gols, mas pela sua história de vida e pelo fato de fazer sucesso no profissionalismo, começando a carreira praticamente aos 18 anos.

A condição física exigida de um atleta torna isso cada vez mais difícil, já que o ritmo implementado à meninada, a partir dos 12 anos, é para que chegue aos 18, muito mais preparado que alguém que começou mais tarde.

Sobre o drible que ele deu contra a Argentina, que tem sido comentado até hoje na mídia mundial, nenhuma originalidade.

Já vi antes e tenho certeza que a maioria dos leitores.

Sobre isso, o leitor Cleber Corsino e o consagrado Tostão, também escreveram.

O Corsino em e-mail enviado a mim, e o Tostão, ontem, em sua coluna no jornal O Tempo.

Primeiro o Corsino, depois o Tostão, e em seguida uma boa entrevista do Damião, mostrando toda a sua simplicidade, à Folha de S. Paulo de ontem:

“Olá Chico,

a imprensa em geral, está dando muita ênfase à jogada do Leandro Damião contra a seleção argentina. Esta jogada é antiga. Quando eu jogava na várzea na Associação Recreativa Sírio Libanês, fizemos uma partida contra o Real Madrid, do Bairro do Prado, no campo do 12RI.

Naquele dia, um jogador chamado Bougleux, isso mesmo, aquele que fez o primeiro gol no Mineirão, executou a jogada perto da bandeirinha de escanteio em cima de nosso lateral direito (o Bougleux era canhoto), fez o cruzamento que redundou em  gol, quando fomos derrotados por 1 x 0.

Posteriormente, quando eu jogava no Sete de Setembro, do saudoso Raimundo Sampaio, jogamos contra o Atlético, no Estádio Antônio Carlos, onde hoje é o Diamond Mall, e perdemos de 10 x 0. Naquele dia, o Toninho (lembra-se dele?) fez a mesma jogada duas vezes, além de ter feito três gols.

talvez por causa disso é que até hoje, tenho uma Lambretta italiana modelo ld 150 do ano de 1957, para não me esquecer das jogadas.

É mais antiga do que imaginam os narradores de hoje…

Com um abraço,

Coronel Corsino.”

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Escreveu Tostão, ontem:

“O drible dado por Leandro Damião, esperança para a Copa, contra a Argentina, foi espetacular, mas não foi original. É um drible frequente no futsal e na várzea, de onde veio o jogador.
Fora o drible, Leandro Damião teve atuação discreta, porque a bola não chegava à frente e ele não se movimentava para recebê-la. Mesmo assim, foi bastante festejado, como se o drible fosse novidade e tivesse resultado em gol.
É o futebol dos melhores momentos, a espetacularização da imagem…”

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* ENTREVISTA LEANDRO DAMIÃO

“Várzea é do mesmo jeito que futebol profissional”

DOS RATOS, MORCEGOS E MARMITA, PASSANDO PELA VÁRZEA, NOVO CAMISA 9 DA SELEÇÃO DEIXA A VIDA DE ‘GROSSO’ E DESAFIA A LÓGICA COMO CRAQUE IMPROVÁVEL

RODRIGO BUENO
DE SÃO PAULO

Da várzea e da pobreza para a camisa 9 da seleção e uma vida de sonhos foi um pulo. O Brasil e o mundo tentam ainda entender o fenômeno Leandro Damião, 22.
O atacante do Inter fez 40 gols no ano e virou astro não planejado do futebol. O paranaense de Jardim Alegre falou à Folha por telefone sobre sua carreira, recheada de dramas até pouco tempo e de lances de efeito neste ano.

Folha – Como é trocar a várzea pela seleção e a pobreza por vida de sonho em só 4 anos?
Damião – Bem tranquilo. Não sou de comprar aquela casa gigante, aquele carro legal. Graças a Deus posso comprar casa para meu pai.

Você fala muito em Deus e celebra gols apontando para o alto. Qual a importância da religião para você? Sou batizado na Católica [Igreja], nada contra as outras religiões. Tem sempre que agradecer a Deus. Aconteceram coisas na vida da gente que não acontecem sempre. Ele te dá oportunidades, e você tem que agarrar. Não sou de ir à igreja, mas estou sempre agradecendo.

Você é bem família, casou cedo no papel com a segunda namorada [Nádia], não gosta de baladas, cerveja…
A família foi importante na carreira e foi importante até eu ter começado a namorar cedo [namorou por cinco anos a mulher]. Difícil me ver tomando cerveja, prefiro tubaína, refrigerante, coisa leve, sou tranquilo mesmo.

E o casamento na igreja?
Ainda não tem data, o jeito é casar depois da temporada.

Como era na várzea?
Atuei no Família Tupi City e no Estrela da Saúde [em São Paulo]. É um jogo normal o da várzea. Final de campeonato lotado, precisava ganhar e ganhamos, fiz gol. A várzea é do mesmo jeito que o futebol profissional. Tem grama sintética [no Jardim Ângela], a prefeitura colocou.

Você começou a jogar em uma escolinha do governo, não? Achava que seria profissional?
Comecei assim [no Parque Ecológico, em São Paulo]. Gostar de jogar, gostava desde pequeno, mas só virei profissional em Santa Catarina [no Atlético de Ibirama, em 2007].

É verdade que quis desistir da carreira já em Santa Catarina?
Tinha hora que não dava. O jeito que morávamos lá. Eram R$ 100 por mês, não era uma coisa certa. Cheguei lá e era amador. Era complicado, morava em casarão e tinha rato, morcego… Era marmita, não comida normal, era difícil. Graças a Deus, a família e a esposa me ajudaram.

