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Tapete vermelho para quem devasta o nosso estado

Esta semana, no dia mundial da água, o maior devastador das águas e da natureza de Minas Gerais, esteve em Belo Horizonte. Veio anunciar umas migalhas para o Centro Cultural da Praça da Liberdade e foi recebido com pompas por muita gente que finge não saber que ele está liquidando com a Serra do Espinhaço, sugará a água dos rios e nascentes, com a idéia absurda do tal mineroduto, que vai bombear minério, da região de Conceição do Mato Dentro/Alvorada de Minas, até o porto de Açu, em São João da Barra, no Rio de Janeiro.

Domingo passado o “Estado de Minas” publicou uma reportagem interessante sobre ele, no caderno de economia, que mostra como o sujeito é esperto:EIKE“Eike Batista acumula bilhões sem gerar caixa real nem emprego”

Heberth Xavier – Estado de Minas

Zulmira Furbino – Estado de Minas

Eike Batista está na moda. Folgadamente, é o brasileiro mais rico e um dos 10 mais endinheirados do planeta. Mas, aos poucos, o próprio mercado financeiro começa a agir com ceticismo diante de um jeito de amealhar fortuna com negócios e projetos não construídos, sem geração de caixa real nem tantos empregos, muito menos com divisas para a nação na proporção de outros magnatas.

Como definir Eike? Empresário? Investidor? Especulador? Financista? Empreendedor? “Empresário, no sentido tradicional que conhecemos, não é”, diz um analista do setor de mineração que trabalha numa empresa de consultoria paulista. Basta comparar as atividades de suas empresas com as outras corporações estrangeiras e brasileiras cujos comandantes também aparecem no ranking.

Sua holding, a EBX, congrega a MMX (de mineração), a LLX (logística), MPX (energia) e OGX (petróleo), entre outras, acumulando patrimônio estimado em US$ 27 bilhões, segundo o último levantamento da revista americana Forbes. Já vendeu seguros na Alemanha, explorou petróleo na Amazônia, produziu cosméticos, construiu termelétricas, envolveu-se com mineração, tendo sido até expulso da Bolívia. Mas seu forte mesmo é mexer com coisas que não são palpáveis. “O Eike está fazendo fortuna com projetos não construídos, sem geração de caixa real. Está vendendo sonhos, projetos e papéis”, diz um empresário do segmento da mineração que pediu para não ser identificado.

Bill Gates, por exemplo, o segundo do ranking dos bilionários, criou a Microsoft, marca forte que emprega quase 90 mil pessoas em todo o mundo, está presente em 105 países e catapulta receitas acima de US$ 50 bilhões todo ano. Carlos Slim, o bilionário da América Móvil, que tem 125 milhões de clientes, forra um caixa superior a US$ 20 bilhões anualmente. Entre os brasileiros, também há diferença de constituir renda e riqueza. Antônio Ermírio de Moraes (do conglomerado Votorantim), Abílio Diniz (rede Pão de Açúcar) e grupos como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Vale comprovam algumas dessas diferenças.

De bom gosto com mulheres (foi marido da modelo e atriz Luma de Oliveira) e esportista (é campeão mundial de off-shore, uma corrida em lanchas de alta velocidade), a visão edulcorada de um homem venturoso que carrega saiu arranhada ao longo da semana passada, numa operação não bem sucedida de oferta inicial de ações (IPO) na Bovespa. Ele levantou ‘tão somente’ 30% dos quase R$ 10 bi que esperava captar com a estreia da OSX, empresa do ramo de construção naval. “O problema é que a OSX é um projeto, mas queriam vendê-la a preço de concorrentes estrangeiras já estabelecidas”, resume um gestor de ações. A empresa tem, até agora, apenas um navio e uma dívida de R$ 750 milhões. “Fica até difícil falar do preço das ações, porque a OSX ainda não produz nada”, continua o gestor.

