Blog do Chico Maia

Acompanhe o Chico

Copa do Mundo pode não ser negócio tão bom assim

Eu trocaria a gastança de fortunas em estádios por melhores estradas e sistema de transporte urbano de qualidade, como o metrô, por exemplo.

Mas a Fifa e os políticos não querem isso. Nem em países cuja população necessita disso como prioridade.

Fazer o quê!?

Enquanto isso vamos ficar atentos às experiências alheias, com seus eventuais prejuízos e equívocos.

Veja que artigo interessante do colunista do Financial Times, transcrito pela Folha de S. Paulo de ontem, no caderno de esportes.

É sobre a África do Sul:

SIMON KUPER

A verdade após 2014


O estímulo econômico prometido por uma Copa nunca chega a se concretizar


ACONTECEU há cerca de um mês na África do Sul e forneceu um presságio de como terminarão a Copa–2014 e a Olimpíada-2016, no Brasil. Num sábado gelado em Johannesburgo, dezenas de autoridades brasileiras estavam em um centro de convenções chique, para ouvir representantes sul-africanos explicar como é, realmente, sediar uma Copa -nas palavras de um dos sul-africanos, para ouvir sobre “alguns dos cortes e contusões que sofremos”.
Os brasileiros ouviram coisas pouco animadoras. Talvez a mais desanimadora tenha vindo de uma senhora (cujo nome não citarei), alta funcionária de Gauteng, a Província onde fica Johannesburgo. Ela contou que, no início de 2009, analisou o impulso econômico projetado que a África do Sul vinha dizendo a seus cidadãos que a Copa traria ao país. Ela olhou e não encontrou quase nada.
A África do Sul vinha dizendo (como está dizendo o Brasil agora) que o Mundial aumentaria o turismo, geraria empregos, levaria à construção de infraestrutura útil e assim por diante. O que ela percebeu em 2009 foi que: “[A Copa] não nos traria os benefícios que tínhamos dito ao país que nos traria”. É verdade que o torneio melhoraria um pouco o transporte público de Johannesburgo, mas “não tanto quanto pensávamos”.
E assim, mais de um ano antes do pontapé inicial, Gauteng deixou de lado as esperanças de um reforço econômico. Em vez disso, passou a enxergar a Copa do Mundo como exercício de “branding” -“praticamente um comercial de 30 dias de duração de Gauteng”. E isso foi tudo o que ela mostrou ser, disse a senhora aos brasileiros.
Perguntei a ela por que todo o tão divulgado reforço econômico não chegara a acontecer. Novamente ela foi franca. “Se você analisar as pesquisas sobre megaeventos, todas as conclusões são que os retornos econômicos são altamente inflados por pessoas que esperam lucrar com os eventos.” É por isso que consultorias contratadas pelo governo brasileiro para “estimar” (ou adivinhar) o reforço econômico que o Brasil terá com sua Copa e sua Olimpíada escrevem relatórios tão otimistas.
A história contada por essa senhora é a história de quase todas as Copas, das Olimpíadas e dos estádios construídos pelos contribuintes: o estímulo econômico prometido nunca chega a se concretizar, como Stefan Szymanski e eu mostramos em nosso livro “Soccernomics”. O Brasil vai descobrir a mesma verdade depois de 2014.


SIMON KUPER é colunista do jornal britânico “Financial Times” e coautor do livro “Soccernomics”


» Comentar

Comentários:
10
  • ivan disse:

    O Brasil não poderia nesta geração estar patrocinando uma copa do mundo e uma olimpíada. É só tomarmos por base a roubalheira que foi o pan americano no RJ. Agora imaginem: falam-se em bilhões de reais para realizem estes dois eventos. Se realmente forem investir esta fortuna não seria mais sensato (coisa que nunca existiu neste país)investirmos nas necessidades tão gritantes que temos em nosso cotidiano? O que veremos a partir de agora é um deplorável espetaculo de corrupção que com certeza nossos bisnetos pagarão.