Como rodou pela várzea em São Paulo e não atraiu nenhum grande time paulista?
Fiz peneira em todos os grandes de São Paulo, só no Santos que não fiz. Não passei. Peneira tem muito jogador, é muito difícil. Aí tinha um colega que ia fazer teste em Santa Catarina. Ele não quis ir e me indicou. Fui.

Como foi a decisão de apostar na carreira e deixar a escola?
Até um tempo era bom na escola, depois comecei a jogar bola e tive que largar, pensar na bola. Era a decisão. Meu pai é uma pessoa humilde [era faxineiro] e sempre deu tudo o que eu precisava.

Seu pai [Natalino] foi o maior incentivador de sua carreira. Fará mais comemorações homenageando o bigode dele?
É um orgulho o pai que eu tenho. Todos queriam ter um pai assim. Sempre que puder vou oferecer um gol para ele.

Você era visto como um atacante de pouca técnica, mas está distribuindo carretilha, calcanhar, bicicleta…
Eu sempre quero melhorar. No começo, era muito difícil, duro. Não tive base. No Inter, as coisas começaram a melhorar. Tenho evoluído. O Ortiz [ex-jogador de futsal que toca o Programa Aprimorar] ajudou muito, é diferenciado o trabalho dele. Tem muito jogador que vai sair pelo trabalho que ele faz. Agora, sou praticamente ambidestro.

Você joga agora com Ronaldinho e Neymar. Já caiu a ficha?
Desde que cheguei ao Inter já foi difícil pelo grupo que tem. Na seleção não tem que ser diferente. É humildade do mesmo jeito. Em cada jogo, dou o máximo no Inter. Na seleção não será diferente.

Dizem que centroavante é algo raro no Brasil. Concorda?
Não, o Brasil tem grandes centroavantes, o Borges, o Luis Fabiano, quando se recuperar, o próprio Adriano, o Ricardo Oliveira, que está fora. O Brasil está bem de atacante. Quero estar no meio.

Já teve proposta de R$ 27 milhões por você. Tem preferência por clube na Europa?
Não, vivo o momento. O pensamento é Inter e seleção. Não dá para pensar em que time eu me encaixaria depois.

Sua multa contratual é de 1 50 milhões. Você vale isso hoje?
Não tenho como falar de valores, deixa para a diretoria. Meu papel é jogar.

DAMIAOO atacante do Inter

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Comentários:
3
  • Clayton Batista Coelho ( "Claytinho - Só Boleiro do Nova Vista/BH" disse:

    Claro, o drible não é novidade. Aliás, no futebol profissional de hoje em dia, é raro ver um lance como aquele. Sabem por que ?? Porque os atletas formados desde as categorias de base são reprimidos quanto a isto. Pra se passar numa “peneireda” por exemplo, ai do menino que cismar de fazer algo semelhante. O negócio, é “dominar e tocar”. Sem falar que ainda existem aqueles que acham que isso é desrespeitar o adversário…

    Já o Leandro Damião, pelo que dizem, não teve categoria de base. Até pouco mais de 02 anos, ele jogava no “terrão”. Ou seja, não foi “estragado” por nenhum treinador da base que só ficaria gritando no ouvido dele: “Menino, vc tem que receber a bola, dominar e tocar logo”… Então, palmas pra ele que não tem medo de errar e ousa !

    Se o cara tem recurso e faz o drible com a objetividade do ataque que pode resultar num lance de perigo, por que não fazê-lo ??

    E no futebol amador a coisa tá pior… Se o cara fizer algo assim, já ouve logo de fora da torcida adversária: “É esse !!! É esse !!!” Num incentivo claro pra algum jogador dê logo um “chega-pra-lá” nele.

    Na minha pelada de domingo ( Só Boleiro ), de vez em quando eu cismo e dou um drible daquele, do qual conheço e chamo como com “Lamplei”. Mas eu sei em cima de qual jogador eu posso tentar a jogada… Porque tem uns lá que só de perceber que eu vou tentar este drible, me “prantam o pé” ! rsrs E olha que são amigos de pelada de anos e anos hein…

    Então, o futebnol está cada dia mais feio e cada dia perdendo o interesse, entre outras coisas, por isso também. Os jogadores de hoje são robotizados. Por isso que qualquer cabeça-de-bagre de hoje que tem e sabe usar um pouquinho a mais do seu recurso técnico, é vendido rapidamente por rios de dinheiro.

  • Gilmar disse:

    Só vou acreditar que o Leandro Damião é um grande jogador quando ele fizer umas 2 ou 3 temporadas acima da média.Isso que ele apresenta agora pode ser só uma boa fase.É melhor aguardar.

  • Alisson Sol disse:

    O principal foi que o Leandro Damião deu o drible, numa época em que a maioria dos jogadores “profissionais” mal consegue dar um passe reto de 3 metros de distância. E, como escrevi antes (link): “…, o Inter contratou Leandro Damião aos 20 anos, por praticamente o preço do dedão do pé do jogador maldito!” (aquele que hoje causa problemas no Palmeiras). Mais uma vez, o time que se arrisca e investe no futuro, ao invés de “investir nos empresários”, colhe os frutos, e isto é bom para o futebol.

    Quantos jogadores como Leandro Damião não devem existir por aí? Cadê os “olheiros” em campeonatos de várzea? Enquanto for permitido fazer com que jogadores tenham de cumprir contratos feitos enquanto eram menores entre seus pais e “empresários”, fica difícil sair deste ciclo de “clubes vitrine” para jogadores no início ou no ocaso de suas carreiras.