A frieza atual no mercado contrasta com a euforia inicial de até há não mais que um mês, depois que a Forbes divulgou sua tradicional lista dos mais ricos do mundo (e, pela primeira vez, pôs um brasileiro no top ten). Muda o olhar sobre esse mineiro de Governador Valadares, nascido há 53 anos. Ele é inteligente? Não há porque duvidar. Brilhante? Para ganhar dinheiro, sem dúvida. É ousado? Sim, ao menos no mundo das finanças. E é bom que Eike esteja no topo? Bem, aí a resposta imediata nunca será a melhor. O homem que multiplicou sua fortuna por quatro em dois anos (de US$ 6,6 bilhões, em 2008, para os atuais US$ 27 bilhões) diz mais sobre nossa economia do que muito tratado acadêmico. “Sua fortuna se constrói não com base na receita de suas empresas, mas principalmente na compra e venda de papéis”, garante o gestor.

O geólogo e investidor em mineração João Carlos Cavalcanti é ex-sócio de Eike. Diz não ter se surpreendido com o resultado ruim do IPO da OSX. “Me associei a ele num projeto no Norte da Bahia”, afirma. “Depois de três anos, percebi que o projeto não andava. Acabei perdendo a área, mas o Eike Batista ainda me deve R$ 8 milhões.”

O Estado de Minas tentou conversar com Eike quinta-feira e sexta-feira, dia da estreia de sua empresa na Bovespa. A assessoria do investidor alegou que a agenda de Eike estava tomada, mas sublinhou o investimento “superior a US$ 1 bilhão” feito pela MMX, empresa de mineração do grupo no estado. Destacou também as minas na região de Serra Azul, com capacidade anual de produção de 8,7 milhões de toneladas de minério de ferro.

Em Conceição do Mato Dentro, cidade da Região Central de Minas, é difícil falar em Eike Batista e não receber de volta impropérios. A população se queixa da devastação ecológica feita no local, famoso pelas cachoeiras. A vereadora Flávia Magalhães reclama da operação realizada entre Eike e a Anglo American. No começo de 2008, a multinacional de capital britânico comprou 49% do Sistema Minas-Rio, controlado na época pela MMX. Em agosto daquele ano, tornou-se proprietária de 100% do projeto. Pagou, no total, US$ 5,5 bilhões – US$ 3 bilhões teriam ido diretamente para o bolso de Eike. Não há, pelas informações conhecidas, ilegalidade na operação de compra e venda. O problema é outro. “Vendeu um projeto para a Anglo e deixou uma confusão enorme para trás”, lamenta Magalhães.

Especialidade do dono da holding EBX é vender projetos não construídos.


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Comentários:
21
  • Bom dia caros amigos, diante desta discursao resolvi expor minha opiniao, sou natural dessa regiao, nasci e me criei em serro MG, realmente esse projeto está um tanto quanto obscuro quanto aos reais beneficios que serao proporcionados a estas cidades, no entanto nao podemos ser demagogos a ponto de questionarmos o desenvolvimento e progresso, pois a maioria dos jovens como eu, sao obrigados a irem para outras cidades(BH SP RJ), para buscarem reais condicoes de crescimento, seja este financeiro e social.Gostaria realmente que fosse possivel a realizacao desse projeto com uma preocupacao com patrimonio historico dessas cidades, pois a maior riqueza que temos sao estes. Precisamos realmente da conscientizacao politica para a captacao de recursos junto a estas gigantes para posterior melhorias de nossas cidades. Enfim é muito importante que busquemos alternativas para conciliarmos o progresso com a preservacao de nosso bem maior, que é a conservacao de nosso patrimonio historico.
    OBS: Moro em BH a 4 anos, mas sou um serrano presente, em breve voltarei com certeza, queremos sempre o melhor.