  • J.B.CRUZ disse:

    Para não ficar com raiva, endosso o comentário de FREDERICO DANTAS, disse tudo em poucas palavras..Mais uma vez, frio e realista;;;;PARABÉNS!!

  • Alisson Sol disse:

    Eu, que torci até o último minuto, para que o Brasil não conseguisse nem a Copa e nem a Olímpiada, posso dizer o seguinte: depois que assumiu o compromisso, é bola para frente. Vão existir muitos problemas, e todos serão resolvidos.

    Em relação à pergunta do Bertoldo: não dá. Eu fui ao jogo de reinauguração de Wembley em 2007. Você não consegue adaptar um estádio antigo e fazer aquilo. Não se aceita mais banheiro sujo, assento mal-marcado e desconfortável, espaço para a imprensa improvisado, etc. O custo de derrubar um estádio velho e reconstruir é mais barato do que tentar “adaptar” o já existente. Sem falar que é também uma questão de segurança e higiene. Li, não lembro onde, que parte do que causou um acidente no estádio da Fonte Nova foi corrosão do concreto por urina na arquibancada… Seria até cômico, não fosse realmente trágico!

  • Bertoldo disse:

    Meu caro Chico Maia, não entendo, será que com algumas melhorias, muitos estádios brasileiros não teriam condições de abrigar jogos de uma copa do mundo? A grana que vai gastar pra derrubar estádios e reconstruí-los, não seria melhor gastar em infraestrutura?

  • Frederico Dantas disse:

    Concordo totalmente com seu preâmbulo da notícia, Chico.

    Aliás, tenho sido até chato quando me expresso, principalmente aqui no blog, contra a gastança de dinheiro público nestas obras de apoio à Copa 2014, que já estão acontencendo, e também aos gastos – astronômicos, seguramente – que ocorrerão até 2016.

    Que a iniciativa privada, que tanta alardeia estes retornos mirabolantes, invista e tenha o retorno, deixando para o poder público apenas aquilo que constitucionalmente seria sua obrigação.

    Mas somos um povo pacato por natureza. A farra vai rolar solta, todo mundo já sabe e nada vai ser feito para impedir.

  • Clayton Batista Coelho ( Claytinho - Só Boleiro - Nova Vista/BH ) disse:

    Ops, esbarrei numa tecla aqui.. rsrs Mas continuando…

    Tem uns desses “espertões” que o capeta virá buscar pessoalmente… rsrs

  • Clayton Batista Coelho ( Claytinho - Só Boleiro - Nova Vista/BH ) disse:

    É… Pelo visto muitos vão enriquecer até a sua 5ª geração e nós pagaremos eternamente por isso…

    Mas deixa… Pelo menos nós podemos colocar nossa cabeça no travesseiro e dormir em paz. Já esses que se julgam os “espertões” com certeza pagarão de uma forma ou de outra.

    Tem uns, q

  • Geovany Altissimo disse:

    Entendo a preocupação de todo mundo de bem. Mas vamos ficar amarrados por causa da corrupção e desperdicio de dinheiro publico neste pais? Hoje entendo que o Brasil é o pais mais importante da America Latina e o país não pode parar com medo de fazer um mega evento, por receio dessa corja de corruptos e bandidos. Vamos acreditar em nós mesmos.

  • EDUARDO BH disse:

    Esta é a realidade que nos espera: pesadas contas para pagar e prestações de contas que nunca fecham. Sonho, mas não acredito em um bom legado da Copa para as nossas cidades.

  • Rodrigo disse:

    Chico, qdo uns dez turistas estrangeiros morrerem num acidente de automóvel, em 2013 ou 2014, que pode ser na 381, saindo de BH para conhecer ou a serra ou o litoral capixaba, ou na 040, no viaduto das almas, se o outro não for inaugurado, ou mesmo debaixo de algum caminhão de minério; ou indo pro sul, numa das curvas na serra de igarapé, e o mundo cair de pau em cima do Brasil, pode ser que se tente consertar alguma coisa…