  • Daniel disse:

    … em tempo, não que as siderúrgicas também devessem ser instaladas em Conceição do Mato Dentro, em plena Serra do Espinhaço, potencializando o caos ambiental que será deixado para a cidade. Apenas poderiam ser instaladas em local apropriado, em Minas Gerais, e parte dos recursos advindos dos impostos, utilizados também para a atenuações dos impactos ambientais gerados naquela cidade. O que seria, apenas, menos gravoso, ou uma forma de maximizar os benefícios diante de tantos malefícios.

  • Daniel disse:

    Além de todos os transtornos ambientais causados pelo empreendimento, Minas Gerais terá um retorno financeiro ínfimo, haja vista que é no Rio de Janeiro, Porto de Açu, onde serão instaladas as siderúrgicas para beneficiar o minério e, portanto, onde se concentrarão a geração de empregos e impostos. Enfim, Minas exporta suas montanhas e a água, e o Rio de Janeiro colhe os maiores dividendos. Impressionam a imcompetência (ou interesses ocultos) do Governo do Estado ao incentivar tamanho absurdo, e a complacência da grande imprensa mineira (o que era de se esperar), que não cria espaço nem incentiva o debate sobre o tema, além de enaltecer as migalhas de emprego e renda que ficarão para Minas Gerais em comparação ao Rio de Janeiro.

  • João Bosco disse:

    Prezados, bom dia.
    Ontem, o Estado de Minas publicou matéria sobre a mineração em CMD, e indico sua leitura a todos e especialmente ao André.
    Quanto à dúvida levantada por ele, se conheço Conceição, a resposta é sim. Conheço e trabalho por minha terra, assim como trabalharam meus avós, e meus pais.
    João Bosco

  • Frederico Dantas disse:

    Caro André.

    A Serra do Cipó alcançou outro patamar turístico com o advento do projeto Estrada Real. Não creio que a única saída para a juventude de Conceição seja se atolar numa mina. Isso é muito tacanho.

  • André Rosa disse:

    Frederico,

    Será que conhecem mesmo? Será que sabem da necessidade daquele povo? Da falta de trabalho, dos jovens que eram obrigados a sair de lá pra tentar a vida em outra cidade?

  • Frederico Dantas disse:

    Bem, André.

    Não parece ser o que pensam os que aqui opinaram e que, de fato, conhecem bem Conceição. Não é o meu caso. Mas penso ser o caso do João Bosco e do próprio Chico.

    Leis ambientais são rígidas. O cumprimento delas, nem tanto.

  • André Rosa disse:

    Tudo bem, gente! Vms proibibir a Mineração em Conceição. E a população continuará trabalhando em supermercados, casas de família, ou então na roça ganhando menos que salário mínimo. Quem fala mal sobre a mineração, é pq vai lá só a passeio. Quem vê pensa que eles vão acabar com as cahoeiras do Tabuleiro, Três Barras, com o Baú. Esse pessoal esquece que as leis ambientais são rígidas. Puro lero lero. o povo de Conceição precisa de trabalho, e a Mineração está trazendo. Hj, quem mora em Conceição não precisa sair de lé pra procurar emprego em BH. Quem é contra a Mineração, não conhece Conceição

  • André Souza disse:

    Ô Arruda, seu sobrenome já levanta suspeita e vc ainda fala uma coisa dessas…rsrs

  • Ricardo Pinto disse:

    É complicado mesmo. O cara tem um mundo de dinheiro, mas não gera emprego e investimento no Brasil.
    Deve estar com a agenda cheia mesmo, ainda mais de políticos a procura de patrocinadores para os seus objetivos na próxima eleição.
    E assim caminha a humanidade. O cara junta tanta grana que até a 20ª geração dele, pode viver sem simplesmente fazer nada..
    E isso tudo á custa do que é público, e deveria no mínimo ter contemplado os moradores destas cidades prejudicadas.

  • Renan Rodrigues disse:

    Arruda, você deve estar escrevendo da prisão em Brasília né?

  • Anderson Palestra disse:

    Olha olha Carlos Arruda. Tô achando que você foi sócio do Eike como boa parte nós ao homenagear sua ex-esposa no banheiro.
    Hahahahahahaaha

  • Carlos Arruda disse:

    Eike Batista???

    Já foi meu sócio.

  • João Bosco disse:

    Meu caro Chico Maia, como você bem sabe, desde o principio estamos alertando sobre os danos irreversíveis que serão causados pelo projeto Minas Rio, ao Bioma do Médio Espinhaço e a toda região de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim. A Anglo Ferrous comprou do Eike o projeto. Como bem disse a Zulmira Furbino, ele é um grande especulador e vendedor de papeis, que pouco se importa de estar destruindo uma paisagem única, acabando com o bem mais precioso que que temos que é a nossa água e sepultando a vocação que temos para o turismo. Como bem disse o prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, o ciclo do ouro nos deixou o Barroco, o minério de ferro nos deixa buraco e barraco.
    E o pior disso tudo, é que o imposto pago pelas mineradoras, ao contrário do petróleo, é sobre o lucro liquido e não sobre o faturamento.
    Ou seja, as mineradoras dão prejuizo quase sempre ou tem lucro ínfimo. Como? Não sei.
    Mas sei que passou da hora de Minas cobrar pela destruição de suas montanhas e transposição de suas águas
    Grande abraço.
    João Bosco

  • lúcio vieira disse:

    Bom eleição ta ai e um jeito interessante de acompanhar os passos futuros de Eike na política e ver quem vai receber dinheiro do mesmo para campanhas pois os vitoriosos com certeza terão prioridade depois de eleitos em defender os interesses deste empresário.

  • Frederico Dantas disse:

    Stefano.

    Não sou a favor do mineroduto do Eike. Aliás, onde está o Eike, tendo a estar contra ele.

    Mas apenas para acrescentar um ponto técnico ao debate, o transporte de minério de ferro bombeado em minerodutos, misturado em ághua (o que recebe o nome de polpa de minério) é um processo bem antigo e até muito eficaz.

    Um mineroduto muito antigo, e creio que ainda o principal do Brasil, sai da Samarco, em Mariana, passa por duas estações intermediárias de bombeamento, na altura da Serra do Caparaó, e desemboca no porto de Ubu, no Espírito Santo. Neste trajeto de descida da serra até o porto, injeta-se ar na tubulação para frear a polpa, caso contra’rio isso desceria igual uma bomba sobre o navio.

    Não sei se o problema é exatamente o mineroduto. Sem ele, a alternativa seria o transporte rodoviário, já que o ferroviário, neste caso, não seria possível. Este transporte rodoviário talvez tenha um impacto ambiental até maior. Creio que o problema real está na extração do minério onde está sendo extraído. O que tinha que ser impedido é a extração. O transporte é consequência.

  • Pergunte ao Roger Agnelli o que ele acha do Eike, os dois se conhecem muito bem!

  • Stefano Venuto disse:

    Esse negócio de mineroduto foi abafado pela mídia? Nunca tinha ouvido falar nisso até ir na Serra do Cipó. O pessoal mais consciente de lá fala com ódio desse sujeito, mas sempre tem um que acha que isso é progresso. Esse sujeito está arrasando com um dos lugares mais bonitos do mundo, e os jornais estão calados. Nunca ouvi na vida de minério ser carregado por água. Um absurdo, um crime que vai nos colocar como co-participes por omissão.

  • Aldemário Filho disse:

    O que me deixa triste é saber que o sujeito nasceu em Minas, mas gasta a sua furtuna em coisas boas e lucrativas no Rio. Tá certo que financiou uma parte do centro cultural da praça da liberdade, porém muito pouco para quem devasta e devastará ainda mais o estado.
    Também seria inocência esperar gratidão e bom senso de um especulador moderno.

  • valcir alves disse:

    chico aqui vence os maos.